sexta-feira, 7 de junho de 2013

Noticia

Cresce número de mão de obra haitiana no Brasil
              
Em novembro de 2012, o haitiano Wisly Setembre cruzou o Brasil em um ônibus com emprego garantido no Sul do País.
Ele e mais nove compatriotas saíram da pequena cidade de Brasileia, no Acre, para trabalhar em Indianópolis, no Paraná (a 724 quilômetros de Curitiba), como apanhadores de aves na empresa GTFoods, dona da marca Frangos Canção.
Aos 25 anos, Wisly deixou no Haiti a mulher, quatro irmãos, pai e mãe para tentar a sorte no mercado de trabalho brasileiro. “Quero trazer todos para morar aqui”, conta o ex-pedreiro, satisfeito com o novo emprego e prestes a virar tradutor oficial da empresa, auxiliando a comunicação do departamento de recursos humanos na contratação dos estrangeiros, que falam francês.
Wisly divide uma casa com oito haitianos, que rateiam os gastos com aluguel, água, luz e alimentação. Todos eles, garante, sonham em buscar suas famílias e reconstruir a vida na tranquila cidade paranaense, de 4,3 mil habitantes (segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
“A região vive uma escassez de mão de obra. As vagas não eram preenchidas pela população local, e vimos que a adesão dos haitianos poderia suprir esta defasagem, aliando a iniciativa a uma causa humanitária”, explica o coordenador de RH da GTFoods, Adenilson Xavier, que acompanhou a seleção dos trabalhadores, por meio de uma ONG voltada a imigrantes no Brasil.
A ideia deu tão certo que a empresa lotou mais um ônibus no Acre com 43 haitianos, em abril deste ano. Recém-contratado, o grupo também passou a colher aves para o abatimento. “Eles mostraram ter disciplina, comprometimento e dedicação”, relata Xavier.

Foi o que motivou a companhia a enviar um recrutador ao abrigo de haitianos, em Brasileia – onde ao menos 1.300 pessoas aguardavam regularizar sua situação no País em abril –, para selecionar mais 220 funcionários haitianos, em maio. Esta semana, mais 130 começaram a trabalhar no frigorífico da empresa, incluindo mulheres, em diversas funções.
“Gostaríamos de viabilizar a vinda dos familiares deles para cá, mas eles precisam adquirir um equilíbrio financeiro antes de trazê-los”, explica o coordenador de RH da GTFoods.

Fluxo crescente
Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) apontam que o fenômeno da entrada em massa de haitianos no Brasil, legalmente, é recente: entre 2008 e 2010, apenas 20 vistos de trabalho foram emitidos. Já em 2011, ano seguinte ao terremoto que devastou o país caribenho, esse número subiu para 720.

No ano passado, a quantidade de permissões de trabalho saltou para 4.860, colocando o Haiti como o terceiro país com maior fluxo de estrangeiros com visto ao Brasil, atrás apenas de Estados Unidos e Filipinas. O aumento coincide com o período posterior ao desastre sísmico, que deixou ao menos 300 mil desabrigados na ilha.

Entre 2010 e o início do ano passado, pelo menos 4 mil haitianos acessaram o Brasil por países como Peru e Equador, chegando aos estados do Amazonas, Rondônia e Acre, segundo estimativas do Governo Federal.

EMISSÃO DE VISTOS
Número de permissões de trabalho concedidas a haitianos no Brasil entre 2008 e 2012
De lá para cá, a lista de empresas interessadas em contratar haitianos é crescente. Em Porto Velho, capital de Rondônia, onde a busca destas pessoas por trabalho é intensa, ao menos 20 empresas fizeram contratações entre 2012 e março de 2013. Gigantes como Odebrecht, Camargo Corrêa e Toshiba do Brasil estão na lista, segundo dados da Secretaria de Assistência Social de Rondônia.
São Paulo foi o estado que mais contratou haitianos (215) encaminhados pelo órgão, do ano passado até o momento. Em seguida, Rio Grande do Sul (156), Santa Catarina (152) e Rio de Janeiro (134) lideraram as contratações.

