sábado, 12 de janeiro de 2013

Notícias: 12-01-2013

Três anos após terremoto, pouco dinheiro externo chega a instituições haitianas

Atualizado em  12 de janeiro, 2013 - 08:54 (Brasília) 10:54 GMT
Barracas próximas a catedral haitiana destruída pelo terremoto, em foto de janeiro de 2013 (AFP)
Muitos ainda vivem em barracas temporárias, como estas, ao lado da destruída catedral de Porto Príncipe
Três anos após o devastador terremoto que arrasou o Haiti, o escritório especial da ONU para o país caribenho revela que pouco do dinheiro de ajuda humanitária chegou diretamente ao governo e às organizações locais.
Na tarde de 12 de janeiro de 2010, quando a terra tremeu sob a capital Porto Príncipe, rapidamente evidenciou-se a escala épica da destruição. Muitas das frágeis construções haitianas simplesmente desintegraram, deixando 200 mil mortos e mais de 2 milhões de desabrigados.
Cerca de US$ 9 bilhões (R$ 18,3 bi) foram doados para a assistência humanitária - US$ 3 bilhões dados por indivíduos e empresas privadas e US$ 6 bilhões por governos e instituições globais (conhecidos como doadores bilaterais e multilaterais), segundo o escritório do enviado especial da ONU ao Haiti (OSE, na sigla em inglês).
Mas o que a própria OSE se pergunta é por que menos de 10% desses US$ 6 bilhões de doadores públicos chegaram ao governo haitiano, e por que menos de 1% foi dado às organizações locais.

Doações externas ao Haiti

Entre janeiro de 2010 e junho de 2012, segundo dados do Escritório Especial da ONU ao Haiti:
Total: US$ 9,04 bilhões
Sendo US$ 3 bi de doadores individuais e empresas e US$ 6 bi de doadores bilaterais e multilaterais, como governos
Desses US$ 6 bi, apenas 9,6% foram para o governo haitiano e 0,6% para organizações haitianas
"Instituições públicas foram muitas vezes deixadas de lado, (preteridas em relação a) organizações bem-intencionadas, que correram para prestar serviços de emergência", afirma o vice-enviado especial Paul Farmer, em um relatório da OSE. "Muitos montaram caras clínicas temporárias, enquanto instituições públicas não tinham fundos suficientes para pagar os salários de seus médicos e enfermeiras."
"Nossa experiência no Haiti nos faz lembrar que, quando se trata de dinheiro para ajuda, onde e como gastamos é igualmente importante ao quanto gastamos", ele conclui.

Relutantes

O relatório sugere que as preocupações quanto à corrupção e à fraqueza das instituições haitianas deixaram doadores internacionais relutantes em enviar dinheiro diretamente a organizações do país, preferindo instituições externas.
Mas os autores do texto opinam que, em vez de escantear o governo haitiano, os doadores deveriam ter feito mais para ajudá-lo a liderar os esforços de resgate.
A Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho no Haiti diz que as conclusões do relatório devem servir para um debate. "O governo precisa ter mais controle sobre mais recursos", opina Alex Claudon, representante da ONG no Haiti.
Resposta do governo foi melhor no caso dos furacões Isaac e Sandy, dizem observadores
Mas ele ressalta que a situação está "visivelmente" melhorando. "O governo está liderando. Vimos isso durante a tempestade de furacões, com a chegada do Sandy. O sistema nacional está fazendo o que pode para liderar a resposta internacional."
O Programa de Desenvolvimento da ONU (UNDP) concorda que a liderança nacional está se fortalecendo. Mas sua diretora-sênior no Haiti, Sophie De Caen, diz que é importante lembrar que o país - de histórica instabilidade política e pobreza extrema - ficou seriamente danificado pela tragédia de 2010. Muitos funcionários do governo perderam suas vidas.
"O governo estava muito enfraquecido imediatamente após o terremoto, em parte por causa da morte de servidores", ela explica.

Progresso lento

A prioridade, agora, é dar ao governo capacidade de liderar. Para alguns, ele já deu um bom exemplo ao responder mais rapidamente aos furacões Isaac e Sandy em 2012.
"Foi um sucesso para o governo ter liderado nessas iniciativas", diz De Caen. "Nossa preferência é sempre ter liderança governamental, mas ainda há um longo caminho a percorrer para ter os sistemas (estatais) funcionando corretamente, e isso leva tempo."
Para muitos, porém, o progresso no Haiti tem sido lento, apesar dos bilhões de dólares em ajuda.
Palácio presidencial destruído após tremores; muitos doadores preferiram doar a ONGs que ao governo
Cerca de 358 mil pessoas permanecem em abrigos temporários com pouco acesso a saneamento, saúde e educação, segundo a organização Oxfam.
E o governo canadense, frustrado com a lentidão, recentemente anunciou que vai rever suas contribuições ao Haiti.
Ao mesmo tempo, quem trabalha na ajuda ao país lembra das duras condições enfrentadas em janeiro de 2010.
"É preciso colocar as coisas em contexto e lembrar de Porto Príncipe três anos atrás. A destruição foi total, e depois veio a (epidemia) de cólera", diz Claudon, da Cruz Vermelha.
Os que continuam atuando no Haiti insistem que houve progresso desde então. Cerca de 80% dos destroços do terremoto foram limpos, parte deles usada para reconstruir casas e vias.
Parte dos abrigos temporários foi fechada, e mais de 53 mil pessoas puderam voltar a seus antigos bairros graças a subsídios e investimentos em serviços.
Outra razão para esperança, segundo De Caen, é o aumento na frequência escolar e o progresso ambiental (plantio de árvores e contenção de margens de rios).
Já Claudon espera que, no quarto aniversário do terremoto, outro avanço possa ser comemorado: "Nossa maior esperança é que não haja mais ninguém morando em barracas até o ano que vem", diz ele.
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publicado em 12/01/2013 às 16h34:

