Marina Camargo Repórter Estagiária jornal Unisul Hoje
A palestra intitulada “A acolhida aos Haitianos em Santa Catarina: depoimento de um imigrante” aconteceu nesta quinta-feira, 8, na Unidade Trajano do Campus Grande Florianópolis. Alunos e professores dos cursos de Direito e Relações Internacionais prestigiaram os depoimentos dos palestrantes Clarens Chery, fundador da Associação Kay Pa Nou, que promove o acesso e a inclusão dos haitianos em condição de vulnerabilidade no Estado de Santa Catarina, e da diretora de mobilização comunitária da Secretaria de Assistência Social de Florianópolis, Patrícia Cechinel.
O terremoto ocorrido no Haiti em janeiro de 2010 transformou em escombros a capital do país e a saída para muitos haitianos têm sido procurar no Brasil as condições de vida que não existem mais dentro de suas fronteiras. A fim de regularizar a situação dos haitianos, uma vez que a legislação brasileira e as convenções internacionais não reconhecem o refúgio relacionado a desastres naturais ou fatores climáticos, criou-se no Brasil, em janeiro de 2012, o chamado – Visto Humanitário. Isto através da Resolução 97 do Conselho Nacional de Imigração, que permite aos haitianos se estabelecer no Brasil, buscar emprego e ter os mesmos direitos de qualquer estrangeiro em situação regular.
Até julho de 2015, aproximadamente 26 mil vistos humanitários para imigrantes haitianos foram concedidos.
A professora Solange de Santiago considera fundamental discutir esse assunto entre os universitários. “Nossa função social enquanto universidade é essa. Promover não só uma construção de um cidadão que tem uma competência técnica, mas que também tem um comprometimento com a sociedade e com os problemas da realidade, com os problemas atuais”, pondera a professora.
Formada em Direito, a palestrante Patrícia Cechinel está há cinco meses envolvida com o atendimento aos imigrantes que chegam em Florianópolis e acredita já ter amadurecido muito desde então. “Vivencio diariamente situações muito complicadas daqueles recém chegados. Por isso escuto, canto e rezo com eles, naqueles momentos de angústia. Mesmo não entendendo o crioulo, nós dávamos a mão e rezávamos.” Durante sua palestra ela trouxe diversas histórias difíceis de luta, resistência, superação e esperança trazidas por esses refugiados. “Acho que SC, especificamente Florianópolis tem que estar preparada para recebê-los de uma forma um pouco mais humanitária. Ter locais adequados, isto é, ter dormitórios para homens e mulheres, onde eles possam fazer uma casa de passagem até que possam arrumar um trabalho e a partir dali levar a vida”, pontua.
A diretora trouxe muita sensibilidade na intervenção e para ela ainda é muito difícil deixar totalmente de lado a emoção para agir de maneira burocrática. Ela destacou muito a questão humanitária do ser humano, na visão dos alunos de Relações Internacionais, Wellyngton Amorim e Marta Boscato.
Integrante do grupo de pesquisa Eficiência Energética e Sustentabilidade, Amorim vê questão humanitária como peça fundamental para os acadêmicos do curso. “Precisamos ter uma visão mais otimista do que devemos fazer. Problemas humanitários, crises sociais, crises econômicas, necessitamos de uma saída positiva para tudo isso. Acredito que a questão dos Imigrantes seria uma situação que requer olhos. São pessoas que precisam da nossa ajuda, que querem encontrar novas oportunidades em países vizinhos e o mais simples que podemos fazer é abrir nossas portas para dar oportunidades a eles que procuram”, diz.
Para Marta Boscato foi muito tocante ouvir que imigrantes ficam meses sem contato com suas famílias, que ficaram no país de origem. Mulheres que sofreram abusos durante essa travessia ou que ficaram dias sem comer. Por esses motivos que a aluna vê tanta necessidade no trabalho de acolhida aos imigrantes. “Precisam de ajudas, aceitando, tentando recolocar eles para construir uma nova vida. Se pensarmos além, pode ainda ser útil para a economia do estado, pensando na mão de obra oferecida por essas pessoas cheias de esperança para uma vida melhor“, finaliza.