terça-feira, 23 de junho de 2015

Mensagem para o dia do Migrante e Refugiado = 20 de junho de 2015


Dia Mundial do Refugiado e Semana Nacional do Migrante

“Eu te dou coragem, sim, eu te ajudo”

“Não tenhas medo, que eu estou contigo. Não te assustes, que sou o teu Deus. Eu te dou coragem, sim, eu te ajudo.” (Is 41,10)

                São tantos os gritos e as dores: dos que fogem da guerra civil na Síria, de milhares de migrantes e refugiados – de países africanos, do oriente médio e de tantos países - que perderam pessoas queridas tragadas pelas águas do Mar Mediterrâneo, na tentativa de chegar à Europa. Intolerâncias religiosas, étnicas e outras formas de rechaço, discriminação e de vulnerabilidade social expõem milhões de pessoas a condições de extremo sofrimento, de abandono, de morte em alto mar, em desertos, em caminhos à busca de simplesmente de sobrevivência. É fácil fechar os olhos ou adotar uma atitude de indiferença! Algumas vezes dizemos: O que podemos fazer se somos poucos, se não temos poder político ou econômico?

Celebrar o dia dos migrantes e dos refugiados é um desafio diante deste cenário internacional, e mesmo no Brasil, onde crescem resistências aos haitianos, aos senegaleses, aos ganeses, aos congoleses e a tantos outros que continuam a chegar ao nosso País. As dificuldades ou crise econômica e política, às vezes como escusa, levam a questionamentos no que tange ao acolhimento e proteção destas pessoas em mobilidade humana.

Celebrar é dizer não às violências, é romper o silêncio e contribuir para que o grito das vítimas seja ouvido e suas palavras fundamentem políticas de acolhimento, de solução dos conflitos, de reafirmação da dignidade humana acima das fronteiras e dos interesses presentes na globalização da indiferença ou mesmo dos medos infundados de que o outro seja um concorrente ou uma ameaça. Para que este “dizer não às violências” seja verdadeiramente profecia é preciso seguir de perto o que nos propõe o profeta Isaías (41,10):

Ø          Independente de quão grave esteja a situação e os riscos pelos quais estão passando migrantes e refugiados, há sempre uma certeza – o Senhor está conosco e nos diz ‘não tenhas medo’. O medo paralisa e muitas vezes nos impede de ver alternativas, grupos de apoio e solidariedade, mãos amigas e fraternas. Não tenhamos medo!

Ø          É Deus quem nos dá a coragem para persistir quando ‘tudo’ à nossa volta parece nos levar à derrota. Deus se faz presente quando transformamos a boa vontade e nossa fé em ações efetivas de proteção à vida humana, sem preconceitos ou barreiras de qualquer ordem. A ‘AJUDA’ é gesto concreto que viabiliza políticas, articula espaços de acolhimento, gera solidariedade, dinamiza a criatividade na busca de soluções do que for emergencial e do permanente, contribui para a continuidade de tradições e percursos identitários.

Enfim, celebramos por acreditarmos que, juntos, estamos tecendo uma rede de solidariedade cujos fios estão presentes por todo o Brasil nas várias organizações, serviços e pastorais voltadas para o povo em mobilidade humana.  São sinais, formas de presença, ações, exemplos de doação que apontam e nos conduzem ao nosso sonho de uma terra sem males onde todos possamos viver com dignidade, como filhos e filhas de Deus.

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MENSAGEM DA PASTORAL DO MIGRANTE - DIA DO MIGRANTE

Sociedade e Migração.

Não ao preconceito, por direitos e participação!

 

Que relações há entre a imigração contemporânea no Brasil e as migrações de cerca de 240 milhões de pessoas em todo o mundo, inclusive as da costa do mar mediterrâneo em direção a Europa? 

Podemos considerar ao menos três aspectos comuns à imigração no Brasil e no mundo: O primeiro é que muitos imigrantes são fugitivos da pobreza; da vergonhosa desigualdade social; de perseguições políticas, religiosas; preconceitos; de violências contra minorias étnicas; etc. O segundo aspecto tem a ver com as mudanças climáticas aceleradas pelo intenso ritmo de produção e consumo que está levando o planeta ao colapso ecológico e ameaça a vida na Terra; do não acesso à água potável; de catástrofes naturais, como tsunamis, terremotos. E o terceiro aspecto relaciona as migrações às crises econômicas; guerras; grandes obras, grandes eventos; à impunidade de crimes como tráfico de pessoas e trabalho escravo que, de acordo com a ONU (2013), logo atrás do tráfico de drogas e de armas, são o terceiro crime mais praticado no mundo e movimentam cerca de 32 bilhões de dólares por ano, o que os coloca entre as atividades criminosas mais lucrativas da economia globalizada; à escassez de políticas migratórias que viabilizem a promoção do migrante como pessoa de direitos, de saberes que contribuem para o bem estar das comunidades que o acolhem. A maioria dos 240 milhões de migrantes no mundo atual vivencia problemas sociais semelhantes aos vividos por muitos imigrantes que tentam melhorar ou recomeçar suas vidas em terras brasileiras.

