terça-feira, 2 de setembro de 2014

RIO DE JANEIRO 02-09-2014 Grande Oportunidade de trabalho para Imigrantes Haitianos no brasil


Abaixo o telefone e e-mail para contato.


Boa Tarde sou do Rio de Janeiro
Tenho 5 vagas para trabalho e local para ficar estas vagas, quero empregar haitianos.
 
A nossa empresa e de jardinagem não precisa ter experiencia basta ter boa vontade para aprender ensinamos todo o trabalho.
Vou falar um pouco das nossas intenções " Cargo Auxiliar de jardinagem, salario R$:956,65 Bruto + transporte + café da manhã + almoço e janta + local para morar tudo por conta da empresa admissão chegando aqui na empresa"
Documentação necessária: Documentação pessoal de estrangeiro completa!
 RNE, Carteira de Trabalho (CTPS), CPF, CNH  
 
O nome da Empresa
 Biosfera Soluções Ambientais e Serviços de Jardinagem Ltda
 

Att.

sábado, 30 de agosto de 2014

OPORTUNIDADE DE TRABALHO - NO MUNICIPIO DE JOIA - RS = 30-08-2014

 
ABAIXO OS CONTATOS (e-mail e telefone).
 
BOA SORTE A AMBAS AS PARTES.
 
 
Bom dia
 
Gostaria de saber se há interesse para duas vagas em propriedade rural, necessitaria de um casal para emprego apenas para homem com certa experiencia com maquinas agricolas e ainda há vaga para solteiro serviços gerais, ofereço salario compativel, com a função, moradia, alimentação etc...propriedade no RS, interior.
Rodrigo Werlang Lebelein
 
Um Abraço


Municipio JOIA - RS. 


rodrigocruzalta@bol.com.br
9620.7897 / 8138.3450 (055)






 

sábado, 23 de agosto de 2014

Noticia 22-08-2014

Fiscalização resgata haitianos escravizados em oficina de costura em São Paulo


SRTE
Quatorze pessoas passavam fome e eram obrigadas a viver em condições degradantes. Resgate é o primeiro envolvendo haitianos no Estado de São Paulo
22/08/2014
Por Stefano Wrobleski

Da Repórter Brasil
Doze haitianos e dois bolivianos foram resgatados de condições análogas às de escravos em uma oficina têxtil na região central de São Paulo. O resgate ocorreu no início deste mês após fiscalização de auditores do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e uma procuradora do Ministério Público Trabalho (MPT). As vítimas trabalhavam no local há dois meses produzindo peças para a confecção As Marias, mas nunca receberam salários e passavam fome. O caso é inédito. Apesar de imigrantes haitianos já terem sido resgatados da escravidão no Brasil, até então, nenhum havia sido libertado nem no Estado de São Paulo, nem no setor têxtil.

Segundo a fiscalização, antes de serem aliciados, os haitianos estavam sendo abrigados pela pastoral Missão Paz, mantida pela paróquia Nossa Senhora da Paz para acolher migrantes de outros países que chegam a São Paulo. Além de alojar os migrantes, a pastoral promove palestras a empresários sobre a cultura e os direitos dos estrangeiros, onde os interessados em contratar os recém-chegados preenchem fichas com informações que são usadas para verificar a situação trabalhista das empresas na Justiça e monitorar as contratações.

De acordo com o padre Paolo Parise, que coordena a missão desde 2010, o interesse dos empresários pela Missão Paz diminui quando eles são informados de que os migrantes têm os mesmos direitos dos demais trabalhadores no Brasil. O padre diz que, de janeiro a julho deste ano, 587 empresas contrataram 1710 migrantes através da pastoral. O número de empresas, porém, equivale a apenas um terço do total de interessados que assistem à palestra inicial.

A dona da oficina onde as 14 vítimas de trabalho escravo foram resgatadas faz parte dos dois terços de empresários desistentes. “Em maio, ela e seu esposo vieram, participaram da palestra e, depois, sumiram sem contratar ninguém”, disse Paolo. Antes de ser aliciado, Daniel*, um dos haitianos, já tinha emprego fixo em um shopping da capital e retornava todas as semanas à pastoral para dar, voluntariamente, aulas de português aos colegas conterrâneos.

Daniel aprendera o idioma pela internet antes de vir para o Brasil e vem aprimorando seus conhecimentos desde 2012, quando chegou ao país pelo Acre. A maior parte dos seus colegas, no entanto, havia chegado fazia menos de um mês ao Brasil e o crioulo (junto com o francês, uma das línguas oficiais do país) era o único idioma que sabiam falar.

