terça-feira, 27 de maio de 2014

Informacao disponivel no Google. 26 de maio de 2014.

Por que o Haiti está aqui?

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Haitianos rumo ao sudeste brasileiro (Fonte: Agência de Notícias do Acre)
Que rotas trazem haitianos ao Brasil. Por que veem país como esperança. Como protegê-los do descaso de governos e superexploração por empresários
 
Por Laís Azeredo Alves*, no Gusmão
A vinda de centenas de haitianos do Acre para São Paulo, nas últimas semanas, gerou tensões sobre a questão da imigração na cidade e no país. As discussões envolvendo os políticos dos dois estados com acusações de racismo e irresponsabilidade não serviram para uma compreensão plena da situação, muito menos para sua solução. O governo federal, por sua vez, permanece concedendo vistos humanitários para os haitianos que chegam, mesmo na ausência de uma política nacional para as migrações que reflita as necessidades atuais.
 
Em janeiro de 2010, um terremoto de sete graus atingiu a região de Porto Príncipe, capital do país mais pobre das Américas. A tragédia levou à morte mais de 300 mil pessoas e forçou outras 1,5 milhão ao deslocamento nacional e internacional.  Em 2012, um furacão atingiu novamente o Haiti, causando mais destruição e miséria em um país cuja vulnerabilidade ambiental é reforçada pela frágil economia, pela política instável e por números de pobreza absurdos.
 
O Haiti tem sua história marcada pela violência nas lutas pela independência e pela vitória de ter sido o primeiro país do continente americano a alcançá-la, em 1804, pelas mãos de líderes negros. A independência, todavia, não cessou outros inúmeros problemas enfrentados pelo país, como a instabilidade política e a luta de grupos pelo poder. Assim, a situação econômica como país periférico tampouco foi modificada.
 
Entre 1915 e 1934, os Estados Unidos intervieram militarmente para defender seus interesses. Nos anos seguintes, a instabilidade política, com a disputa política entre diferentes grupos que gerava violência, legitimou mais intervenções externas no país. Foram totalizadas cinco intervenções internacionais sob os auspícios da Organização das Nações Unida (ONU) só na década de 1990[1].
 
Desde 2004, o Brasil lidera uma força multinacional da ONU no país, denominada Minustah – Mission des Nations Unies pour la Stabilization en Haiti (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti). A função da Minustah é de ajudar na reconstrução e na estabilização do Haiti, por meio da reestruturação e reforma da polícia haitiana, do auxílio no
Programa de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração, da restauração do Estado de direito e do restabelecimento da segurança pública no país. Além disso, à missão cabe ainda a proteção aos civis, ao staff da ONU, o apoio aos processos políticos e a garantia do cumprimento dos direitos humanos no país. No entanto, é necessário questionar se o que é colocado no papel se assemelha ao que é posto em prática. Estudos críticos apontam que os verdadeiros objetivos da Minustah estão voltados para um projeto de “recolonização” do país por parte do capital transnacional, e que a ajuda humanitária é uma grande farsa.
 
A vulnerabilidade do Haiti é geral: inexiste estabilidade política e segurança pública e há crise de alimentos, escassez de água potável, falta de infraestrutura e saneamento básico. Gabriel Godoy, oficial de proteção do escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) no Brasil afirma que “cerca de 55% dos haitianos viviam com menos de 1,25 dólar por dia, por volta de 58% da população não tinha acesso à água limpa e em 40% dos lares faltava alimentação adequada” [2].
 
No ano de 2012, ficou mais uma vez comprovada a instabilidade ambiental do país: o furacão Sandy chegou no mês de outubro e provocou inundações em áreas com esgoto a céu aberto, o que, evidentemente, facilitou a transmissão de doenças, como o cólera[3].
 
Muitos haitianos permanecem no país como deslocados internos. De acordo com a Relief Web (2014) são 172 mil pessoas, até o final de 2013, vivendo em mais de 300 campos pelo país. Serviços básicos nos campos – como acesso à água encanada e saúde básica [4] – não acompanham. Portanto, se medidas de integração local, retorno ou transferência não se intensificarem este ano, um alto número de deslocados corre o risco de continuar vivendo em condições insalubres.
 
Para evitar essa situação, milhares de haitianos decidem migrar para outras partes do mundo. Países como República Dominicana e Guiana Francesa já faziam parte da rota de destinos frequentes dos haitianos, outros como Equador, Colômbia, Peru, Bolívia, Chile e Argentina também se transformaram em possibilidades para o deslocamento[5]. O Brasil também foi um destino escolhido.
 