Terremoto de 2010 com cerimônias discretas


Publicidade
Por Susana Ferreira
PORTO PRÍNCIPE, 12 Jan (Reuters) - O ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton participou neste sábado no Haiti, junto com o presidente do país, Michel Martelly, da cerimônia que marcou o terceiro aniversário do terremoto que destruiu a capital haitiana e matou mais de 250 mil pessoas.
Uma cerimônia simples ocorreu num local onde muitas vítimas foram enterradas, nos arredores da capital do Haiti, Porto Príncipe. Nem o presidente Martelly, nem o enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) ao país, nem Bil Clinton fizeram discursos.
"Hoje estamos aqui para não esquecermos e para fazermos melhor", disse o primeiro-ministro do Haiti, Laurent Lamothe, à imprensa. "Fomos seriamente atingidos, é verdade, mas estamos nos mantendo fortes para reconstruir o nosso país."
Também neste sábado, o governo do Haiti marcou a ocasião com um discreto ato no local do destruído palácio nacional, no centro de Porto Príncipe. Num curto discurso, Martelly homenageou os mortos e também os que sobreviveram.
"Um pouco mais sozinhos, mais vulneráveis", afirmou Martelly. "Expresso para vocês a minha compaixão."
Ele falou para os doadores internacionais, agradeceu a ajuda e prometeu que o processo atual de reconstrução vai ser avaliado de perto para evitar desperdício e corrupção. "Eu entendo a preocupação de vocês", disse ele.
Martelly também anunciou um novo código para construções para que, segundo ele, uma tragédia como a de 2010 não volte a acontecer.
O aniversário do terremoto neste ano foi diferente do que ocorreu nos dois anos anteriores, quando houve longas cerimônias, shows musicias, orações de líderes religiosos e plantio de árvores.
Três anos depois do terremoto, a reconstrução é muito lenta. Metade dos 5 bilhÕes de dólares prometidos pelos doadores foi entregue.
Mais de 350 mil desabrigados ainda vivem em campos. Somente 6 mil casas permanentes foram construídas desde o terremoto.

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Presidente haitiano lamenta lenta reconstrução após terremoto de 2010

12/01/2013 - 15h16 | do UOL Notícias
  • PORTO PR¯NCIPE, 12 Jan 2013 (AFP) - Três anos depois de um terremoto que devastou o Haiti, o presidente Michel Martelly pediu neste sábado a reestruturação de programas internacionais de ajuda para que voltem a focar na reconstrução do país.

    Cerca de 250.000 pessoas morreram nos tremores de 12 de janeiro de 2010. Milhares ainda vivem em condições difíceis em campos improvisados, e agora enfrentam a violência, surtos de cólera e eventualmente furacões.

    "Para onde foi o dinheiro dado ao Haiti após o terremoto?", questionou Martelly, lembrando que apenas um terço da ajuda foi de fato dada ao miserável país caribenho.

    "A maior parte da ajuda foi usada por organizações não-governamentais em operações de emergência, não para a reconstrução do Haiti", afirmou, pedindo por uma inspeção dos esforços internacionais.

    "A melhor coisa é trabalhar com o governo", disse Martelly.

    "Quanto mais ajuda é enviada para o Haiti, mais pessoas dizem que a situação não está progredindo. Alguma coisa não está funcionando. (...) Vamos verificar isso diretamente para implementarmos um sistema melhor que dê resultados".

    A União Europeia disponibilizou $40,7 milhões em ajuda, enquanto a comissária Kristalina Georgieva afirmava que o bloco "continua comprometido em ajudar os haitianos que precisam e ajudar o país em sua reconstrução".

    O palácio presidencial do Haiti continua em ruínas, assim como diversos outros prédios governamentais. O Parlamento foi arrasado e a catedral de Porto Príncipe foi reduzida a escombros. Outras igrejas e escolas também foram destruídas.

    Nos últimos dois anos, centenas de alojamentos foram construídos, e o governo se instalou em prédios pré-fabricados, até que as sedes dos ministérios possam ser reconstruídas. Contudo, o processo de reconstrução tem sido no mínimo lento.

    "Registramos danos na ordem de $13 bilhões", indicou Martelly, que subiu ao poder da nação de 9,8 milhões de pessoas cerca de um ano após o terremoto.