Ante a promessa de receber um salário menor, mas com benefícios como alimentação e alojamento garantidos pelo empregador, ele aceitou a oferta da dona da oficina: “O maior problema no Brasil são os custos de vida, como aluguel e outras coisas”, disse à reportagem. Daniel, então, deixou o emprego no shopping e chamou alguns colegas para quem dava aulas na Missão Paz. Para o trabalho, a dona da oficina havia dito a ele que não era necessário saber costurar: eles seriam contratados como aprendizes e teriam contato com o ofício trabalhando na confecção para As Marias. No Haiti, eles tinham ocupações diversas. Daniel era vendedor autônomo, enquanto outra das vítimas estudava para ser enfermeiro.

Condições degradantes
Na oficina, as vítimas começaram a trabalhar em junho. No local também ficavam os quartos onde os doze haitianos, um casal de bolivianos e seu filho de quatro anos dormiriam. Com colchões em mal estado no chão, mofo, infiltrações e péssimas condições de higiene, a auditora fiscal Elisabete Cristina Gallo Sasse, que participou da operação, disse à Repórter Brasil que os cômodos eram tão pequenos que “nós [a equipe] não conseguíamos nem ficar dentro deles”.
De segunda a sábado, submetidos a uma jornada que podia chegar a até 15 horas por dia, os bolivianos teriam a função de ensinar às demais vítimas a costurar. Assim, os haitianos tiveram suas carteiras de trabalho assinadas na função de “aprendiz de costureiro”. A fiscalização apurou que a maioria dos trabalhadores tinha mais do que a idade máxima, de 24 anos, para exercer a função de aprendiz e não havia qualquer instituição acompanhando o aprendizado. O artifício tinha a função de permitir o registro em carteira com salário de R$724, o mínimo brasileiro e inferior ao piso, de R$1017, da categoria dos costureiros para a região.

Fome
Apesar de baixo, o salário nunca veio. A alimentação, outra promessa inicial, era de baixa qualidade e não havia refeitório no local. Quando, quase dois meses depois do início do trabalho, as vítimas reclamaram que queriam ser pagas, receberam da dona da oficina um vale de R$100. Em contrapartida, deixaram de receber comida.

Ao chegar ao local, a fiscalização encontrou os trabalhadores almoçando pães franceses que eles mesmos haviam comprado. Os fiscais também descobriram uma cozinha de uso exclusivo da dona da oficina e em melhores condições do que a disponibilizada aos costureiros. Dentro dela, os alimentos eram escondidos no interior de um sofá. “O que mais me chocou foi ver a crueldade do ser humano de deixar trabalhadores passando fome, de ter o alimento e não fornecer, deixando-os em situação de penúria”, lamentou Elisabete.

Antes de deixar a oficina, a equipe interditou o imóvel e as máquinas de costura pelo “grave e iminente risco de incêndio”, conforme os fiscais escreveram no relatório da operação, por conta de instalações elétricas irregulares, da falta de extintores dentro do prazo de validade e da não existência de proteção das partes móveis das máquinas de costura.

A confecção As Marias foi responsabilizada pelas infrações aos direitos dos trabalhadores com base nasúmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST). A empresa pagou todas as verbas rescisórias e os salários atrasados dos funcionários e firmou Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho para fornecer cestas básicas e hospedagem às vítimas
.
À Repórter Brasil, a estilista e dona da empresa, Mirian Prado, disse que não tinha conhecimento das condições de trabalho na oficina e que só terceirizava o trabalho: “A gente estava na hora errada, no lugar errado e fazendo a coisa errada sem saber”, disse. Depois da autuação, Mirian informou que a empresa passou a fiscalizar outros fornecedores e que pretende deixar de terceirizar o serviço em breve para ter melhor controle sobre sua produção.

Já Daniel, que passara por outros empregos no Acre, Rio Grande do Sul e São Paulo antes de ser escravizado, disse pensar em voltar para seu país natal: “No Brasil tem muitos empregadores que falam para a gente [haitianos] que vão pagar uma coisa e, quando a gente chega lá, acabam pagando menos, não pagam hora extra… Muitos empresários pagam direito, mas eu tive muitos problemas”, explicou.

Em outra ação, adolescente grávida é resgatada
Também em São Paulo, uma equipe do MTE resgatou 17 bolivianos submetidos a trabalho escravo em outra oficina têxtil, produzindo para a empresa Seiki. Dentre as vítimas estava uma adolescente de 15 anos grávida de sete meses. As jornadas chegavam a 12 horas por dia e os documentos dos trabalhadores haviam sido retidos, o que caracterizou restrição de liberdade: “Todos os aspectos de suas vidas privadas eram controlados”, concluiu a fiscalização no relatório da operação.

