sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Informações 12-02-2015

Número de haitianos em a São Paulo volta a crescer, sem abrigos suficientes
Urgência para conseguir ocupação aumenta vulnerabilidade e aumenta chances de os imigrantes caírem em redes de escravidão
por Sarah Fernandes publicado 12/02/2015 10:31, última modificação 12/02/2015 12:21
 
São Paulo – A trajetória do haitiano Jean Erso começou em meados de dezembro, quando ele saiu do seu país com a esperança de uma vida melhor em São Paulo e encontrou pela frente um caminho marcado pelo perigo e pelo desamparo: foram mais de US$ 5 mil entregues aos chamados coiotes como pagamento por 13 dias de uma viagem clandestina, na qual percorreu República Dominicana, Equador e Peru, até chegar ao Acre. De lá, mais quatro dias em um ônibus até São Paulo. Ao chegar na cidade se deparou com a falta de informação, demora para regularização dos documentos e sobretudo falta de vagas em abrigos.
Porém, a capital paulista tem apenas 220 vagas para abrigar imigrantes temporariamente, somando 110 vagas do Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes (Crai), inaugurado pela prefeitura em agosto do ano passado, e mais 110 vagas na Casa do Migrante, na organização católica Missão Paz, um dos principais destinos de quem chega à cidade. O governo do estado oferece 50 vagas de acolhida, porém apenas para imigrantes vítimas de tráfico de pessoas, trabalho escravo e homofobia.
'A viagem foi muito difícil, passamos fome e tivemos que entregar objetos pessoais para os coiotes', diz Erso
"O número é aquém do necessário. A cidade precisaria de pelo menos 400 vagas para abrigar imigrantes", afirma o padre Paolo Parise, diretor da Missão Paz. Entre a segunda quinzena de janeiro e esta quarta-feira (11) o número de ônibus com haitianos vindos do Acre para São Paulo passou de três por semana para pelo menos cinco. Só no dia anterior (10), 70 haitianos tiveram que dormir no chão do salão da entidade, em colchões improvisados com cobertores, devido à falta de vagas.
A Secretaria Municipal de Direitos Humanos de São Paulo informou, via assessoria de imprensa, que a alternativa oferecida é encaminhar os imigrantes para a rede de albergues da cidade, que geralmente acolhe moradores de rua e que somam 10 mil vagas. "O problema é que são locais apenas para passar a noite. De manhã os imigrantes teriam que sair, com toda a bagagem, e ficar na rua", critica padre Parise – não há perspectiva de construir mais um local público de acolhida de imigrantes, segundo a secretaria.
 
'A cidade precisaria de pelo menos 400 vagas para abrigar imigrantes', afirma padre Parise
Sem nenhum tipo de aviso prévio, os haitianos chegam de Rio Branco (AC) em ônibus, geralmente entre quinta e domingo. São veículos fretados pelo governo do Acre, com verba de um convênio com o Ministério da Justiça para ações relacionadas à migração, como abrigamento, emissão de documentos e transporte. Só em 2014, o estado recebeu R$ 3,385 milhões pelo convênio. "Uma vez eu estava dormindo e ouvi a campainha. Quando fui ver eram dois ônibus com muitos haitianos e toda a bagagem para abrigarmos", conta padre Parise.
De acordo com o secretário de Direitos Humanos do Acre, Nilton Mourão, a cidade de São Paulo é escolhida como destino pelos próprios haitianos. "Eles já sabem para onde querem ir e nós os ajudamos a seguir viagem. Geralmente o ônibus sai de Rio Branco e passa por Porto Velho (RO), onde alguns escolhem ficar. Depois passa por Cuiabá (MT) e vai até São Paulo. De lá, os que querem continuar para o sul o país tem que se organizar", explica.
"Tivemos muitos anos de intervenção da Missão de Paz do Brasil, pelas Nações Unidas, no Haiti e sempre nos passaram a ideia que o Brasil era um país em desenvolvimento e acolhedor. Mas quando chegamos aqui enfrentamos várias dificuldades, burocráticas e de infraestrutura. Se o país almeja se fortalecer no cenário internacional precisa de uma política migratória diferente", critica o imigrante haitiano Patrick Dieudanne, formado em Relações Internacionais, que está no Brasil há um ano, e tem ajudado os recém chegados com o idioma.
Número de ônibus que chegam do Acre para São Paulo com haitianos passou de três por semana para cinco no último mês
A falta de vagas nos abrigos é reforçada por outro problema: a demora excessiva do Ministério do Trabalho e Emprego para emissão das carteiras de trabalho, que varia de um a dois meses. Assim, eles ficam impossibilitados por muito tempo de conseguir um emprego formal e, por consequência, de alugar uma casa para deixarem o abrigo.
Erso, que chegou em São Paulo em 22 de dezembro, só conseguiu o documento em 4 de fevereiro, ficando 43 dias sem poder aceitar um emprego. "A viagem foi muito difícil, passamos fome e tivemos que entregar objetos pessoais para os coiotes, mas não tinha mais como ficar no Haiti. Desde o terremoto, em 2010, o país está destruído e não há emprego", conta.
"Isso aumenta muito a chance de eles caírem em uma rede de trabalho precário. Imagine o que é ficar um mês sozinho em um país novo e sem nenhum dinheiro", diz padre Parise. "Todos os dias vêm pessoas ligadas a empresas de terceirização fazer promessas para eles, quando estão na rua, em geral muito cedo, entre às 6h e 7h. Nós orientamos para que não aceitem, mas é uma situação difícil quando não se tem dinheiro."
 