    "Meu sonho é ver o país se tornar um amplo canteiro de obras", acrescentou.
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12/01/2013 07h23 - Atualizado em 12/01/2013 07h25

Haiti falha em conduzir reconstrução pós tremor, diz embaixador do Brasil

Ao G1, diplomata vê falta de estrutura para usar dinheiro de forma eficiente.
Presidente haitiano pediu a Dilma que evite 'grande retirada' de militares.

Tahiane Stochero Do G1, em São Paulo
Três anos após o terremoto que deixou 300 mil mortos e 1,5 milhão de desabrigados, o Haiti tem dificuldades de coordenar a reconstrução do país devido à fragilidade institucional. Em entrevista exclusiva ao G1, o embaixador brasileiro em Porto Príncipe, José Luiz Machado e Costa, afirma que grande parte dos recursos prometidos pela comunidade internacional na época do desastre acabou não sendo repassado porque, muitas vezes, os doadores alegam falta de transparência na aplicação do dinheiro.
perfil_embaixador_300 (Foto: Editoria de Arte / G1)
"O governo tem dificuldade de coordenar de maneira eficiente a ajuda externa. Não há estrutura suficiente e o país não tem conseguido. O processo também foi prejudicado por desastres recentes, como furacões, chuvas e epidemias, que fizeram os recursos serem canalizados para outros fins", diz Machado e Costa.
Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que, desde a tragédia, países e organizações internacionais desembolsaram US$ 5,78 bilhões (R$ 11,3 bilhões) para a ajuda humanitária e a reconstrução do Haiti. Deste total, segundo o relatório, 10% "se perdeu nos sistemas governamentais" e apenas 46,7% foram realmente empregados.
O G1 questionou a assessoria da presidência haitiana sobre o tema, mas até a publicação desta reportagem não recebeu resposta.
Em 12 de janeiro de 2010, um terremoto de 7 graus na escala Richter foi registrado às 16h53 do horário local (19h53 na hora de Brasília). Entre os mortos estão 21 brasileiros: 18 militares, o diplomata Luiz Carlos da Costa, que era vice-representante do Secretário-Geral da ONU no Haiti, a médica Zilda Arns e outra mulher, que tinha dupla cidadania. O terremoto principal foi seguido de vários tremores de menor impacto, gerando medo e tensão entre a população.
Em março de 2010, dois meses após a tragédia, as promessas de doação chegaram a somar US$ 9,9 bilhões (R$ 20,09 bilhões). Também foram garantidos, em forma de perdão de dívidas do país, outros US$ 2,5 bilhões (R$ 5,075 bilhões).
Com o passar do tempo, no entanto, ofertas foram sendo retiradas. Alguns países, entre eles Canadá e Estados Unidos, alegaram que não há garantias de que o dinheiro chegará a quem precisa. Outros exigiram destinação certa para as verbas, como a aplicação na construção de casas ou de escolas em determinada área, medida que nem sempre é atendida pelo governo haitiano.
Apesar de mais de 80% dos destroços terem sido removidos das ruas, 390 mil desabrigados pelo terremoto ainda vivem em 575 grandes campos de tendas. Sistemas de telefonia fixa, saneamento, recolhimento de lixo e infraestrutura funcionam de maneira incipiente. A falta de eletricidade é reclamação comum da população. Tanto a presidência haitiana quanto a ONU, que mantém desde 2004 uma missão de paz no país liderada pelo Brasil, despacham de espaços provisórios após a destruição total de suas sedes.

"Já percebemos mudanças marcantes nas ruas. Não há tantos escombros, 80% dos destroços já foram removidos e houve evolução na situação de segurança – as tropas da ONU têm uma atuação bem mais discreta", afirma o diplomata brasileiro.

Além disso, a ausência de sistemas econômico e judiciário organizados também impedem investimentos externos e fazem com que mais de 50% da população não tenha emprego formal.
O governo tem dificuldade de coordenar de maneira eficiente a ajuda externa. Não há estrutura suficiente e o país não tem conseguido. O processo também foi prejudicado por desastres recentes, como furacões, chuvas e epidemias"
José Luiz Machado e Costa,
embaixador do Brasil no Haiti
Campo de deslocados Jean Marie Vincent, na periferia de Porto Príncipe, para onde foram levados muitos haitianos que perderam suas casas durante o terremoto de 2010 (Foto: Renato Machado/G1)Campo de deslocados Jean Marie Vincent, periferia
de Porto Príncipe, para onde foram levados muitos
haitianos que perderam suas casas com terremoto
de janeiro de 2010 (Foto: Renato Machado/G1)
"Os investimentos começam a chegar – no fim de 2012 foi inaugurado o primeiro hotel cinco estrelas e também um polo industrial têxtil que contou com a presença da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton. Mas ainda falta muito. O grande objetivo é manter a estabilidade política que permita o surgimento de uma economia forte, criando empregos e gerando desenvolvimento", diz Machado e Costa.
"Na verdade há um certo problema em relação à maturação da sociedade para que este [desenvolvimento] ocorra de forma concreta e com velocidade. A competitividade local baixa, a baixa qualidade da mão de obra disponível, a precária rede de infraestrutura – com rodovias, portos e sistema elétrico precários – e a ausência de segurança jurídica ainda afugentam o investidor", completa o embaixador.
Fundo para Reconstrução
Com apoio do Banco Mundial, um mecanismo denominado "Fundo para Reconstrução do Haiti" foi criado logo após o desastre para coordenar a ajuda externa e "assumir, aos poucos, a responsabilidade de administrar" o trabalho com idoneidade.