A ideia de país em ascensão e hospitaleiro, além da proximidade entre os dois povos que ocorreu com a participação de soldados brasileiros na missão da ONU no Haiti, são alguns fatores explicativos. Outra razão são as parcerias entre o governo, ONGs e empresas brasileiras no Haiti voltadas para o desenvolvimento[6]. Além disso, a partir da crise econômica de 2008, os países desenvolvidos endureceram o controle migratório, dificultando a entrada de imigrantes[7]. É por isso que o Haiti está aqui.
 
Mas como o Brasil, candidato a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, lida com essa nova realidade de país “em ascensão” e destino de imigrantes que buscam melhores perspectivas de vida?
 
Um primeiro ponto a ser destacado é que os haitianos não são considerados indivíduos em situação de refúgio porque, de forma geral, não se enquadram nos pré-requisitos estabelecidos pela Convenção de 1951 e pelo Protocolo de 1967, ou seja: indivíduos que sofrem perseguição ou fundado temor de perseguição, violência generalizada e desrespeito aos direitos humanos. No entanto, por se tratar de uma situação inegavelmente calamitosa e diante da ausência de um dispositivo específico que proteja indivíduos forçados a migrar em razão de desastres ambientais, o Brasil optou por um novo mecanismo de acolhida, estabelecido na  Resolução nº 97, de janeiro de 2012: visto por razões humanitárias. Assim, a concessão desses vistos possibilita aos haitianos residir legalmente no país e ter acesso a serviços públicos e ao mercado de trabalho.
 
As cidades brasileiras que mais receberam imigrantes haitianos foram Tabatinga e Manaus (ambas no Amazonas) e Brasileia e Epitaciolândia (ambas no Acre). O caminho percorrido é, geralmente, semelhante: os haitianos passam por países andinos, como Equador, Colômbia e Peru, até chegar ao Brasil. Em muitos casos contam com a ajuda de atravessadores (também chamados coiotes) que cobram para auxiliar na travessia. Os custos da viagem chegam a três mil dólares e durante o percurso são extorquidos por policiais, roubados e sofrem violência física, como estupros e até assassinatos[8].
 
A pequena cidade acreana de Brasileia encontrou-se diante de uma situação caótica, sem infraestrutura e sem preparo, e teve que lidar com o alto fluxo de haitianos chegando em seu território. O abrigo disponibilizado pela prefeitura da cidade enfrenta superlotação: com capacidade para até 400 pessoas, mais de 1.240 disputam o espaço exíguo. Sem condições de arcar com os custos dessa situação, com ajuda insuficiente do governo nacional ( cerca de 4,2 milhões de reais foram repassados para os serviços de assistência 1.300.000 milhão para a saúde e o auxílio na documentação, segundo nota oficial do Ministério da Justiça), que ainda parece não assumir sua responsabilidade, e diante da circunstância de calamidade pública causada pela cheia do rio Madeira, que impedia a saída de qualquer pessoa da região, o governo do Acre fechou o abrigo de Brasileia, instalou outro em Rio Branco e encaminhou 2.200 haitianos documentados para o sul e sudeste do país. São Paulo esteve entre os principais destinos.
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Sem qualquer diálogo precedente, o governo do Estado de São Paulo julgou irresponsável a atitude do governo acreano, que defendeu a ação: estaria apenas acelerando um movimento já existente e a postura da paulista refletia um posicionamento racista e xenófobo de seu governo[18]. Em meio à troca de acusações, foi graças à ação da Igreja e da comunidade local que os haitianos conseguiram abrigo e o mínimo de apoio. Logo, quando o abrigo oferecido pela Igreja já se encontrava no limite de suas condições de acolhida, a prefeitura da cidade abriu mais um espaço para acolher os haitianos que continuam chegando.
 
Muitos têm conseguido contratação imediata no mercado de trabalho de São Paulo. Empresas (a maior parte de construção civil e frigoríficos) do sul e sudeste visam a mão de obra haitiana em razão de seu baixo custo. No entanto, é preciso estar alerta para muitas ofertas que, aproveitando-se da vulnerabilidade desses imigrantes, da dificuldade com a língua e das necessidades urgentes de emprego, podem violar as diretrizes dos direitos dos trabalhadores e dos direitos humanos, como o trabalho escravo.
 
É lastimável que mesmo depois de dois séculos do término de uma vergonha para história nacional – a escravidão dos negros – nossa sociedade ainda tenha espasmos de um racismo medíocre, mas, infelizmente, pujante. Muitos empregadores, acreditando que o mínimo, para quem não tem nada, deve ser aceito de bom grado, ousam oferecer vagas de emprego com salário ínfimo (abaixo do mínimo), sem qualquer preocupação com a garantia de direitos. Meus senhores, repito o que foi dito pelo padre Paolo Parisi: “a escravidão acabou”.
 