Em abril, uma resolução do Conselho Nacional de Imigração determinou o fim do limite de 1200 vistos humanitários anuais concedidos em Porto Príncipe, capital haitiana, ao Brasil. A nova regra pode significar um número ainda maior de estrangeiros autorizados a ingressar no País a partir do segundo semestre deste ano.

Prontos para trabalhar
Entre fevereiro de 2012 e janeiro de 2013, o Centro Pastoral de Mediação do Migrante – coordenado pela ONG Missão Paz São Paulo –, encaminhou 740 imigrantes, a maior parte do Haiti, para o mercado de trabalho local. No período, 458 empresas ofertaram vagas aos estrangeiros.

A dificuldade em falar português não é barreira no momento da entrevista de emprego. Os candidatos se viram como podem para demonstrar interesse e capacidade para ocupar as vagas, segundo a  assistente social Ana Paula Caffeu, que coordena os trabalhos do núcleo.

A ONG recebeu, entre janeiro e abril deste ano, 336 telefonemas com ofertas de trabalho para imigrantes em São Paulo, em empresas como restaurantes, construtoras, hospitais e até haras.
“Há pessoas com um grau de qualificação alto, mas nem por isso deixam de se submeter a tarefas de chão de fábrica e de ajudantes de serviços gerais de todo nível. Se elas têm um salário de pelo menos R$ 1 mil líquido, moradia e alimentação, fazem como se fosse o melhor emprego do planeta”, relata Ana Paula.

O haitiano Robson Jean Baptiste, de 27 anos, era um dos candidatos de um processo seletivo para vagas em uma empresa de distribuição de gás, no fim de maio, intermediado pela Missão. Ele deixou para trás o sonho de cursar uma faculdade no Haiti para apostar no Brasil. “Aqui tem mais oportunidades. No Haiti estava difícil”, relata o imigrante, que chegou ao País em abril de 2012 e espera conseguir, brevemente, uma vaga com carteira assinada.
* Do iG, colaborou Vitor Sorano.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Noticia 03-06-2013

3/6/2013 às 10h46 (Atualizado em 3/6/2013 às 10h54)

Brasil pede, e vizinhos barram haitianos

Esforço regional tem o objetivo de frear a entrada dessa população no País   
    Agência Estado
  •    


Países estão sendo usados como corredores até fronteira brasileiraJoão Fellet/BBC Brasil
Haitianos que tentam chegar ao Brasil estão sendo deportados de volta ao Caribe e detidos em países vizinhos, num esforço regional para frear a entrada dessa população no País.
Dados obtidos pelo Estado mostram que, pressionados pelo governo, países que estão sendo usados como corredores até a fronteira brasileira aumentaram a deportação e prisão de haitianos.
Já chega a mil o número haitianos deportados e detidos nas fronteiras com o Brasil nos últimos meses. Entidades internacionais e países da Europa apelam para que o País abra suas fronteiras a essa população.

Conheça a vida precária dos estrangeiros nos abrigos improvisados em Brasileia, no Acre
Leia mais notícias de Brasil

No mês passado, o primeiro-ministro do Haiti, Laurent Lamonthe, visitou o Brasil na esperança de atrair investimentos para o país mais pobre do Ocidente.

A diplomacia brasileira, porém, vem tentando convencer países da região amazônica e mesmo a República Dominicana — que divide com o Haiti a Ilha Hispaniola — a atuar de forma mais dura diante do grande fluxo de haitianos e dos esquemas montados por máfias para levar esses imigrantes ao Brasil, com documentos falsos e promessas de emprego.

O Acre, Estado que faz fronteira com parte desses países, queixa-se de falta de estrutura para receber os haitianos.

Alguns resultados dessa pressão começam a aparecer. Segundo dados do Departamento de Imigração da República Dominicana, 320 haitianos foram deportados pelo próprio governo brasileiro e países vizinhos em apenas dois meses.

De janeiro a abril, o Peru deteve 679 imigrantes ilegais com documentos falsos e estima em 2,1 mil o número de haitianos que já teriam conseguido entrar no Brasil. Até o início do ano, esse número era praticamente zero.