Até o fim de 2012, 19 países haviam repassado US$ 381,05 milhões (R$ 773 milhões) através do fundo, entre eles o Brasil, que doou US$ 55 milhões. Mas em quase três anos, 31% dos recursos ainda não foram alocados e os outros 69% foram destinados a projetos que estão apenas começando a sair do papel.

O prometido inicial era de US$ 579 milhões, mas os valores foram sendo reduzidos e quatro países desistiram de ajudar. Outros contribuintes preferem repassar o dinheiro diretamente a ONGs que atuam no país.

"Há milhares de ONGs no Haiti trabalhando sem coordenação. Não há cadastro, ninguém sabe quantas são e se acumulam ações", afirma Machado e Costa. O modo de atuação e as auditorias realizadas pela ONU, por agências de cooperação e por ONGs seguem padrões variados que impossibilitam a verificação da aplicação do dinheiro. "A pulverização dos recursos, portanto, acabou dificultando o controle e a transparência do processo", completa o diplomata.

O principal fator que fez que grande parte dos recursos não fosse alocado é a instabilidade política. E isso ainda vai levar tempo"
Josef Leitmann, diretor do
Fundo para Reconstrução do Haiti
Criança haitiana recebe material escolar de verba doada para reconstrução do país (Foto: HRF/Divulgação)Criança haitiana recebe material escolar de verba
doada para reconstrução (Foto: HRF/Divulgação)
Dinheiro parado
Josef Leitmann, diretor do Fundo para Reconstrução do Haiti capitaneado pelo Banco Mundial, explica ao G1 que, desde que uma comissão do governo que aprovava os projetos foi extinta, em outubro de 2011, o processo de destinação dos recursos está parado.

Isso porque, para que o dinheiro seja direcionado a projetos, é necessária a aprovação do Ministério do Planejamento e também de um conselho formado pelo primeiro-ministro e por todos os ministros haitianos.

Entre janeiro e julho de 2012, a falta de consenso político deixou o país sem primeiro-ministro. Só na última terça-feira (8), o fundo recebeu do novo governo formado as diretrizes e demandas de aplicação. "Infelizmente, o trâmite é bem burocrático e foi uma proposta do governo mesmo. Temos que respeitar a vontade do governo haitiano e, por isso, há 15 meses a avocação dos investimentos está parada", diz Leitmann.

"O principal fator que fez que grande parte dos recursos não fosse alocado é a instabilidade política. E isso ainda vai levar tempo. Nosso objetivo é atuar onde há vácuo ou lacuna setorial. Todo doador quer que o dinheiro vá para educação e saúde, ninguém quer gastar com entulho ou lixo, o que é fundamental", afirma.

Até o momento a verba foi alocada para 17 projetos de contenção de rios, prevenção de desastres, reciclagem, agricultura, entre outros. Segundo o diretor do fundo, o governo "não tem capacidade de fiscalizar e cadastrar" todas as milhares de ONGs que atuam no terreno e recebem capital externo.
Papel do Haiti
Para o embaixador do Brasil no país, "os próprios haitianos precisam fazer a parte deles e assumir aos poucos a responsabilidade". "Estamos falando de um país soberano, é difícil coordenar as finanças, não se pode fazer intervenções. Os países doadores precisam ter certeza que o dinheiro vai ser usado corretamente e isso não está funcionando. Muitos recursos não chegam nos projetos que deveriam ou nem são distribuídos", diz José Luiz Machado e Costa.

O governo haitiano argumenta que, quando a ajuda chega à margem do Estado, é difícil garantir que as prioridades sejam atendidas e controlar a aplicação, diz o diplomata.

No Boulevard Jean-Jacques Dessaline, centro de Porto Príncipe, prédios seguem demolidos ou inclinados três anos após o terremoto (Foto: Renato Machado/G1)No Boulevard Jean-Jacques Dessaline, no centro de Porto Príncipe, ainda é possível ver prédios demolidos ou inclinados três anos após o terremoto que deixou 300 mil mortos no país (Foto: Renato Machado/G1)
Haiti pede que Brasil não retire tropas
O ano de 2013 é considerado crucial: serão realizadas eleições municipais para prefeito e vereador, além da escolha de um terço da composição do Senado haitiano.

