sexta-feira, 28 de junho de 2013

Noticia 28-06-2013.

RIO BRANCO, ACRE - Sexta - Feira, 28 de Junho de 2013

Abrigo de imigrantes em Brasileia recebe nova infraestrutura

Desde que a força-tarefa do governo federal, com apoio do governo do Estado, iniciou a intervenção no abrigo de Brasileia, que está recebendo os imigrantes vindos do Haiti e de países da África, o acolhimento aos imigrantes melhorou.

O acolhimento aos imigrantes melhorou com a ajuda da força tarefa do governo federal (Foto: Sérgio Vale/Secom)
O acolhimento aos imigrantes melhorou com a ajuda da força-tarefa do governo federal (Foto: Sérgio Vale/Secom)
 
Nas últimas semanas um mutirão foi promovido para a limpeza e construção de banheiros – são 15 novos banheiros com chuveiros. Também foram colocadas tendas e adequada uma área para ser refeitório dos abrigados. O local ainda recebeu um trailer, que faz o cadastro de acolhimento dos imigrantes que vão chegando ao local. Em apenas um dia foram cadastrados 50 novos imigrantes no abrigo, que até o último sábado, 27, registava 900 imigrantes.

Na entrada os imigrantes registram nome, sobrenome e país de origem. Os passaportes dos haitianos são separados dos demais, tendo em vista que o Brasil tem um acordo com o Haiti e por isso há acolhimento desses imigrantes no país.

Entre um dos voluntários na comunicação entre imigrantes e trabalhadores do abrigo está o haitiano Emmanuel Baptiste (Foto: Sérgio Vale/Secom)
Entre um dos voluntários na comunicação entre imigrantes e trabalhadores do abrigo está o haitiano Emmanuel Baptiste (Foto: Sérgio Vale/Secom)
 
Embora o número de imigrantes ultrapasse a capacidade máxima do abrigo, o secretário de Desenvolvimento Social do Estado, Antônio Torres, esclarece que todos têm seus colchões e recebem alimentação e água. Ele frisa também que a maior parte não vem para o Acre com intenção de fixar residência no estado. “Há quem já tenha familiares aqui no Brasil e esperam apenas pelo dinheiro que os parentes enviam para poder ir embora. Outros têm planos de ir para São Paulo e outras capitais”, esclarece.

Antônio Torres explicou que há duas semanas o governo do Estado mantém no município um secretário de Estado para auxiliar no trabalho de acolhimento dos imigrantes. A mobilização envolve a Secretaria de Segurança, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social.
“A contribuição do governo federal tem sido muito importante. O Estado já estava com esse trabalho e agora todos trabalham muito mais seguros. As secretarias do Estado estão dando total apoio”, disse Torres.

Voluntariado em meio a uma “Torre de Babel” de línguas
A comunicação entre os imigrantes e os brasileiros que trabalham no abrigo ainda é um desafio. Alguns imigrantes falam inglês, francês e crioulo (dialeto haitiano) e outros falam espanhol. Mas o voluntariado que parte dos próprios imigrantes faz toda diferença. Entre um dos voluntários na comunicação entre imigrantes e trabalhadores do abrigo está o haitiano Emmanuel Baptiste.

Até o último sábado, 27, eram 900 imigrantes em Brasileia (Foto: Sérgio Vale/Secom)
 
Até o último sábado, 27, eram 900 imigrantes em Brasileia (Foto: Sérgio Vale/Secom)
Ele chegou ao trailer instalado no abrigo para escrever placas de aviso em crioulo. “São placas para que as pessoas entendam que não podem colocar a mão na água”, diz ele em ‘portunhol’.
De fato, outro desafio para as equipes que atuam no abrigo é a higiene. Em virtude disso, a força-tarefa promoveu no último fim de semana palestras sobre higiene coletiva e pessoal. “Para essas palestras também vamos contar com o voluntariado de uma haitiana que fala espanhol e entende o português. Ela vai traduzir o que o palestrante vai dizer”, contou a psicóloga Lucíola Pedroza.

A psicóloga que veio participar da força-tarefa é natural de Alagoas e relata que já atuou em diversas ações de apoio a tragédias. “Mas nunca tinha feito um trabalho parecido com este. Deixo o Acre com uma sensação muito boa, espero poder voltar aqui. Fiquei feliz por poder ajudar essas pessoas que estão chegando em busca de uma vida melhor”, completou.