Fretamento dos veículos é feito com verba de um convênio do Acre com o Ministério da Justiça
Pelo menos 230 imigrantes haitianos já foram resgatados de trabalhos em condições análogas à escravidão no Brasil entre 2013 e 2014, sendo pelo menos 12 em São Paulo, em uma oficina de costura na região central da capital paulista.
Desde o ano passado, a Missão Paz reúne todas as terças e quintas pela manhã grupos de empresários interessados em contratar haitianos. Eles participam de uma palestra para entender as condições de contração e os benefícios necessários para os migrantes. Em 2014, as principais empregadoras foram empresas da construção civil. Neste ano, são as empresas do ramo de serviço, sobretudo de limpeza.
A crítica da entidade, no entanto, é que os haitianos já deveriam sair do Acre com as carteiras de trabalho em mãos, para inclusive reduzir o tempo de permanência nos abrigos em São Paulo. De acordo com o secretário de Direitos Humanos do Acre, as emissões foram prejudicadas em janeiro por uma suspensão nacional realizada pelo próprio Ministério do Trabalho. Em nota, o órgão informou que a suspensão da emissão informatizada dos documentos "ocorreu no final de dezembro, para implantação do sistema online, mas retornou no início de janeiro."
"Além disso, o ministério tem uma estrutura deficiente no Acre, com pouca gente trabalhando. Não se dá conta da demanda e nós não podemos retê-los aqui enquanto esperam, senão superlotamos nosso abrigo para imigrantes, que só tem duzentas vagas. É um documento que eles podem requerer em qualquer outro lugar do país", afirma Mourão. Mas com a demora que tem sido imposta em São Paulo, a estratégia agora é encaminhar os haitianos para superintendências do trabalho na região do ABC paulista, onde a demanda costuma ser menor.
 
Entre 2013 e 2014 pelo menos 230 haitianos foram resgatados de trabalho escravo no país, 12 em São Paulo
Diante da situação, a Missão Paz lançou uma petição onlineque reúne assinaturas para exigir a ampliação de serviços para imigrantes, chamada "Diga não ao abandono dos haitianos em São Paulo e sim por uma gestão migratória". O documento pede a criação de um ponto de informação e orientação no terminal de ônibus da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, enquanto houver a transferência de imigrantes para a cidade. Pede também a  criação de mais vagas para acolhida de imigrantes e refugiados em abrigos específicos e emissão da carteira de trabalho no local de entrada no país. As demandas foram apresentadas ontem (10) ao secretário municipal de Direitos Humanos de São Paulo, Eduardo Suplicy.
"Aqui tem pessoas com formação superior, que falam duas ou três línguas e que vieram para ocupar as vagas de trabalho que os brasileiros desprezam. O que fazer quando você vê toda sua família sofrendo sequelas por acidentes no terremoto, precisando de dinheiro para tratamentos médicos, em um país onde não há trabalho? Somos corajosos e não temos medo do trabalho, precisamos poder trabalhar", afirma o haitiano Dieudanne. A organização não governamental Repórter Brasil, que trabalha no combate ao trabalho escravo, estima que pelo menos 22 mil haitianos chegaram ao Brasil entre 2010 e 2014.
 