A rota mais comumente usada pelos haitianos que deixam seu país rumo ao Brasil começa na República Dominicana, país vizinho de realidade financeira e social oposta. De lá, embarcam para o Equador, cruzam a fronteira com o Peru e desembarcam no Brasil.

Ajuda
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Kristalina Georgieva, espécie de superministra da Europa para a Cooperação Internacional e Ajuda Humanitária, defendeu que países latino-americanos abram suas portas aos imigrantes do Haiti.

— Gostaria de pedir aos países da região que recebessem esses haitianos, inclusive porque parte do salário deles será destinado justamente para suas famílias em seu país de origem, ajudando na reconstrução do Haiti.

O Brasil, por sua vez, também pediu a ajuda da OIM (Organização Internacional de Migrações), que revelará neste mês os primeiros resultados de um levantamento da situação migratória dos haitianos no Brasil.

Dois pontos estão sendo tratados no estudo: o primeiro é sobre a integração dos haitianos na sociedade e na economia brasileira. O outro é a rota usada pelos imigrantes para chegar ao Brasil, além dos riscos e desafios que esses haitianos encontram no caminho.

domingo, 2 de junho de 2013

DIA 13 DE MAIO DE 2013

Corpo do haitiano vítima de acidente em Navegantes está no IML de Blumenau

Ministério do Trabalho investigará as causas do acidente

     
imgAnderson BernardesVale        

Ainda está no Instituto Médico Legal (IML) de Blumenau, o corpo do haitiano que morreu na última sexta-feira (10), depois de sofrer um acidente de trabalho numa empresa de pesca de navegantes. Melquiissedek Maturin, 25 anos, trabalhava como auxiliar de serviços gerais na indústria. Ele teve 70% do corpo queimado na madrugada da quarta-feira (8). Pelos menos, mais quatro pessoas ficaram feridas.

Duas pessoas ainda estão internadas em um hospital de Blumenau.

Reprodução

Nove trabalhadores ficaram feridos no acidente

As causas do acidente vão ser investigadas pelo Ministério do Trabalho, que também vai averiguar se os funcionários estavam treinados e se eram habilitados para manusear os equipamentos. De acordo com os bombeiros de Navegantes, não houve indícios de incêndio, nem de explosão.  O acidente estaria diretamente ligado a uma falha na operação da caldeira. O corpo do haitiano aguarda liberação de documentos para ser levado ao Haiti.

Publicado em 13/05/13-11:41 por: Anderson Bernardes.

Jornal Zero Hora - Geral - 01-06-2013.

  • Zero Hora
  • Geral

  • Recomeço em terra distante01/06/2013 | 15h09

    Haitianos tentam reconstruir a vida no Rio Grande do Sul depois de terremoto

    Em busca de oportunidade, mais de 400 caribenhos conseguiram emprego formal no Estado

     
    Haitianos tentam reconstruir a vida no Rio Grande do Sul depois de terremoto Lidiane Mallmann/Especial
    Dameus se diz bem ambientado aos costumes gaúchos, como o chimarrão Foto: Lidiane Mallmann /
     
    Especial
    Vanessa Kannenberg* | Encantado
    Uma nova chance de recomeçar. Isso era tudo que o pedreiro Jean Baptiste Dameus buscava após ter perdido a casa e familiares no terremoto que devastou o seu país, em 2010. Ele escolheu o Brasil como destino, assim como pelo menos 9 mil haitianos, para reconstruir a vida. O desastre no Haiti começa a modificar o perfil dos operários buscados pelos recrutadores e até as comunidades gaúchas nas quais centenas de imigrantes do país caribenho passaram a viver desde o ano passado. O primeiro grupo, de 14 trabalhadores, desembarcou no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, em janeiro de 2012, trazido pela indústria de massas Romena, de Gravataí.

    A iniciativa chamou a atenção de outros empresários, que passaram a ver nos haitianos uma solução para a falta de mão de obra. Após viajar por três meses, Dameus chegou ao Acre. Na cidade de Brasileia, passou fome, sofreu com a falta de abrigo, mas não desistiu. Depois de alguns dias, recebeu a visita de recrutadores e foi um entre 416 haitianos que ganharam carteira de trabalho e conseguiram emprego no Rio Grande do Sul.