"Quem conhece o Haiti sabe que o período eleitoral normalmente é conturbado, com disputas políticas e instabilidade. Este ano está se mostrando surpreendente a capacidade do governo em negociar com os diversos grupos políticos. E a negociação aqui não é algo cultural, há uma certa intransigência e é necessário criar um conselho eleitoral para gerir as normas do pleito, e o governo está tentando solucionar este impasse", relata o embaixador brasileiro.
A presidente [Dilma Rousseff] assegurou que a participação do Brasil continuará conforme os critérios da ONU, que está prevendo que a missão de paz termine em 2016"
José Luiz Machado e Costa,
embaixador do Brasil no Haiti
Lixo acumulado nas ruas é um dos grandes problemas do Haiti (Foto: Foto: Tahiane Stochero/G1)Lixo acumulado na rua é problema comum desde
2010 no Haiti (Foto: Foto: Tahiane Stochero/G1)
O Haiti precisa de ajuda, e não poderíamos estar alheios ao drama humano vivenciado em um país do nosso entorno regional, que em muitos aspectos se parece ao Brasil"
José Luiz Machado e Costa,
embaixador do Brasil no Haiti
Temendo aumento da violência e de protestos no período, o presidente haitiano, Michel Martelly, enviou à presidente Dilma Rousseff uma carta pedindo que o Brasil não faça uma "grande retirada" de tropas da missão da ONU. Atualmente, dois mil soldados brasileiros participam da missão. A partir de maio de 2013, está programada a saída de 700 deles, conforme cronograma estabelecido pela ONU.

"Há poucos meses, milhares de ex-soldados haitianos saíram às ruas protestando com armas porque o Martelly prometeu a recriação do Exército, abrindo uma celeuma. O Haiti não tem Forças Armadas desde que o ex-presidente Jean Bertran-Aristides as dissolveu, em 2000, após um histórico de golpes de estado. Houve temor de confronto entre estes ex-soldados e a Polícia Nacional Haitiana (PNH) e as tropas da ONU, mas tudo acabou bem", explica o diplomata.

O custo para recriação do Exército ficaria em R$ 284 milhões, e os países que apoiam financeiramente o governo não aceitaram colaborar, argumentando que há outras prioridades.

Carta para Dilma
"Ao enviar a carta para Dilma, Martelly temia que houvesse uma retirada abrupta dos soldados brasileiros que poderia expor uma fragilidade na área da segurança e gerar instabilidade no país no período eleitoral. A presidente assegurou que a participação do Brasil continuará conforme os critérios da ONU, que está prevendo que a missão de paz termine em 2016", afirma o embaixador.

No prazo de três anos, a operação internacional de manutenção de paz no Haiti retiraria os soldados armados e se transformaria em uma "missão de construção da paz" para apoiar o Estado no fortalecimento de instituições e na geração de desenvolvimento.

"O Brasil vai continuar ajudando o Haiti com o que puder. Nas eleições, o Itamaraty está verificando com o Tribunal Superior Eleitoral a possibilidade de ajudar com urnas eletrônicas. Seria um teste para implantar totalmente o sistema futuramente. Ou também podemos enviar observadores ou apoiar com ajuda financeira. Nos interessa que o pleito ocorra de forma democrática", salienta José Luiz Machado e Costa.

"O Haiti precisa de uma economia que funcione, precisa urgentemente criar empregos e infraestrutura para que possa se desenvolver. Não podemos aceitar que um país na nossa região esteja enfrentando este problema sem nos envolver, pautados pela solidariedade", acrescenta o diplomata. "O Haiti precisa de ajuda, e não poderíamos estar alheios ao drama humano vivenciado em um país do nosso entorno regional, que em muitos aspectos se parece ao Brasil".

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Serviço Jesuíta aos Refugiados - Haiti 3º Aniversário da tragédia do terremoto

 Servicio Jesuita a Refugiados (SJR)
Haití: “Poner en primer lugar los derechos humanos de las personas desplazadas”


Bogotá, Washington D.C., Roma, Puerto Príncipe. 12 de enero de 2013- Tres años después del terremoto que estremeció Haití el 12 de enero de 2010, cerca de 400.000 personas desplazadas siguen viviendo en situación de vulnerabilidad y desprotección en los campamentos en la capital Puerto Príncipe y sus alrededores.  