Tratam-se de seres humanos. Muitos com formação universitária, bons empregos, moradia e estabilidade em sua terra natal. Tudo destruído por uma catástrofe ambiental. Poderíamos ser eu, você e nossos compatriotas. Poderiam ser seus pais, primos, irmãos e amigos, desesperados por uma chance para recomeçar a vida. Abandonar a família e partir para tentar a vida em outro país, com outra língua e outra cultura é um desafio que eles, bravamente, decidem enfrentar para um dia, quem sabe, conseguir prover sua família com condições mínimas de sobrevivência. De acordo com relatório em parceria com a PUC MINAS, Ministério do Trabalho e Emprego, Organização Internacional para Migrações e o Grupo de Estudos Distribuição Espacial da População, divulgado em abril deste ano, as principais razões apontadas pelos haitianos que motivaram sua vinda ao país são: trabalhar e estudar/buscar novas oportunidades; ajudar a família que ficou no Haiti; recomeçar uma vida por ter perdido tudo no terremoto; violência e falta de segurança no Haiti; e por ouvir dizer que o “porto”do Brasil estava aberto.
 
É verdade que o Brasil não se encontra preparado para tamanho fluxo: em 2010 os haitianos somavam cerca de duas centenas de imigrantes dentro dos grupos estrangeiros no país. Ao final de 2011, eles já eram quatro mil. Em 2012 foram 7.761 haitianos que conseguiram o visto humanitário.
 
No final de 2013, o número chegou a 21.430 mil. De acordo com uma pesquisa, há no Brasil algo em torno de 34 mil haitianos e estima-se que esse número pode chegar a 50 mil no final deste ano[9].
Não estamos preparados para assumir as consequências de nosso crescimento e suposto desenvolvimento. A ausência de uma política migratória nacional eficaz que corresponda à realidade atual, a falta de agências governamentais próprias que lidem com a questão de forma específica e adequada são apenas a ponta do iceberg. Teremos um grande trabalho pela frente.
 
Mesmo com todos esses problemas, fechar as portas e negar ajuda a quem fugiu de uma situação muito mais problemática não seria uma atitude aceitável. Seria desumano. Até agora o Brasil tem ido contra essa corrente de fechamento de fronteiras que já se mostrou ineficiente.
Esperamos que seja cumprido o que foi dito pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo: que as políticas federais terão como objetivo que os haitianos optem pela migração por vias regulares, com a obtenção do visto nas embaixadas brasileiras e que esse acesso seja facilitado. Desta forma, poderão ser inseridos nas políticas que (esperamos) serão desenvolvidas nas áreas de trabalho, educação e benefício social.
 
Resta esperar que o Brasil transforme suas respostas reativas em proativas e que dê exemplo ao resto do mundo de como se deve tratar os imigrantes, que ao emprestar sua força de trabalho – tão necessária para nossa economia –, esperam construir no nosso país seu lar, em paz. Afinal, não iríamos querer o mesmo?
*Internacionalista formada pela Universidade Estadual da Paraíba. Atualmente é mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas, trabalha como voluntária na Caritas Arquidiocesana de São Paulo e desenvolve pesquisas nas áreas de Migração Internacional e Segurança Internacional.
[1] Ver em: ARAUJO et al. A vulnerabilidade no Haiti: uma construção histórica. Disponível em:http://actacientifica.servicioit.cl/biblioteca/gt/GT8/GT8_OtoniAraujo_SilvaRosa.pdf Acesso em 12 de maio de 2014
[2]Ver em: FERNANDES, Duval; MILESI, Rosita; FARIAS, Andressa Do Haiti para o Brasil: o novo fluxo migratório. 2011. Disponível em: <http://www.migrante.org.br/migrante/components/com_booklibrary/ebooks/caderno-debates-6.pdf> Acesso em 11 de maio de 2014
[3] Ver em: GODOY, Gabriel Gualano. 2011. O caso dos haitianos no Brasil e a via da proteção humanitária complementar. In: 60 anos de ACNUR- Perspectivas de futuro. André de Carvalho Ramos, Gilberto Rodrigues e Guilherme Assis de Almeida, (orgs.). — São Paulo : Editora CL-A Cultural, 2011. Disponível em: <http://www.acnur.org/t3/fileadmin/Documentos/portugues/Publicacoes/2011/60_anos_de_ACNUR_-_Perspectivas_de_futuro.pdf?view=1> Acesso em 12 de maio de 2014
[4] Idem citação [1]
[5] Ver em: RAMOS et al. 60 anos de ACNUR- Perspectivas de Futuro. 2011. Disponível em: <http://www.acnur.org/t3/fileadmin/Documentos/portugues/Publicacoes/2011/60_anos_de_ACNUR_-_Perspectivas_de_futuro.pdf?view=1&gt; Acesso em 16 de maio de 2014
[6] Ver em: THOMAZ, Diana Zacca.  Migração haitiana para o Brasil pós-terremoto: indefinição normativa e implicações políticas. 2013. Disponível em:http://www.revistas.usp.br/primeirosestudos/article/view/56732/PDF Acesso em 12 de maio de 2014
[7] Ver em: SILVA, Sidney Antônio. Brazil, a new Eldorado for Immigrants?: The Case of Haitians and the Brazilian Immigration Policy. 2013. Disponível em: http://www.anthrojournal-urbanities.com/journal5/files/assets/basic-html/page5.html Acesso em 12 de maio de 2014
[8] Ver em: ARRUDA, Aline Maria Thomé. Migração e refúgio: uma breve problematização sobre os direcionamentos governamentais para recepção a haitianos no Brasil e na República Dominicana. 2013. Disponível em : <http://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/index.php/relacoesinternacionais/article/view/2434> Acesso em 12 de maio de 2014
[9] Ver em: Projeto “Estudos sobre a Migração Haitiana ao Brasil e Diálogo Bilateral” . Fevereiro de 2014.