    Dameus faz parte da primeira leva de 50 haitianos contratados em setembro de 2012 pela Dália Alimentos, com sede em Encantado. Atualmente, são mais de 120 haitianos vivendo no município de 20,5 mil habitantes. A empresa fez um segundo recrutamento no início desse ano. O salário equivale ao piso da categoria, de R$ 830,50. A Dália ainda oferece seis meses de estada em um hotel da cidade, três refeições diárias no refeitório da empresa e transporte de ida e volta.

    Além das condições de trabalho oferecidas, houve uma onda de solidariedade. Por mobilização da comunidade, foram recolhidas roupas e moradores se dirigiram até a fábrica para conhecê-los. A paróquia também oferece gratuitamente aulas de português semanais, já que a maioria dos imigrantes fala apenas o crioulo (língua nativa do Haiti).
    Com português quase fluente, Dameus e outros três amigos alugaram um apartamento no centro da cidade O local tem poucos móveis — o que existe foi arrecadado pela paróquia.

    — Sou muito feliz. Assim que juntar um pouco mais de dinheiro, quero trazer minha família para morar aqui — afirma o pedreiro.

    Adaptado, Dameus conta que um vizinho o presenteou com cuia e bomba e o ensinou a fazer chimarrão:

    — Adoro sentar no final do dia em frente à TV e tomar chimarrão.

    Haitianos que moram em Marau também pegaram o gosto pelo mate e já se dizem adaptados ao Rio Grande do Sul, apesar do frio no inverno. Os caribenhos começaram a chegar ao município de 36,3 mil habitantes no início do ano passado. Os pioneiros foram acolhidos em uma empresa de estruturas metálicas. Para ajudar na comunicação com os empregadores, o frei brasileiro Carlos Rockenbach trabalhou como intérprete dos haitianos:

    — Estavam perdidos, se comunicavam por gestos com os chefes. Passei alguns dias ajudando eles.

    Quando o frei haitiano St-Ange Bastien, 35 anos, desembarcou em Marau, em abril de 2012, os conterrâneos puderam contar com mais um intérprete. Desde então, outros grupos de haitianos se instalaram na cidade, para trabalhar nas indústrias ou na construção civil. Mesmo com a barreira da língua, o frei conta que a maior dificuldade dos conterrâneos é ficar longe da família. Muitos deixaram mulher e filhos no Haiti para trabalhar no Brasil.

    É o caso de Oscar Scheli, 25 anos, que está há um ano em Marau. Ele trabalha em uma indústria e divide um pequeno apartamento térreo com outros seis haitianos. Ex-morador de Porto Príncipe, diz que sente muita falta da mulher e do filho de dois anos:

    — Eles estão há mais de seis meses esperando visto para vir ao Brasil. Quero que venham morar comigo.

    Solteiro, o colega St-Patrick Adido, 24 anos, há quatro meses em Marau, afirma ter um problema maior:

    — Difícil mesmo é enfrentar o frio.
    *Colaborou Fernanda da Costa (Marau)
    Dameus e três amigos alugaram apartamento em Encantado
    Foto: Lidiane Mallmann, Especial

    Empresário faz elogios a estrangeiros

    Um levantamento da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, feito no fim do ano passado, confirmou que, pelo menos, 416 haitianos foram empregados em fábricas, transportadoras, construtoras, indústria alimentícia e outros setores gaúchos. No entanto, o número deve ser maior, porque, ao receber a carteira de trabalho e documentos brasileiros, os estrangeiros podem circular livremente pelo país. Dados da Polícia Federal indicam que, até maio, pelo menos 676 haitianos chegaram ao Rio Grande do Sul.

    No Estado, muitas empresas evitam falar do assunto. Nas ruas de Encantado, moradores deram indícios das causas do receio dos empresários.

    — Acho muito legal ajudar esse povo sofrido, mas tenho medo de que vão tirar o emprego dos meus netos — diz a aposentada Lucy Tarter, 82 anos.