 
 

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Noticias de Mato Grosso - Associação de Haitianos 2015

MT criará associação responsável pela defesa de haitianos

Entidade terá a finalidade de defender os Direitos Humanos fundamentais dos haitianos que vivem no Estado



O defensor público Roberto Tadeu Vaz Curvo - responsável pela Coordenadoria de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Mato Grosso - foi convidado e prestar assessoria jurídica à criação de uma associação para a defesa dos direitos dos haitianos. 
Pedido foi feito nesta quinta-feira, durante uma visita de um grupo de haitianos à sede da Defensoria Pública Foto: Defensoria Pública do MT / Divulgação
Pedido foi feito nesta quinta-feira, durante uma visita de um grupo de haitianos à sede da Defensoria Pública
Foto: Defensoria Pública do MT / Divulgação
O pedido foi feito nesta quinta-feira, durante uma visita de um grupo de haitianos à sede da Defensoria. De acordo com o grupo, cerca de quatro mil haitianos vivem em Cuiabá. 
A associação terá a finalidade de defender os Direitos Humanos fundamentais dos haitianos que vivem no Estado. Entre as obrigações, estão, portanto, o direito à saúde, à educação, à moradia, à alimentação e ao lazer. Inicialmente, a entidade deve contar com dois mil associados.

Haitianos em Santa Catarina - Janeiro de 2015

Imigração11/01/2015 | 14h39

Idioma, leis e preconceito são barreiras para haitianos

Imigrantes criam associações para defender seus direitos e buscar maior integração

Idioma, leis e preconceito são barreiras para haitianos Marcio Cunha/especial
Jean Innocent Monfiston quer construir vida em SC ao lado da mulher, Staccy, e do filho Christopher, que nasceu no Brasil Foto: Marcio Cunha / especial
Darci Debona
 
O ato para lembrar as vítimas do terremoto ocorrido há cinco anos no Haiti, organizado neste domingo, em Chapecó, foi coordenado pela Associação dos Haitianos de Chapecó. A entidade criada há quatro meses, para apoiar os imigrantes do país caribenho que chegam em Chapecó.
O presidente da associação, Jean Inoccent Monfiston, revelou as dificuldades dos haitianos no Brasil e em Santa Catarina. Entre elas está o preconceito, que alguns admitem terem sofrido. Outro problema grave é a língua, já que os haitianos falam francês, espanhol e crioulo, língua falada no Haiti.
Monfiston chegou ao Brasil em 2011, ficou um ano no Amazonas, com sua esposa Staccy Derogeni, onde nasceu Christopher, que está com quase três anos. Depois foi para Balneário Camboriú e, há oito meses, mora em Chapecó, onde trabalha numa agroindústria.
Confira a seguir a entrevista que ele concedeu ao Diário Catarinense.
DC: Qual a lembrança do dia do terremoto?
Jean Inoccent Monfiston: Ele marca um dia muito triste. Um dia em que muitos haitianos morreram. E queremos mostrar que não nos esquecemos deles.
DC: Como está a reconstrução do país, que notícias vocês tem de lá?
Monfiston: Está mais ou menos. Mas apenas 15 a 20% foi reconstruído?
DC: Qual a proposta de criar a associação?
Monfiston: Temos cinco associações em Santa Catarina, em Balneário Camboriú, Itajaí, Itapema, Navegantes e Chapecó.  O primeiro objetivo é conservar a cultura haitiana. Depois queremos instruir sobre as leis trabalhistas que são muito diferentes das haitianas. Também queremos nos unir mais com os brasileiros. Queremos ainda criar uma Federação em Santa Catarina.
DC: Quais as principais dificuldades dos haitianos aqui?
Monfiston:  A principal dificuldade é o idioma. Temos dificuldades para comunicação. Na associação vamos iniciar um curso de português.
DC: Vocês sofrem algum tipo de preconceito?
Monfiston: Para mim ninguém manifestou nada. Mas tem haitianos que relatam que já sofreram ofensas.
DC: Como está a imigração?
Monfiston: Muita gente ainda vem. Mas a gente orienta aos que estão trabalhando lá que não venham. Temos médicos, engenheiros, que ganham um salário melhor lá do que aqui. A remuneração no Haiti é melhor, mas não tem emprego para todo mundo.
DC: Quais são seus planos?
Monfiston:  Meu plano é ficar no Brasil e construir minha vida com minha mulher e meu filho.