Folha de Sao Paulo dia 27 de maio de 2014


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domingo, 25 de maio de 2014

Noticia 15 de maio de 2014.

Oportunidade para recomeçar

Em Jaraguá do Sul, um dos pioneiros na contratação de haitianos é a KS Embalagens
Cada vez mais empresas catarinenses têm se mostrado interessadas pela contratação de mão de obra haitiana.  Apenas neste mês, 42 imigrantes foram recrutados no Acre, pela empresa Linky Gestão de Pessoas e Processos, de Jaraguá do Sul, para trabalhar em Pomerode.

Segundo a consultora Fharida Kalinke, mais de 90 haitianos já foram trazidos para trabalhar na região, em aproximadamente um ano.  Ela explica que o principal motivo para a contratação de haitianos é a carência de pessoas que se interessam pelo trabalho em vagas base de produção, em determinados setores. Entre eles, têxtil, automecânico, embalagens e limpeza.

Segundo Fharida, Santa Catarina conta também com imigrantes do Peru, Bolívia e Colômbia, mas a grande leva vem mesmo do Haiti. “Por eles estarem vindo em situação humanitária, como refugiados, o governo brasileiro ajuda com a regularização de documentação e visto. O que facilita a contratação e demonstra ainda uma maior tendência de contratação destes imigrantes”, explica.

Em Jaraguá do Sul, um dos pioneiros na contratação de haitianos é o proprietário da empresa KS Embalagens, Luiz Stinghen. Há três anos, ele trouxe seis imigrantes que estavam refugiados no Acre.
“Na época vi uma reportagem no Fantástico sobre estes refugiados. Decidi ir até lá. Quando cheguei fiquei assustado com as condições em que os haitianos viviam. Eram cerca de mil, todos buscando uma oportunidade. Mas, eu só tinha seis vagas para oferecer”, lembra Luiz.

Além do emprego, a empresa de Luiz ofereceu ainda auxilio com despesas. Por um ano, os haitianos receberam ainda auxilio com moradia, energia e água. Aulas de português também foram imprescindíveis. Como no Haiti, a língua oficial é o francês, além do dialeto crioulo, três meses de aula de português foram fundamentais. “ A maioria dos haitianos também fala espanhol, o que facilitou muito o aprendizado”, complementa Luiz.

Colaboradores exemplares
Segundo Fharida, as empresas de modo em geral estão satisfeitas com a contratação de haitianos. Comprometimento, bom humor e disponibilidade para o trabalho são suas principais qualidades. “Eles realmente vestem a camisa da empresa”, completa.

Luiz também se mostra satisfeito com a contratação e afirma que a intenção é contratar mais haitianos. “Não tenho do que reclamar. De maneira em geral, eles são ótimos trabalhadores. Trabalham porque querem e porque precisam”, finaliza.

Esperança de uma vida melhor
Os haitianos Guimps, 30 anos, e Wndel, 31 anos, foram escolhidos pela empresa de Luiz, há cerca de três anos. Recrutados no Acre, eles contam que já passaram fome, frio e muitas outras dificuldades. Tempo esse que ficou para trás.

“No Haiti não tínhamos emprego, não tínhamos dinheiro para nada. Aqui temos oportunidades. Podemos sustentar nossas famílias, dar uma vida melhor aos nossos filhos”, enfatiza Guimps.
Há quase um ano, a empresa também ajudou os haitianos a trazerem suas famílias para o Brasil. Guimps mora com sua esposa, uma irmã e sua filha, Emanuele, de apenas oito meses, e brasileira. “A saudades de quando estávamos separados era dolorosa. Agora estou feliz, estamos todos juntos, e todos empregados”, conta.