motivos reais para alardes sobre uma “invasão de estrangeiros” no Brasil? Segundo o Eurostat Statistic (2015), em 2012 havia 33,3 milhões de imigrantes na Europa, ou 6,6% da população do continente. A Alemanha e a França tinham, respectivamente, cerca de 12% e 11% de imigrantes. Em 2013, os EUA tinham 46 milhões de imigrantes, 15% de sua população. Já os brasileiros que vivem e trabalham em outros países chegam a 2,8 milhões de pessoas. Ora, os imigrantes que vivem e trabalham no Brasil são cerca de 1,8 milhão de pessoas, ou, 1% de nossa população. É falso falar em “invasão de estrangeiros” no Brasil. Isto só estimula o preconceito e a xenofobia. Na verdade, a sociedade brasileira formada por imigrantes pode ou deve buscar compreender a realidade da imigração; discutir e pressionar os governos para implementar políticas migratórias humanitárias, como o direito universal a acolhida.

Para além da xenofobia, preconceito étnico e racial: No final do Séc. XIX e início do Séc. XX, a imigração no Brasil era branca, de origem europeia, voltada para o colonato e o trabalho assalariado. Hoje, como antes, a imigração permanece voltada para o trabalho; a condição social e econômica dos imigrantes de antes e dos de hoje se caracteriza pela vulnerabilidade. Hoje, como antes, eles fogem da pobreza e trazem a esperança de conquistar respeito, dignidade, e, também trazem a capacidade de contribuir, a partir do seu trabalho, da sua cultura, para alcançar melhor padrão de vida para todas as pessoas. O que mudou então para que a xenofobia e o preconceito sejam tão acintosos como vemos nas redes sociais e nas ruas? Mudou a cor da pele e procedência dos imigrantes. Antes eram brancos europeus. Hoje são negros africanos e caribenhos destinados a postos de trabalho de baixa remuneração, como babás, frentistas, caixas de supermercados, açougueiros, ajudantes gerais, faxineiros, etc.

Há que se considerar também a migração interna no Brasil. Apesar de não constar na agenda política, ela é intensa e suas causas não são diferentes daquelas que motivam a imigração internacional. Em geral, os migrantes internos fogem de violências; da pobreza; conflitos agrários; de enchentes devastadoras; da falta de água potável; etc. Se antes as migrações internas eram percebidas através dos fluxos de nordestinos para a Região Sudeste, de sulistas para as respectivas Regiões Norte e Centro Oeste, hoje o mapa das migrações internas mostra fluxos migratórios mais complexos e voláteis entre todas as regiões brasileiras. De acordo com o IBGE (2010), a expansão do agronegócio e das grandes obras contribuiu para diversificar as rotas migratórias e os rostos dos migrantes. Em sua maioria eles são Indígenas, quilombolas, camponeses, ribeirinhos, operários, jovens (moças e rapazes) que buscam trabalho, estudo, tratamento de saúde e trazem esperanças, saberes vitais às nossas necessidades básicas, como alimentação, diversão, estudos, serviços, etc.

Políticas públicas e imigração: a imigração não é um fato isolado, nem exclusivo de um país. Então, como tratá-la de forma articulada e com foco na garantia de direitos? Não há fórmulas prontas e o caminho é sinuoso. Porém, não há dúvida da urgência de políticas de gestão humanitária da imigração, articuladas entre regiões de origem, trânsito e destino dos migrantes. E nesse aspecto o Brasil precisa dar passos concretos e ágeis. Essas políticas devem viabilizar processos justos e acessíveis de documentação, acesso ao trabalho decente, à moradia, à saúde, ao aprendizado da língua, a programas culturais e pedagógicos, como formas de inculturação, prevenção e enfrentamento ao preconceito e à xenofobia.

Ao abordar o tema sociedade e migração, a Pastoral dos Migrantes convida todas as pessoas e instituições a considerar os migrantes como dons e oportunidades de novos caminhos para a humanidade. Eles nos convidam a abrir a mente, as economias, as políticas; a vencer o medo; a enriquecer nossas culturas; estimulam-nos a derrubar fronteiras e revelam-nos que somos filhos e filhas da mesma pachamama (Mãe Terra). Trata-se de respeitar suas visões de mundo, saberes e experiências fundamentais para a construção de outros mundos possíveis. E possíveis porque já existentes nas práticas cotidianas de pessoas e comunidades. Possamos assim recriar uma nova sociedade, na qual a pátria de todos seja o mundo e o idioma seja o amor, que é sempre capaz de fazer novas todas as coisas.

 

Serviço Pastoral dos Migrantes – SPM- 30 anos rompendo fronteiras com os migrantes!

21 de junho/2015