Campamento Automeca (Foto: SJR)
21% de este total de personas desplazadas enfrentan constantes amenazas de expulsión por parte de los propietarios de los terrenos, donde fueron obligados a improvisar sus tiendas de campaña luego de la tragedia. Además de tantos otros problemas que aquejan a esta población tales como la epidemia de cólera, la inseguridad alimentaria, los impactos destructores que deja cada año la temporada de los huracanes y las condiciones precarias de vida.
El Servicio Jesuita a Refugiados (SJR) observa con gran preocupación que los derechos y las garantías pertinentes para la protección de las personas desplazadas durante el desplazamiento, tal como están definidos en los Principios Rectores de los Desplazamientos Internos de la ONU, continúan siendo irrespetados en Haití; por lo que las personas desplazadas en Haití constituyen uno de los grupos más vulnerables y con una necesidad cada vez mayor de protección.
Con motivo del tercer aniversario del terremoto, el SJR hace un llamado urgente a las autoridades haitianas, los países y organismos donantes, las agencias humanitarias y demás actores de la Comunidad internacional a poner en primer lugar los derechos humanos de las personas desplazadas, principalmente su derecho a la vida, la seguridad, la alimentación, la educación, la salud, la vivienda.
El SJR urge a las autoridades haitianas y a los organismos internacionales competentes a proporcionar protección y asistencia humanitaria a todas las personas desplazadas, principalmente a los grupos vulnerables tales como las mujeres embarazadas, las personas de la tercera edad, las niñas, niños y adolescentes. Del mismo modo, el SJR los  invita a establecer en la mayor brevedad posible, conjuntamente con las mismas personas desplazadas, las condiciones y los medios para su pronta relocalización y su reintegración digna en la sociedad, tal como lo establecen los Principios Rectores de los Desplazamientos Internos. 
“Todas las tiendas están en malas condiciones”
Después de tres años, es intolerable que tantas personas permanezcan en tiendas de campaña y en viviendas provisionales. Las deplorables condiciones en las que viven los desplazados en los campamentos son incompatibles con el respeto a su dignidad como seres humanos.
En Automeca, uno de los campamentos más grandes de la capital haitiana donde viven 1.307 familias, “todas las tiendas están en malas condiciones, ya no pueden resistir nada”, narra el sacerdote jesuita Wismith Lazard, director de los proyectos del SJR en siete campamentos en Puerto Príncipe.
“Es verdad que ha habido varios intentos para reubicar a la población de los campamentos; pero, aún no se han logrado soluciones definitivas al problema del cierre de todos los campos y al de la vivienda en general. Todo parece indicar que el cierre total de los campamentos no será para mañana”, afirma el Jesuita haitiano.
Los proyectos deben estar estructurados y basados en las necesidades locales
A pesar de los grandes problemas que las personas desplazadas enfrentan en los campamentos, siguen luchando por reconstruir sus vidas.
En los últimos tres años el SJR ha acompañado a personas desplazadas en siete campamentos en Puerto Príncipe y en comunidades haitianas en Fonds-Parisien, Anse-à-Pitres y Los Cacaos a través de varios proyectos. Hemos sido testigos de la gran creatividad de las comunidades locales y de su capacidad para tomar las riendas de sus destinos cuando encuentran las oportunidades.
La clave está en acompañar a las comunidades locales y escucharlas para encontrar la manera cómo ayudarlas a responder a sus necesidades. Los proyectos deben estar estructurados y basados en las necesidades locales y no en lo que los actores externos consideran necesario.
“El olvido es la gran amenaza para Haití”
Por otro lado, a medida que pasa el tiempo, Haití va desapareciendo de la agenda internacional.
“Las Organizaciones No Gubernamentales (ONG) internacionales abandonan cada vez más los campamentos o reducen sus proyectos y esferas de acción por falta de fondos, mientras que la situación del país no ha mejorado sustancialmente y el panorama es aún sombrío para las personas desplazadas”, explica Merlys Mosquera, directora regional del SJR para Latinoamérica y el Caribe (SJR LAC).  
“El olvido es la gran amenaza para Haití”, advierte Mosquera.
El tercer aniversario del terremoto debe ser un alto en el camino para recordar Haití, intensificar la solidaridad con el pueblo haitiano y poner en el centro de la cooperación internacional con este país los derechos humanos de las personas desplazadas y damnificadas por el terremoto y otras catástrofes naturales sucesivas.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Notícia: 10-01-2013

VIDEO = CRB SOBRE O HAITI
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Quinta-feira, 10 de janeiro de 2013, 10h38

Nova York: Missa recorda vítimas de terremoto no Haiti


Rádio Vaticano



Um grupo de funcionários das Nações Unidas reuniu-se nessa terça-feira, 8, em Nova York (EUA), para participar de uma Missa pelas vítimas do terremoto no Haiti. O sismo completa três anos neste sábado, 12.

A Missa celebrada, na Igreja da Sagrada Família, relembrou todas as pessoas que perderam a vida no terremoto, incluindo os 102 funcionários da ONU. A maioria deles trabalhava na Missão de Estabilização no Haiti, Minustah.

O terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu a ilha caribenha em 12 de janeiro de 2010, deixando 222 mil mortos e 1 milhão e 300 mil desabrigados.

Ainda esta semana, as Nações Unidas devem realizar alguns eventos em memória dos que perderam a vida no terremoto incluindo cerimônias, na sede da Minustah, em Porto Príncipe, capital do Haiti.

O sismo causou vítimas entre os brasileiros como o vice-chefe da missão Luiz Carlos da Costa e Dra. Zilda Arns que tinha ido ao Haiti para levar a Pastoral da Criança ao país.

Notícia Internacional - 10-01-2013 (Dia 12 de Janerio: terceiro aniversário da tragédia do terremoto no Haiti)

 

 

No Haiti, 500 mil pessoas precisam de ajuda e mais de 81 mil sofrem de desnutrição


Porto Príncipe (Arquivo: Marcello Casal Jr/ABr)
Brasília - A Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (cuja sigla em inglês é Minustah), da Organização das Nações Unidas (ONU), informou que mais de 500 mil pessoas no país necessitam de “ajuda imediata”. Segundo o cálculo, pelo menos 81,6 mil pessoas sofrem de desnutrição imediata, inclusive crianças. Após o terremoto de janeiro de 2010, a situação no país se agravou, segundo a ONU, com as tempestades Isaac e Sandy.
Pelas autoridades da ONU, a insegurança alimentar afeta 2,1 milhões de haitianos. Para a Minustah, é fundamental investir US$ 144 milhões no Haiti. Das 81,6 mil pessoas que sofrem de desnutrição, 20 mil estão em situação considerada aguda com risco de morte.