Já Wndel mora em Jaraguá do Sul com a esposa e seu filho, Wndelson, de três anos. Ele conta que a saudade da família foi difícil enquanto estavam separados, mas a vontade de ter uma vida melhor foi muito maior. “Quando eles chegaram, meu filho não me reconheceu. Ele não cresceu comigo. Foi muito difícil. Mas, hoje vejo que valeu a pena”, destaca.

Com visto garantido até 2021, os haitianos planejam comprar uma casa na cidade e voltar a estudar.  E garantem: não querem mais voltar para seu país de origem. “ Queríamos apenas ir visitar o restante de nossas famílias que ficaram no Haiti, mas ficar mesmo aqui”, finalizam.

Noticia 17-05-2014

Brasil terá 50 mil imigrantes haitianos até o fim do ano

Pesquisa da PUC Minas revela que 40% dos haitianos no Brasil têm curso médio e 30% trabalham na construção civil

Bertha Maakaroun
Leonardo Augusto
Publicação: 17/05/2014 06:00 Atualização: 17/05/2014 07:16

Aos 33 anos, viúvo, o imigrante haitiano Marco Comblonini acalenta um sonho: trazer os três filhos de 4, 8 e 11 anos para o Brasil, onde tem emprego formal de pedreiro. Ganha R$ 1,2 mil e todos os meses separa a metade para enviar à irmã que cuida das crianças. Sempre atuando na construção civil desde que desembarcou no Brasil, já desempenhou funções de carpinteiro e de pintor. É assíduo no trabalho, mantém boas relações sociais, respeita hierarquias e teve adaptação tranquila. Pesquisa inédita com a combinação de métodos quantitativo e qualitativo, realizada entre julho e novembro de 2013, que traça o perfil da imigração haitiana ao Brasil, divulgada ontem pelos professores da PUC Minas Duval Fernandes e Maria da Consolação Gomes de Castro e pelo representante da Organização Internacional para as Migrações (OIM) indica que, assim como Marco Comblonini, 30% dos imigrantes haitianos, no Brasil, são absorvidos pela construção civil.
Cerca de 70% dos haitianos que vivem no Brasil estão em idade ativa, entre 18 e 50 anos, são homens, dividem a moradia com outros imigrantes e decidiram migrar por causa do caos e da falta de perspectiva profissional no país caribenho, devastado por um terremoto, de 7 graus na escala Richter, em janeiro de 2010. Pouco mais de 40% dos imigrantes haitianos têm escolaridade de nível médio completo ou incompleto. “A ideia de que a maioria deles seja analfabeta não é verdadeira, sendo muito pequeno o número dos que não têm nenhuma instrução. Estamos ganhando com a presença deles aqui”, afirma Duval.

Segundo o professor Fernandes, a taxa de ocupação dos haitianos é maior do que a dos brasileiros. “Em geral essa é a regra entre imigrantes: fazem trabalhos que ninguém quer. Em Porto Velho (RO), por exemplo, 70% dos empregados de uma empresa de coleta de lixo são haitianos”, assinala o professor. “A maior parte está trabalhando em condições semelhantes à dos brasileiros”, acrescenta o professor. Assim é com Elson Charles, de 32, há seis meses em Belo Horizonte. Ajudante de jardinagem, com um salário de R$ 1 mil, acaba de conquistar no Departamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) sua carteira de motorista. “Vou ser caminhoneiro”, diz o haitiano, que luta para aumentar seu salário e oferecer uma condição de vida melhor para os três filhos e a mulher que continuam no Haiti. “Um dia ainda vamos nos reunir”, espera ele.

Um pouco diferente é a trajetória de Jean Evens, de 33, há dois anos vivendo em Contagem. Ele veio com a mulher e o filho menor de dois anos, deixando com a mãe, no Haiti, as duas filhas, de 3 e 12 anos. Trabalhou por um ano e sete meses em uma empresa de alimentação como carregador noturno: ganhava entre R$ 1,1 mil e R$ 1,3 mil. Mas há poucos meses a empresa reduziu o quadro e Jean ficou desempregado. Está agora trabalhando, em um “bico”, com carga e descarga em uma transportadora. “Quero ficar no Brasil, guardar dinheiro, construir uma casa e trazer as minhas filhas. Aluguel aqui é muito caro”, revela ele, que tem instrução de nível médio e em seu país trabalhava como segurança e pescador do próprio barco.

coiotes Há, no Brasil, cerca de 34 mil haitianos, segundo estimativa Duval Fernandes, que calcula 50 mil até o fim deste ano. No conjunto do fluxo migratório que chega ao país, eles representam 10% do contingente – há quatro anos eles não passavam de duas centenas, mas, no fim de 2011, somavam 4 mil. As estatísticas fazem do Brasil o maior ponto do tráfico de imigrantes haitianos da América do Sul: 75% passam pelo Equador, seguem para o Peru e ingressam no Brasil por Tabatinga e Brasileia, fazendo, na fronteira, o pedido de refúgio. Apenas 5% deles tomam rotas distintas com passagem pela Argentina, Bolívia ou Chile antes de imigrar para o Brasil. Cerca de 20% saem do Haiti com vistos obtidos nos consulados e fazem escala no Panamá, antes de desembarcar nos aeroportos de Belo Horizonte, Brasília ou  São Paulo.