Os alojamentos ficavam junto dos locais de trabalho. Além dos trabalhadores, quatro crianças de seis meses a sete anos de idade moravam no local, considerado em condições degradantes. Por mês as vítimas recebiam R$700 cada, um valor menor que o salário mínimo e de cerca de 40% do piso para a categoria. Os funcionários mais antigos trabalhavam no local desde novembro de 2013.

A terceirização foi considerada ilegal e a Seiki pagou todas as verbas rescisórias, responsabilizando-se solidariamente pelos trabalhadores, conforme determina a legislação vigente. Horácio Conde, advogado da empresa, disse à reportagem que a empresa desconhecia as infrações e não sabia do número total de contratados, já que somente três tinham carteira de trabalho assinada. Horácio
afirmou ainda que, após o flagrante, a Seiki deve “aprimorar determinadas práticas de fiscalização”.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Jornal Zero Hora - RS 17-08-2014

A viagem ao Brasil

Os novos imigrantes sob a ameaça dos coiotes

Traficantes de pessoas chegam a cobrar US$ 2 mil para trazer haitianos, que também sofrem extorsão de policiais e taxistas no Peru e na Bolívia. Rede de corrupção inclui venda de vistos e outros documentos falsificados

Atualizada em 18/08/2014 | 09h4818/08/2014 | 05h01
Os novos imigrantes sob a ameaça dos coiotes Diego Vara/Agencia RBS
"Por sorte, eu tinha dinheiro, mas muitos haitianos que ficam na mesma situação são obrigados a passar fome", diz Roldy Foto: Diego Vara / Agencia RBS
 
Falar com os novos migrantes radicados no Rio Grande do Sul (personagens de reportagem especial publicada na ZH deste domingo) também é colher testemunhos de um martírio. Quase todos penaram no caminho até o Brasil, sobretudo os que ingressaram pelo Acre, na fronteira com o Peru. São frequentes os relatos de extorsão por parte de coiotes – traficantes de seres humanos – e da polícia estrangeira, além de casos de estupro.

Wilkenson Samsom, 19 anos, vive com o pai em Encantado. Ambos trabalham em frigorífico da Dália Alimentos. Para realizar o sonho da vida melhor, o jovem teve de pagar US$ 300 a coiotes e policiais peruanos. Situação semelhante ocorreu com Roldy Julien, 25 anos, presidente da Associação Haitiana de Encantado. Ele fez a rota da maioria dos seus compatriotas: foi até Quito, no Equador, e lá tomou um ônibus que atravessou parte do país, ingressou no Peru e chegou até a fronteira do Brasil, entrando pelo Acre.

No Peru, com quatro amigos, foi extorquido duas vezes. Na primeira, o quarteto teve de pegar 500 sóis (moeda peruana) e mais US$ 300. Receberam um salvo-conduto. Dias depois, perto do Brasil, foram abordados novamente. Veio a notícia de que o papel que tinham em mãos já não valia mais. Dessa vez, Julien foi forçado a pagar sozinho a quantia de US$ 200. Seu passaporte ainda ficou apreendido por uma semana, tempo em que ele precisou se desdobrar com o dinheiro que lhe restava para garantir teto e comida.

— Não sei se tem ladrão no Peru. Mas parece que a polícia é pior — desabafa Julien, que, no Rio Grande do Sul, perdeu três dedos da mão direita em um acidente de trabalho.

Leia mais:Usando a Copa como desculpa, ganeses buscam refúgio no sul do país
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Cerca de 300 ganeses já chegaram a Caxias do Sul
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Os relatos se repetem desde 2010, quando explodiu a nova imigração para o Brasil. Em maio de 2011, 20 haitianos recorreram à Polícia Federal em Tabatinga (AM), denunciando um compatriota deles chamado Repert Julien, 28 anos, que teria descumprido promessa de hospedagem paga por eles. Em 5 de julho daquele ano, os federais prenderam Julien, que cobrava até US$ 2 mil para trazer haitianos do Peru ao Brasil. Foi o primeiro inquérito de uma série.

No Acre, foi preso em abril de 2013 o jogador de futebol haitiano Innocent Olibrice, quando tentava embarcar no aeroporto de Rio Branco um garoto de 13 anos, haitiano, para Macapá (AP). Innocent, que atuava num time acreano e foi solto cinco dias depois, responde a processo judicial por tráfico de pessoas e estelionato. De acordo com as investigações da PF, o atleta está envolvido numa rede de coiotes. Ele foi contratado pela família do menino para encaminhá-lo à Guiana Francesa ao custo de 500 euros (o equivalente a cerca de R$ 1,5 mil).