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10 de Janeiro de 2013 - 11h16

No Haiti, 500 mil precisam de ajuda; 81 mil sofrem de desnutrição


A Organização das Nações Unidas (ONU), informou nesta quinta-feira (10), que mais de 500 mil pessoas no país necessitam de “ajuda imediata”. Segundo o cálculo, pelo menos 81,6 mil pessoas sofrem de desnutrição imediata, inclusive crianças. 


Após o terremoto de janeiro de 2010 e somadas as tempestades Isaac e Sandy a situação no país se agravou, informou a ONU.

Pelas autoridades da ONU, a insegurança alimentar afeta 2,1 milhões de haitianos. Para a Minustah, é fundamental investir US$ 144 milhões no Haiti. Das 81,6 mil pessoas que sofrem de desnutrição, 20 mil estão em situação considerada aguda com risco de morte.

Atualmente 358 mil pessoas vivem em abrigos. A ONU alertou sofre a frequência de surtos de cólera. Para a organização, o governo do Haiti não tem condições de resolver sozinho, sem ajuda externa, a precariedade das condições de vida no país.

Fonte: EBC

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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Entrevista com o Embaixador do Brasil no Haiti (Natural do Rio Grande do Sul) 06-1-2013

COBERTURA ESPECIAL - Panorama Haiti

06 de Janeiro, 2013 - 01:40 ( Brasília )

PANORAMA HAITI - Embaixador José Luiz Machado e Costa Solidariedade ao Haiti

Solidariedade é um dos pilares da relação do Brasil com o Haiti, diz embaixador

Às vésperas de completar três anos do pior terremoto da história recente do Haiti, o país ainda busca a reconstrução. O embaixador do Brasil no Haiti, José Luiz Machado e Costa, disse à Agência Brasil que está entre as prioridades da comunidade internacional manter o apoio ao país.
 



Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Às vésperas de completar três anos do pior terremoto da história recente do Haiti, o país ainda busca a reconstrução. O embaixador do Brasil no Haiti, José Luiz Machado e Costa, disse à Agência Brasil que está entre as prioridades da comunidade internacional manter o apoio ao país, e que o governo brasileiro pretende ampliar a concessão de vistos para haitianos. Há ainda projetos de cooperação em energia e saúde, o treinamento de policiais haitianos e até aulas gratuitas de português são organizadas.

“No caso do Brasil, a solidariedade é um dos pilares da nossa relação com o Haiti”, disse o diplomata, lembrando que os dois países reúnem uma série de afinidades. Uma das formas de construir, ressaltou Machado e Costa, é pensar no Haiti como um local para investimentos e comércio. Paralelamente, o embaixador disse que os esforços para a melhoria da qualidade de vida da população, com mais segurança e condições, podem ser percebidas nas ruas de Porto Príncipe, a capital haitiana. A seguir, os principais trechos da entrevista do diplomata à Agência Brasil.

Agência Brasil (ABr) - Às vésperas de completar três anos do pior terremoto da história recente do Haiti, como estão o país e a população?
José Luiz Machado e Costa -
Houve avanços consideráveis - a transição democrática entre dois presidentes eleitos pelo voto popular [René Préval, que transmitiu o poder a Michel Martelly], a estabilidade na área da segurança, a evolução progressiva, ainda que lenta, em direção a um amadurecimento institucional, e uma vontade evidente de superar os obstáculos ao desenvolvimento.

ABr – Mas, as imagens de destruição ainda são presentes nas ruas.
Machado e Costa -
Os escombros do terremoto foram retirados e melhorou muito a situação dos deslocados. Hoje, há cerca de 360 mil pessoas ainda vivendo em tendas, contra 1,5 milhão que havia logo após o sismo [terremoto]. A reconstrução do país, contudo, tem sido prejudicada por outros desastres naturais, como as secas e os furacões, pela dificuldade do governo para coordenar recursos públicos, pela utilização ineficiente da ajuda externa, além da redução de recursos disponibilizados pela comunidade internacional.

ABr - Como observador estrangeiro, o que o senhor nota que são as principais necessidades no Haiti?
Machado e Costa -
Acredito que o Haiti precise urgentemente de fortalecimento institucional, de apoio para a formação de quadros, por exemplo, além de um ciclo virtuoso de energia, investimento e emprego. O número de desempregados e a informalidade no mercado de trabalho são grandes desafios, pois perpetuam as condições de pobreza e subdesenvolvimento. É preciso, portanto, gerar empregos.

ABr – Na prática, como a situação pode ser resolvida?
Machado e Costa -
É necessário atrair investimentos, não só em grandes negócios, mas também em pequenas e médias empresas. As novas indústrias e negócios, contudo, precisarão de eletricidade que, no Haiti, depende quase inteiramente de combustíveis fósseis e, portanto, é cara, poluente, além de intermitente .