(Por Nayanne Santana/Agência de Notícias do Acre)

terça-feira, 25 de junho de 2013

Curitiba - Parana

domingo, 23 de junho de 2013

Os haitianos são: educados, trabalhadores e qualificados. Estão aqui atentos por oportunidades.

fonte: Gazeta do Povo
Daniel Castellano/ Gazeta do Povo / Desimond – em Pinhais, à espera de sua Elisabeth e dos filhos
Cerca de 500 haitianos se espalham pela periferia de Curitiba e região. Eles recolhem os enganados pelos “coiotes” e juntam os tostões para trazer suas famílias

Charles Vallon, 30 anos, é economista; Emanuel Giraut, 25, estudante de Direito; Jean Robert, 46, professor do ensino básico; Wilgens Seneus, 26, faz design de joias. Nenhum dos quatro atua na área. Quando lhes perguntam em que gostariam de trabalhar, respondem que “procuram serviço na construção civil”, área de atuação que melhor paga os imigrantes haitianos que fizeram de Curitiba e Região Metropolitana seu porto a partir de janeiro de 2012.


Haiti é aqui

Fragmentos de um país em Pinhais e no Butiatuvinha

• Repúblicas

Uma casa haitiana, com certeza, é habitada por até uma dezena de pessoas, todas debaixo de regras – camas sempre arrumadas, turma da cozinha a postos e rateamento das despesas. Há necessidade de ser aceito pelos vizinhos, daí a observação do silêncio e dos modos. Em Pinhais, na Rua Alzira Rodrigues da Silva, duas casas geminadas abrigam novos paranaenses como Exumo, Ebelson, Damisson, Edmont, Altidor e Demostherne – este um líder da pequena comunidade. Metade dos moradores está sem emprego e sai todo dia atrás de vagas. Para quem não fala português,as oportunidades são pequenas. A família sabe pouco do que se passa aqui. Uma ligação de cinco minutos para o Haiti custa R$ 13 – proibitivo para os recém-chegados.


• Ocupações

A vila Três Pinheiros, no Butiatuvinha, já é conhecida na região de Santa Felicidade como o pequeno Haiti. Há pelos menos cinco comunidades na ocupação, pelo menos duas delas recém-formadas. Uma é só de moças – empregadas em redes de farmácia. A dona de um pequeno mercado garante que entende tudo o que os novos vizinhos falam, mas a mímica ainda impera. Uma das urgências para a nova comunidade são as aulas de português e a integração ao sistema de ensino.

Bon soir

Salão ao lado de igreja, em Santa Felicidade, é único território haitiano em Curitiba

• Em francês

A Pastoral do Migrante atende a pessoas de qualquer país, mas, de um ano para cá, o espaço está ocupado pelos haitianos. Diferente de nacionalidades como a paraguaia ou a boliviana, eles não dispõem de um espaço comum. Resta-lhes o salão ao lado da Paróquia São José, em Santa Felicidade. Naqueles aproximados 80 metros quadrados, a língua extraoficial é o francês e o crioulo. Bon soir, dizem os haitianos quando chegam diante da assistente social Elizete Sant’Anna.A falta de emprego e a dificuldade de adaptação faz com que muitos cheguem ali em busca de ajuda.


• Na fila

Vindos de uma economia informal, muitos haitianos estranham as leis trabalhistas brasileiras. Há 9 mil deles no país. Sofrem com os horários. Discordam de tantos descontos. O trabalho noturno é pouco tolerado pelas mulheres. Não faltam denúncias de exploração e calotes. Há quem veja na vulnerabilidade haitiana motivos para lhes pedir préstimos para os quais não foram contratados.

• Vodu

A maior parte dos haitianos se declara católico, embora também entre eles seja crescente o número de evangélicos. Do vodu, culto afro predominante no Haiti, fala-se pouco, talvez por medo do preconceito.







Os dados não são absolutos. De acordo com a Polícia Federal, 247 haitianos vivem em Curitiba. Para a Pastoral do Migrante – serviço da Igreja Católica envolvido com a acolhida dos viajantes –, seriam pouco mais de 500. Em média, 12 por dia recorrem à pastoral, que funciona na Avenida Manoel Ribas, em Santa Felicidade. Procuram ocupação profissional nas 20 empresas voluntárias, roupas, alimentos, orientação da assistente social Elizete Sant’Anna e do padre Gustot Lucien, 40, haitiano com uma década de Brasil, convertido em autoridade no assunto.