“Eles demoram em média 15 dias para chegar ao Brasil e gastam no trajeto cerca de US$ 2,9 mil”, explica o professor Fernandes, considerando ainda que as despesas podem ser mais altas e chegar a mais de US$ 5 mil. “Muitos são coptados por um poderoso esquema, que se vale de coiotes haitianos, que acenam com promessas de altos salários. As casas são hipotecadas em troca de empréstimos em espécie e do serviço burocrático da viagem”, afirma o pesquisador. “É grande a vulnerabilidade desses 80% de imigrantes que entram no país dessa forma, sobretudo pelo Peru”, acrescenta, lembrando que, após o trajeto até a fronteira brasileira, é longo o processo para a regularização da situação migratória: depois de solicitar o refúgio, a abertura do processo leva à emissão de um protocolo que permite ao imigrante a obtenção de carteira de trabalho e CPF provisórios.

Embora estejam em 286 cidades brasileiras, 75% dos haitianos estão concentrados em São Paulo, em torno de 10% em Manaus e 7% – cerca de 3 mil – em Minas Gerais, sobretudo em Belo Horizonte e Esmeraldas e Contagem, ambas na Grande BH. “O Brasil não é mais o país de imigração do início do século nem o país da emigração dos anos 1980. Somos hoje um país de imigração, emigração e trânsito, além dos brasileiros que retornam depois de viver muitos anos no exterior. A questão migratória é atualmente muito maior do que foi no passado”, considera Duval Fernandes. Segundo ele, considerando a redução da taxa de natalidade no país, em 2030, a população brasileira começará a encolher, e mais da metade das aposentadorias serão bancadas pela contribuição dos imigrantes.

Informacao.

16/5/2014 às 22h08 (Atualizado em 20/5/2014 às 13h37)

Haitianos estão decepcionados com empregos no Brasil, revela pesquisa

   

R7
         
Uma pesquisa realizada por uma universidade de Minas Gerais revela os haitianos estão decepcionados com os empregos oferecidos no Brasil. Apesar da boa escolaridade, quando chegam ao País, não encontram as oportunidades que esperavam.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Informacao 20-03-2014

20/03/2014 09h21 - Atualizado em 20/03/2014 09h21

Cartilhas para orientação de haitianos devem chegar ao AC em abril

Material será disponibilizado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Comitê esteve em Brasiléia entre os dias 11 e 14 de março.

Caio Fulgêncio Do G1 AC
Abrigo em Brasiléia com capacidade para abrigar cerca de 400 pessoas, atualmente atende 1200 imigrantes  (Foto: Veriana Ribeiro/G1) 
Abrigo em Brasiléia atende atualmente
1.800 imigrantes (Foto: Veriana Ribeiro/G1)
 
 
Após uma visita ao Acre, durante os dias 11 e 14 deste mês, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha se propôs a enviar cartilhas de orientação para os imigrantes alojados no município de Brasiléia, distante 232 km de Rio Branco. Segundo a Secretaria de Estadual de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) a previsão é que o material chegue ao estado em abril.

De acordo com o secretário em exercício, Ruscelino Barbosa, as cartilhas, escritas em creole, trazem orientações no que diz respeito à saúde e cultura para nortear a chegada dos imigrantes. Esse mesmo material já é utilizado pela Cruz Vermelha junto à população do Haiti. "São informações gerais que o haitiano pode ter acesso ao chegar no Brasil", explica.