    Já a comerciante Marta Villa, 46 anos, afirma ter ouvido boatos de demissões de antigos funcionários em favor dos estrangeiros. O diretor-administrativo da Massas Romena, André Rosa, afirma que a produção engrenou após a contratação dos haitianos:

    — Havia muitas vagas abertas e eles as ocuparam muito bem. São extremamente pontuais, educados e dedicados.

    A experiência motivou a empresa de Gravataí a contratar mais trabalhadores — hoje, são 31 haitianos. Entre eles, quatro operários que trabalhavam em condições irregulares em Osório.

    Saudade de casa e baixa remuneração
    Depois de visitar trabalhadores haitianos em mais de 10 cidades gaúchas, o pesquisador do Cibai Migrações Jandir Zamberlan avalia que os imigrantes têm boa qualidade de vida, mas enfrentam dois problemas: a saudade da família e a baixa remuneração — salários geralmente inferiores a R$ 1 mil:

    — O referencial deles de imigração era os Estados Unidos. Aqui é diferente, há mais solidariedade e acolhimento, mas na questão financeira, se sentem frustrados. Não imaginavam que seria esse valor que o mercado pagaria para eles — afirma Zamberlan.

    Entre as dificuldades dos estrangeiros, segundo o pesquisador, está a compreensão da dinâmica econômica brasileira e das leis trabalhistas. De acordo com a presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação de Encantado, Maria Inês Lorenzi Vian, os trabalhadores custaram a decifrar os descontos do contracheque e estranharam que não se trabalhava nos feriados.

    — Eles não querem nada que desconte do salário — afirma Maria.

    Além disso, as dificuldades também passam pela convivência. Como o ponto inicial de comunicação é o idioma, a maioria dos haitianos acaba convivendo apenas entre eles.

    — Eles falam entre si muito alto e em crioulo, que ninguém aqui entende. Já vi gente que achava que eles estavam brigando, mas a gente que conhece sabe que é o normal deles — diz Maria.

    Boa imagem do país ajuda na escolha
    Os haitianos têm bons motivos para escolher o Brasil como destino, além do crescimento econômico e do avanço na qualidade de vida no país. De acordo com a coordenadora do curso de Relações Internacionais da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Mariana Dalalana Corbellini, um dos propulsores é a percepção positiva sobre o Brasil, principalmente devido à atuação dos militares em missões de paz da Organização da Nações Unidos (ONU). No entanto, considera que, com o aumento da entrada de estrangeiros, o país precisa repensar sua política migratória.

    — Uma das dificuldades que precisam ser consideradas diz respeito justamente à integração desses estrangeiros à sociedade e à economia brasileira, mesmo aqueles que chegam aqui com diploma de ensino superior encontram obstáculos para atuar em sua área de formação — afirma Mariana.
    No auge da entrada ilegal de haitianos no Brasil, em janeiro de 2012, o governo impôs limite de cem vistos por mês, na tentativa de conter a entrada irregular, geralmente promovida por coiotes. Ainda assim, os haitianos continuaram chegando pelas fronteiras do norte do país.

    O Acre chegou a decretar estado de emergência social em dois municípios. No fim de abril, o governo brasileiro extinguiu o limite de concessão de vistos e ampliou os postos de emissão do documento. A situação no Acre foi considerada "estabilizada".

    Veja onde estão os 416 trabalhadores haitianos registrados
    O êxodo
    * Com mais de 10 milhões de habitantes, o Haiti é o país mais pobre da América Latina. Cerca de 60% da população é subnutrida e mais da metade vive abaixo da linha de pobreza (menos de US$ 1,25 dólar por dia).
    * Em janeiro de 2010, um terremoto provocou destruição e matou mais de 220 mil pessoas. O desastre forçou a saída de haitianos. Milhares se refugiaram no Brasil.
     

    quinta-feira, 30 de maio de 2013

    Papa Francisco

    segunda-feira, 27 de maio de 2013

    Papa deplora tráfico de seres humanos e pede compreensão com os migrantes

    Francisco parabenizou ações de proteção aos migrantes e refugiados

    O Papa Francisco discursou durante a vigésima plenária do Pontifício Conselho Para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes que transcorreu no Vaticano, com a presença de dom Alessandro Ruffinoni, religioso da Congregação Scalabriniana e membro do pontifício conselho.