Os recém-chegados têm em comum não só a memória do terremoto de 2010 – é raro algum que não tenha pelo menos um parente morto ou mutilado na tragédia. Eles são jovens e jovens adultos – entre 24 e 44 anos –, homens na maioria, têm estudo fundamental, são casados ou comprometidos, falam francês e creole. Não fosse a língua, estariam em condições melhores do que a maioria dos brasileiros médios.

Enfrentaram longa viagem até aqui, com passagens atribuladas pelo Acre e Mato Grosso. Querem fazer a vida no Paraná, apesar do frio nunca antes experimentado e dos vizinhos, que ainda os olham com desconfiança. Acreditam que devem começar pelo serviço de pedreiro, função mais adequada para quem aprende português “na marra”. Para as mulheres, a cozinha, desde que não precisem voltar de madrugada, algo quase proibitivo para uma haitiana.

Não é tudo. A construção civil paga entre R$ 1,2 mil e R$ 2 mil, com benefícios, garantia de que um haitiano empregado poderá realizar o maior de todos os desejos: trazer mulher e filhos para o Brasil, deixando-­os perto de um final feliz. A reportagem da Gazeta do Povo conversou com cerca de 30 imigrantes da ilha caribenha. Com exceção de um, que perguntou qual o segredo para namorar uma brasileira, todos os outros contaram juntar os tostões para trazer a família. Uma viagem dessa não sai por menos de R$ 2,5 mil. Poucos, por enquanto, conseguiram arcar com as despesas.

Saudade

Os haitianos encontram dificuldades de emprego, de moradia, de adaptação e o olho vesgo da população. Mas nenhum problema é maior do que o sentimental. A maioria está há mais de um ano longe da mulher e dos filhos, vivendo em alojamento, num país de hábitos e idioma estranhos. Tímidos, há quem pergunte se, por acaso, o governo brasileiro – que facilitou os vistos de entrada – não pensa em trazer o resto das famílias. “Cada noite sinto mais saudade”, admite Dieunel Saintilus, 27, operário do Shopping Pátio Batel, ao lado de outros oito conterrâneos ali empregados.

Os haitianos têm fama de resistentes à pobreza e às adversidades. E de alegres – uma meia verdade. “Não é tudo tão bonito como parece”, comenta Elizete, sobre o grupo que chama atenção pelo asseio e educação principesca. Muitos foram enganados por coiotes, que lhes venderam a ilusão do Paraná rico e cobraram caro por isso – até US$ 2,5 mil. Houve quem deixou profissão e segurança. É comum relatos sobre médicos e poliglotas entre os refugiados. “Temo quando começam a se deprimir”, confessa padre Gustot, ao contar de uma jovem que acaba de ajudar a voltar ao país. Tudo indica que um período de retorno de muitos outros deva se seguir.

A conta para os haitianos, afinal, é mais complicada do que parece. Eles vivem em repúblicas espalhadas por bairros como Boa Vista e Butiatuvinha; em cidades como Colombo, Pinhais e São José dos Pinhais. Como não conseguem fiadores, alugam casebres em ocupações irregulares, o que não lhes sai barato. Um quarto e sala numa favela pode custar R$ 500 ao mês. Dividem todas as despesas de cama e mesa. Solidários, acolhem os colegas sem-teto, o que faz com que numa casa haja sempre uma parcela desempregada. “Encontrei dois na Rodoviária. Trouxe-os comigo”, conta Garnet Castin, 31, sobre haitianos passados para trás pelos “coiotes” e abandonados ao chegar.

Um dos maiores orgulhos da comunidade é dizer que não há nenhum haitiano mendigo. Dentro das casas, chama atenção a ordem e a limpeza, contrastando muitas vezes com as vilas em que estão. A mendicância, aliás, é uma das muitas coisas do Brasil que não entendem. “Deve ser destino”, arrisca o ex-comerciante e candidato “à obra” Luiz Vicente, 30 anos. Ele divide uma pensão da Rua do Rosário, Centro de Curitiba, com outros 30 compatriotas. Em três meses, vira-se bem no português, uma exceção à regra. Não leva o menor jeito para erguer paredes – mas promete levantar muitas até trazer sua noiva para o Mundo Novo. É seu sonho. O segundo, trabalhar numa loja. “Por que não? Sou bom nisso”, garante. Recado dado.