Barbosa lembra ainda que é uma iniciativa que reforça o trabalho que o estado já faz em Brasiléia desde 2010. "Essa cartilha vem fortalecer esse serviço que nós já fazemos no acampamento", afirma.
Segundo o técnico da Sejudh, Damião Borges, o número de imigrantes em Brasiléia é em torno de 2.200. No abrigo público, existem uma média de 1.800. "A maioria está esperando as águas [do Rio Madeira] baixarem", diz. Quanto à chegada, Borges diz ainda que continuam chegando de 40 a 50 imigrantes por dia.

domingo, 16 de março de 2014

Noticia Fevereiro de 2014

Sem mão de obra, Santa Catarina importa haitianos

Concentração de frigoríficos e empresas da construção civil no oeste do Estado já atraiu mais de 900 haitianos que suprem a escassez de mão de obra na região

Mariana Zylberkan, de Chapecó
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Milio Louicinol e Olson Pierre deixaram o Haiti para tentar nova vida no Brasil
Milio Louicinol e Olson Pierre deixaram o Haiti para tentar nova vida no Brasil - Mariana Pollara Zylberkan
O haitiano Olson Pierre, de 30 anos, tem dois diplomas de nível superior – psicologia e serviço social – e fala três línguas – francês, espanhol e inglês. Seu conterrâneo, Milio Louicinol, de 32 anos, tem uma carreira como engenheiro químico e já trabalhou em multinacionais. Há oito meses, eles decidiram trabalhar como operários da linha industrial de abate de suínos no frigorífico Aurora, na cidade de Chapecó, no oeste de Santa Catarina. O objetivo é tentar fugir da miséria que assola seu país desde o terremoto que matou 220.000 pessoas – o equivalente a uma Chapecó inteira – e deixou 1,5 milhão de desabrigados há quatro anos. Louicinol trabalha oito horas por dia em uma câmara frigorífica em temperaturas negativas. Desacostumado ao frio, ele diz ter sofrido com dores de cabeça diárias quando chegou, mas não desistiu. Nos últimos meses, conseguiu poupar boa parte do salário de 1.500 reais e agora pretende trazer a noiva que vive no Haiti para o Brasil, como fez o colega Pierre, que vai se casar até o final do ano. Pierre e Louicinol fazem parte de um grupo de 800 haitianos que chegaram a Santa Catarina no ano passado atraídos pela oferta de trabalho, segundo dados da Polícia Federal.

Leia também: Haiti-Brasil, os perigos no caminho
O fluxo imigratório começa em uma longa jornada no sul do Acre, precisamente na cidade de Brasileia, na fronteira com a Bolívia, onde fica o abrigo montado pelo governo estadual para receber os haitianos. Segundo o Ministério Público Federal, o galpão com 4.500 m² e capacidade para 400 pessoas abriga atualmente 1.244. No ano passado, o posto da Policia Federal em Epitaciolândia, cidade vizinha a Brasileia, registrou a entrada de 10.110 haitianos – 74% do total (13.669) de haitianos que cruzou a fronteira para o Brasil.
“Eles são absorvidos pelos setores da construção civil, frigoríficos, limpeza urbana e linhas de produção industrial em postos que os brasileiros não querem mais ocupar”, diz Paulo Sérgio de Almeida, presidente do Conselho Nacional de Imigração do Ministério do Trabalho.
Desde 2010, ano da tragédia que arruinou o país caribenho, o Brasil emitiu 12.352 carteiras de trabalho para haitianos. Desse total, 5.670 estão registrados e trabalhando atualmente – mais da metade na região Sul. Polo da agroindústria, o oeste catarinense tornou-se um dos principais destinos. A economia catarinense tem crescido nos últimos anos alavancada pela crescente exportação de alimentos para China e Japão.
Semanalmente, em média três empresas enviam representantes para recrutar haitianos em Brasileia. O perfil ideal é o de homens que deixaram a família no Haiti. A maioria das empresas oferece moradia e alimentação nos três primeiros meses e transporte do Acre para Santa Catarina em um ônibus. Segundo empresários da região, o custo de 2.000 reais por haitiano compensa pela escassez de mão de obra para trabalhar em frigoríficos e a economia com a automação da produção. Na linha de desossa de coxa e sobrecoxa de frango, por exemplo, uma máquina capaz de fazer o trabalho de até seis operários custa cerca de 1 milhão de reais e o investimento leva dez anos para ser revertido em lucro. “Temos também o crescimento da exportação para o mercado japonês, que exige perfeição dos cortes de carne, o que só pode ser feito com as mãos”, diz Neivor Canton, vice-presidente da Aurora, que emprega 390 haitianos.
A necessidade de sobrevivência e o compromisso de sustentar a família à distância fazem os haitianos tolerar mais as condições de trabalho nos frigoríficos. A atividade é a mais perigosa no Estado de Santa Catarina, segundo o Anuário de Acidentes de Trabalho elaborado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) – foram 2.381 acidentes em 2011. No Brasil, no mesmo período, foram contabilizados 19.453 acidentes no setor. O abate de suínos e aves registra altíssimos índices de desenvolvimento de transtornos de humor, como depressão. “A prova mais evidente da precarização das condições de trabalho é a contratação de imigrantes, indígenas, presos do regime semiaberto e pessoas que chegam a residir de 200 a 300 quilômetros do local de trabalho. O resultado é uma verdadeira epidemia de doenças ocupacionais”, diz o procurador Sandro Eduardo Sardá, do Ministério Público do Trabalho de Santa Catarina.