    O papa iniciou falando sobre o tráfico de pessoas e disse ser uma atividade "ignóbil, uma vergonha para as nossas sociedades que se dizem civilizadas", apelando aos criminosos que façam um sério exame de consciência consigo mesmo e diante de Deus.

    Francisco também pediu mais bondade e compreensão com os migrantes e refugiados e às comunidades eclesiais uma atenção diferenciada às pessoas que estão migrantes.

    Reportagem Roseli Lara da Webradio Migrantes

    quarta-feira, 29 de maio de 2013

    A vida...

    Haitianos constroem o caminho da Copa


    Universitários, professores e poliglotas atuam nas obras do complexo viário do Itaquerão


    26 de maio de 2013 | 2h 01

    CAIO DO VALLE - O Estado de S.Paulo


    Eles vieram da destruição para construir São Paulo e, de certa forma, reconstruir as próprias vidas. São professores, universitários e até atletas que falam duas, três, quatro línguas e trabalham como operários, concretando lajes e chumbando armações de ferro por salários de R$ 1,2 mil, em média. Estão a milhares de quilômetros de seu país, o Haiti, na América Central, e a poucos passos da arena que vai simbolizar a alma esportiva da capital na Copa do Mundo de 2014, o estádio do Corinthians, o Itaquerão, na zona leste.

    Desde o fim do ano passado, o consórcio que toca as obras do novo complexo viário no entorno da futura arena têm empregado mão de obra haitiana. Ávidos para reerguer lares e famílias, destroçados pelo terremoto que atingiu o país caribenho em janeiro de 2010, matando mais de 200 mil pessoas, esses trabalhadores - e também trabalhadoras - buscam no Brasil as oportunidades que ainda não encontraram em sua terra natal.

    Sergo Pierre, de 35 anos, deixou para trás a mãe, três irmãos e a faculdade de Direito - já havia cursado três anos e sete meses da graduação - para tentar a vida em São Paulo, sem ideia do que o esperava. "Não conhecia ninguém aqui, mas sempre ouvi falar da cidade, uma das maiores do mundo."

    Há um ano, veio atrás do que a metrópole poderia oferecer. Primeiro, ganhou a vida numa cooperativa. Depois, como encanador. Faz cinco meses que trabalha como pedreiro, com carteira assinada e os devidos direitos trabalhistas, na construção de viadutos, túnel e alças de acesso que começam a mudar as feições de Itaquera.

    No total, são 1,1 mil empregados - 50 vindos do Haiti, entre eles duas mulheres - empenhados no projeto de R$ 257 milhões, previsto para ser entregue em março de 2014, três meses antes do Mundial.

    O grupo de estrangeiros, porém, cresce pouco a pouco. Por isso, cada vez mais uma das línguas que se ouvem perto do Itaquerão é o crioulo. E o francês, obviamente. É que esses são os dois idiomas oficiais daquele país, onde também se aprende inglês e espanhol na escola. Quem conta é Gamisson Francisque, de 25 anos, que já arranha o português. "Eu estudava Engenharia Mecânica, estava no terceiro ano quando vim. Ainda quero retomar os meus estudos", diz.

    Assim como ele, seus colegas de trator, alicate e betoneira também sonham em voltar para as atividades originais. O caso mais emblemático é o de Samuel Alcine, de 23 anos. Hoje, o jovem, ex-jogador da seleção de futebol do Haiti, opera uma britadeira. "É complicado acompanhar a construção do estádio do Corinthians tão de perto e não sonhar jogar ali um dia", afirma Alcine.

    A distância. A saudade, uma palavra tão portuguesa, rapidamente se incorporou ao vocabulário dos estrangeiros. Luckner Honorat, de 34 anos, que era professor em seu país, sente falta da família. Sua mãe morreu em dezembro. Logo depois, ele optou pelo Brasil. Pierre, por sua vez, tem de dividir a saudade entre o Haiti e a França, onde trabalha sua mulher, a quem não vê há cerca de três anos.