ABr - Como o Brasil tem contribuído com o Haiti?
Machado e Costa
- O Brasil é o maior fornecedor de tropas para a missão de paz das Nações Unidas, presente no Haiti desde 2004, ajudando a garantir a estabilidade e segurança do país. Nossas tropas também colaboram para o desenvolvimento, com projetos de engenharia, como pavimentação de ruas e iluminação pública, e projetos sociais, que aproximam os militares da população e aumentam o carinho e o respeito dos haitianos pela missão. Também temos aqui importantes projetos de cooperação técnica, especialmente na área de saúde, com a construção de três hospitais, dois laboratórios regionais, um centro de reabilitação, além da formação profissional de 2 mil agentes de saúde, no valor de US$ 70 milhões.

ABr – A presidenta Dilma Rousseff, quando esteve em fevereiro, destacou a questão energética, o senhor considera uma das principais contribuições do Brasil?
Machado e Costa -
Na área de energia, estamos doando US$ 40 milhões para a construção de uma usina hidrelétrica que fornecerá eletricidade para mais de 1 milhão de pessoas. Esses valores [citados em parte da resposta anterior] são os maiores da cooperação brasileira no mundo. Além disso, procuramos colaborar, juntamente com outros membros da comunidade internacional, para o reforço do diálogo democrático entre as diferentes forças poíticas do país, incentivando sempre o princípio da não intervenção nos assuntos internos.

ABr – A polêmica em torno da concessão dos vistos parece superada.
Machado e Costa -
Temos concedido vistos permanentes para os haitianos que queiram trabalhar no Brasil, sem exigência de emprego prévio, algo talvez único no mundo, e temos um Centro Cultural Brasil-Haiti, com aulas de português, divulgação da cultura brasileira e apoio à cultura haitiana.

ABr – Há planos, por parte do Brasil, de ampliar esse apoio e inclusive parcerias?
Machado e Costa
- Sim. Além dos grandes projetos em energia e saúde temos novas iniciativas de cooperação em curso como, por exemplo, com a Polícia Nacional do Haiti. Dezesseis policiais deverão ser treinados no Brasil em 2013 e eles repassarão o conhecimento para centenas de outros policiais, quando regressarem. Em relação aos haitianos que querem migrar para o Brasil, decidimos aumentar a concessão de vistos permanentes. Outra iniciativa para o ano que vem serão as aulas gratuitas de português para funcionários da Chancelaria [Ministério das Relações Exteriores] e outros órgãos do governo haitiano.

ABr - A questão da solidariedade com o Haiti está presente em várias reuniões internacionais, na sua opinião o tema continua entre as prioridades da comunidade (internacional)? Por que?
Machado e Costa
- Sim, a solidariedade ao Haiti continua entre as prioridades da comunidade internacional, mas essas prioridades estão condicionadas às restrições orçamentárias decorrentes da crise econômica pela qual passam diversos países do Norte. A solidariedade existe não apenas devido às fortes imagens do terremoto de 2010, mas também porque o Haiti é um dos países mais pobres do mundo e o mais pobre das Américas. No caso do Brasil, a solidariedade é um dos pilares da relação com o Haiti, já que o país, ao contrário de outros atores com presença importante aqui, nunca foi uma metrópole colonial. Temos uma realidade mais próxima  dos haitianos que aquela dos países mais desenvolvidos, e há uma percepção de igualdade que é muito valorizada por eles.

ABr - É possível pensar em investimentos privados do Brasil para o Haiti? Quais são as eventuais vantagens que isso pode trazer para os empresários brasileiros?
Machado e Costa -
Sim. O Haiti tem tradição em indústria têxtil, mão de obra abundante e barata e proximidade com o maior mercado consumidor do mundo – os Estados Unidos. Quando o Congresso brasileiro aprovar projeto de lei [já existente] semelhante a uma lei que há nos Estados Unidos, que concede facilidades alfandegárias a produtos haitianos, empresas do setor têxtil brasileiro poderão produzir no Haiti e exportar, de forma vantajosa, para o mercado norte-americano e, mesmo de volta para o Brasil – nesse caso, reduzindo os efeitos nefastos das importações chinesas no nosso país. Outro possível setor que poderia ser explorado é o de biocombustíveis, pois o Haiti tem solo e clima propícios para a produção da cana-de-açúcar, a principal riqueza do país nos tempos coloniais, e conta com vantagens de importação pelo mercado norte-americano.

ABr - As Forças de Paz das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (cuja sigla é Minustah) deverão ficar por mais quanto tempo no país? Quando deverá ser definido esse calendário?
Machado e Costa -
A presença da Minustah será necessária enquanto a Polícia Nacional do Haiti não estiver apta a garantir sozinha a segurança da população.  Serão necessários 15 mil homens para  um nível de segurança mínimo. Hoje, a PNH [Polícia Nacional do Haiti] conta com apenas 10 mil integrantes e o ritmo de formação de novos policiais tem sido lento.

ABr – Mas o calendário menciona a retirada lenta e gradual, não exatamente completa das tropas, por que?
Machado e Costa -
Estima-se que até o fim do mandato do atual presidente, Michel Martelly, em 2016, a meta de 15 mil homens estará atendida, o que permitiria, em tese, a saída das tropas. O calendário de saída,  definido de forma conjunta entre a ONU [Organização das Nações Unidas], a comunidade internacional e o governo haitiano,  prevê uma redução lenta e gradual. A retirada completa, contudo, dependerá das condições reais de segurança.