Rota percorrida por haitianos até chegar ao sul do Brasil

Emprego e família – O haitiano Saint Souis Noel, de 27 anos, trabalha há cinco meses no abate de peru na Sadia, em Chapecó, recebe 980 reais por mês, e já sente os reflexos do trabalho pesado. Ele diz sofrer de uma dor intermitente no braço esquerdo, causada pelas horas pendurando animais de até 11 kg em ganchos da linha de produção. Noel teve a passagem para Santa Catarina custeada pelo irmão que está há quase dois anos no Brasil. “Não conheço os direitos trabalhistas no Brasil, não sei se posso pedir afastamento”, diz. Mesmo com as queixas, Noel não hesita em afirmar que prefere o trabalho no Brasil a enfrentar o desemprego que atinge mais de 60% da população do Haiti.
A falta de trabalho até na República Dominicana, país vizinho e mais próspero por causa do turismo, fez o haitiano Smith Rivette, de 32 anos, deixar o emprego de recepcionista de hotel, que lhe rendia salário de 1.000 dólares na alta temporada, para trabalhar na linha de produção de um frigorífico em Chapecó, com salário de 1.120 reais. “Vim atrás de boas oportunidades proporcionadas pela Copa do Mundo no Brasil, mas me iludi”, afirma. A desilusão no trabalho, porém, foi compensada pela sorte no amor: no frigorífico, ele conheceu a noiva, a catarinense Crisiane Cheneiedr, de 34 anos. O casal planeja se casar no primeiro semestre deste ano e está poupando dinheiro para trazer o pai de Rivette ao Brasil para a festa – o destino da lua de mel será Natal (RN).
A formação de famílias de haitianos em solo brasileiro se torna mais recorrente à medida em que os primeiros imigrantes conseguem deixar os dormitórios montados pelas empresas, que chegam a abrigar até 55 homens, e montar seus próprios lares. O casal Renise Petimey, de 21 anos, e Ginior Andre, de 29 anos, namoravam quando deixaram o Haiti, onde Andre trabalhava como recepcionista e sonhava com uma vida melhor no ramo da construção civil no Equador. Após oito meses, ele seguiu a rota já percorrida por 15.000 haitianos desde 2010 até Brasileia (AC). Após um mês de espera pela emissão da carteira de trabalho no Acre, chegou a Chapecó como funcionário de um empresário que foi ao Estado procurar trabalhadores para sua fábrica de piscinas. A fibra em pó tóxica inalada por Andre o fazia vomitar sangue e, por isso, deixou o emprego para trabalhar no frigorífico Aurora. No fim do ano, o casal oficializou a união em cerimônia custeada pela empresa. “O Brasil é bom para nós, eu só não gostei do chimarrão, é muito amargo”, diz Renise.
Primeira geração - Famílias de haitianos não apenas se formam como também crescem no oeste catarinense. O pequeno Natan, de 9 meses, é um dos primeiros descendentes de haitianos chapecoense. A mãe, Philomise Saint-Fleur, de 37 anos, veio para o Brasil há dois anos em busca de uma vida melhor para as duas filhas que deixou no Haiti. “Depois do terremoto, veio o cólera que deixou tudo pior. O que ia ser das minhas filhas? Precisei dar um jeito.”
Philomise fez a travessia que passa pela República Dominicana, Equador, Peru e Bolívia até chegar ao Acre, onde foi recrutada para trabalhar em uma empresa de tratamento de afluentes em Chapecó. Antes, passou oito meses no Equador trabalhando em uma fazenda de bananas, com remuneração de dez dólares por dia. Juntou dinheiro e continuou a viagem até o Brasil. Neste mês, ela recebeu a irmã na casa alugada pelo patrão, onde mora com Natan. “Agora, meu sonho é trazer a minha caçula e poder pagar a faculdade da mais velha.”
O caso de Philomise, que hoje vive em uma casa custeada pelo empregador, não é o único. Gustave Michel, de 44 anos, tornou-se o braço direito de um empresário de Chapecó e ganha 1.500 reais como chefe de obras. Há um ano, ele trouxe a mulher, Velouse Dominique, de 30 anos, que engravidou no Brasil. Ao chegar a Chapecó, Velouse tentou dar continuidade ao trabalho de cabeleireira que tinha no Haiti, mas não deu certo. Agora, arrumou emprego no abate de peru e reclama de dores no corpo por causa do grande esforço físico. O casal vive em uma casa alugada pelo patrão de Michel. “Não tem jeito, ouço a história deles e não tem como não se envolver. Ajudo no que posso”, diz o empresário Erico Tormen.