ONG denuncia condições 'desumanas' de haitianos no Acre
Para coordenador, Acre não está preparado para lidar com 'crise'.
'Chegamos ao ponto máximo', diz secretário de Direitos Humanos.
Haitianos se amontoam em alojamento em Brasiléia (Foto: Veriana Ribeiro/G1)
Superlotação, condições precárias de higiene e críticas à qualidade da água e da alimentação. Esta é a situação dos imigrantes haitianos no acampamento de refugiados, em Brasiléia (AC), de acordo com a Organização Não Governamental de Direitos Humanos, Conectas, localizada no estado de São Paulo (SP). A instituição se reporta em seu site, a uma série de situações encontradas em uma visita feita na cidade de Brasiléia (AC), nos dias 6 e 8 de agosto.
Distante cerca de 240 km da capital, Rio Branco, o município acreano de Brasiléia, que faz fronteira com a Bolívia, se tornou nos últimos três anos, um dos principais pontos de acesso de imigrantes vindos do Haiti ao Brasil. Na cidade, o governo do estado montou um abrigo para recebê-los até que eles tirassem a documentação necessária para trabalhar no país.
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Porém, com uma média de 40 imigrantes chegando à cidade todos os dias, o acampamento acaba ficando com uma população maior que sua capacidade. Durante a visita da Conectas, eram 832 pessoas dividindo um espaço reservado para 200. De acordo com a Ong, as condições de higiene também seriam inadequadas, já que todos os imigrantes dividem dez latrinas e oito chuveiros. Eles afirmam ainda que no hospital do município, a informação é que 90% dos imigrantes estariam sofrendo com diarréia.'Não estão preparados'
De acordo com o coordenador de Comunicação da Conectas, João Paulo Charleaux, apesar de estar sendo realizado um trabalho para acolher esses imigrantes, a ajuda é pouca perto da demanda existente.
"Essa pequena cidade de Brasiléia e o estado do Acre estão tendo que manejar uma crise para a qual não estão preparados. Essa crise é para ser manejada pelo Governo Federal e por organizações internacionais", enfatiza.
Chaleaux disse que a ONG irá encaminhar o material coletado para o Governo Federal, Organização dos Estados Americanos (OEA) e Organização das Nações Unidas (ONU) cobrando a adoção de medidas para resolver o problema.
'Chegamos ao ponto máximo'
Uma das informações divulgadas pela Conectas diz que o Governo Federal não estaria realizando o repasse de ajuda humanitária para o Governo do Acre já há três meses. A informação é confirmada pelo secretário de Justiça e Direitos Humanos, Nilson Mourão. Ele revela que por causa disso, o estado possui uma dívida de mais de R$ 700 mil com alimentação.
"O Governo Federal assumiu a responsabilidade de liquidar esse débito e até a presente data não liquidou. Nossa equipe está em contato permanente com a equipe do Governo Federal que está buscando os caminhos para pagar esse débito", diz.
Mourão concorda com Charleaux e diz que é preciso maior envolvimento do Governo Federal na questão. "A situação está cada dia mais complexa e nossa equipe não está preparada para enfrentar uma rota migratória tão organizada quanto essa. Nossas possibilidades estão esgotadas e desejamos que o Governo Federal possa assumir", diz.
Sobre as denúncias, quanto as condições do acampamento, o secretário diz que apesar dos esforços do Estado, a Administração Pública não possui mais condições de gerir sozinha.
"Nós chegamos ao máximo daquilo que entendemos como atenção humanitária. Eles têm abrigo, alimentação três vezes ao dia, orientação para tirar documentação, contratação para o trabalho. Uma atenção dessas merece ser valorizada, qual o lugar do mundo que dá essa atenção a imigrantes irregulares? Chegamos ao nosso ponto máximo daqui para frente não temos mais para onde ir", enfatiza.