    A administradora da obra, Cassia Waleska Pereira, de 49 anos, tenta, de alguma forma, amenizar a nostalgia dos trabalhadores. Ela é uma espécie de mãe para os haitianos que chegam ao Consórcio Viário Zona Leste. Desde a primeira "turma", formada há cinco meses, é responsável por assegurar que os novos profissionais, todos com carteira assinada, se entrosem à equipe. "O que a gente sente é que eles precisam de trabalho nem que for só para comer."

    Segundo ela, existe uma dificuldade para a contratação de mão de obra nacional. Por isso, a absorção
    de haitianos.

    Com o tempo, o envolvimento foi se tornando maior e ela já vai a festas dos funcionários - a maioria deles mora em apartamentos compartilhados na região central. O carinho se tornou recíproco. O dia de seu aniversário, 20 de março, coincidiu com o do nascimento da filha de um dos haitianos, o carpinteiro Kedner Jean Baptiste, de 25 anos, que decidiu batizar a rebenta com o nome de Cássia.

    quinta-feira, 23 de maio de 2013

    Noticia

    21 de Maio de 2013 atualizado às 21h29

    Brasil e Haiti reiteram esforços para combater tráfico de pessoas

    Haitianos são trazidos ao Brasil por intermediários, os chamados coiotes


    O primeiro-ministro do Haiti, Laurent Lamothe, e o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, reiteraram nesta terça-feira que há um esforço coletivo para combater o tráfico de pessoas e a ação dos intermediários, chamados de coiotes, na migração de haitianos. Além de uma campanha educativa, está em curso uma série de orientações à população haitiana sobre as vantagens de percorrer o caminho legal para migrar.

    "Teremos um Conselho Superior da Polícia que vai atuar também na questão da migração. Nós convidamos a Embaixada do Brasil no Haiti para conhecer o nosso plano de ação e estamos trabalhando com a sensibilização, que tenta desencorajar as redes de coiotes, favorecendo a migração legal", disse Lamothe. "Os haitianos são boas pessoas e estão à procura de trabalho quando migram."

    O primeiro-ministro do Haiti está no Brasil para uma série de reuniões com autoridades e empresários brasileiros, em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em discussão, projetos de parcerias nas áreas de educação, tecnologia, ciência, infraestrutura e saúde, além de energia, segurança alimentar, inclusão social e biocombustíveis.

    Segundo Lamothe, o Haiti superou várias dificuldades, oriundas da destruição causada pelo terremoto de janeiro de 2010, mas ainda necessita de ajudar internacional. De acordo com ele, é fundamental o apoio da comunidade estrangeira nas áreas de educação, reconstrução física, combate à pobreza extrema e produção energética. "Sempre respeitando a soberania", disse.

    Em relação à retirada gradual das tropas estrangeiras da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), Lamothe confirmou que deve ser obedecido o cronograma fixado até 2016. Paralelamente, será reforçada a polícia nacional, cuja formação está em curso. "É necessário trabalhar de forma mais dinâmica. Com a cooperação bilateral, acreditamos que poderemos dinamizar, e no dia em que as tropas se retirarem, estaremos 100% prontos", disse.

    Lamothe se reuniu também com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para tratar de acordos de cooperação técnica para a eletrificação no Haiti. O governo do Brasil desenvolve vários projetos de cooperação com o Haiti. No caso da Minustah, a perspectiva, segundo cronograma da Organização das Nações Unidas (ONU), é retirar gradualmente até 2016 todos os militares estrangeiros que estão no país. A ideia é fortalecer as forças de segurança locais.

    É esperada para o fim do mês a inauguração do primeiro hospital comunitário de referência, construído pela parceria dos governos do Brasil, de Cuba e do Haiti, em Bons Repos, na região metropolitana de Porto Príncipe, capital haitiana. No total, serão construídas três unidades hospitalares, que ficarão nas regiões de Bons Repos, Beudet e Carrefour.

    Cada hospital comunitário contará com atendimento materno-infantil - com salas de parto e cesariana, além de atendimento ao recém-nascido -, leitos de unidade de terapia intensiva (UTI), clínica médica, pediatria, ginecologia, quatro salas para cirurgias, atendimento ambulatorial, laboratório para exames básicos de urgência e serviço de radiologia e ultrassonografia.

    Agência Brasil