Innocent negou a acusação, mas é processado. A pena para o tráfico é de um a três anos de reclusão e expulsão do país. A socióloga Letícia Mamed entrevistou dezenas de migrantes no Acre e constatou: a fuga em razão da falta de trabalho, educação, saúde, habitação e segurança no seu país de origem impulsiona a migração. No Haiti, por exemplo, parece ter se estruturado um negócio com despachantes, falsificadores, aliciadores e coiotes no processo de agenciamento. Relatos também informam existir naquele país a venda de vistos e outros documentos falsificados, inclusive supostas facilidades que prometem acelerar a viagem. Algo que aumentou após o terremoto de 2010.

zh.doc: quem são os novos imigrantes do Rio Grande do Sul
Na viagem ao Brasil, os haitianos pagam entre US$ 2 mil e US$ 5 mil (valor semelhante ao cobrado de ganeses entrevistados por ZH em Criciúma e em Caxias do Sul). E são vítimas frequentes de extorsões praticadas por policiais e taxistas, sobretudo peruanos e bolivianos. Letícia estima que, de 2010 a 2014, os haitianos já teriam gasto cerca de R$ 6 bilhões em pagamentos à rede de tráfico e corrupção estruturada para chegar ao Acre.

E não só haitianos. Em torno de 16 diferentes nacionalidades já passaram pelo acampamento montado pelas autoridades acreanas na fronteira com o Peru. Todos mostram receio em falar sobre os contatos, a organização do percurso, os agentes contratados e a realização da viagem em si. E quando decidem falar sobre o assunto, geralmente as explicações são pactuadas pelo grupo antes da exposição ao interlocutor.


Empresas agilizam os vistos e arranjam emprego aos migrantes

A vigorosa migração de africanos e centro-americanos para o Brasil tem rendido lucros a dois tipos de empresas: as que se especializam em legalizar a situação dos imigrantes e as que prometem colocá-los no mercado de trabalho. O primeiro serviço é o mais urgente – sem ele, o forasteiro fica clandestino. O segundo é necessário para viabilizar financeiramente a permanência do estrangeiro no país. Esse tipo de intermediação é permitido pela lei.

Em Criciúma, maior polo de atração de ganeses para o Brasil, Zero Hora recebeu a informação de que uma das empresas que legaliza a situação de estrangeiros é a Fullvisa, de Brasília. O site da firma anuncia alguns dos serviços oferecidos: visto temporário para quem tem trabalho no Brasil, transformação do visto temporário em permanente, solicitação de permanência definitiva com base em casamento com brasileira (o). No item Nossa Visão, a Fullvisa não esconde a meta: “Atingir a liderança no mercado nacional de imigração de estrangeiros”.

Como a Fullvisa se localiza em Brasília, torna-se mais fácil e ágil a entrada, acompanhamento e eventuais visitas aos órgãos responsáveis pela análise dos pedidos de visto, uma vez que estes se encontram na Capital Federal – justifica a empresa, que atua há 10 anos.

Proprietário da Fullvisa, o administrador de empresas Charliston Ferreira admite que seu ganha-pão é a legalização de estrangeiros, mas nega que priorize a nova onda de migrantes africanos e centro-americanos. Trabalha mais com auxílio a empresas europeias e americanas que pretendem trazer seus funcionários para o Brasil, para pequenas ou grandes temporadas.

– Agimos como despachantes especializados em estrangeiros. Atuamos em processos administrativos junto ao Ministério do Trabalho, requisições de visto à Polícia Federal. Conseguimos legalizar a situação de algumas centenas por ano – diz Charliston, que aprendeu o ofício nos EUA.

Agência ganha a cada empregado
Outra empresa que atua na legalização de estrangeiros é a Overseas, com sede em São Paulo. O foco é em grandes empresas multinacionais que precisam estabilizar a vida de seus funcionários estrangeiros no Brasil, mas também legaliza novos migrantes caribenhos e africanos. Há poucos dias, a Overseas conseguiu agilizar vistos para 20 haitianos que atuam num supermercado e em duas firmas de construção civil. Foi contratada pelas empresas, não pelos migrantes.

– Prestamos consultoria, ensinamos os caminhos mais ágeis – resume Mateus Valério, gerente da Overseas.
Nem ele, nem o dono da Fullvisa revelam valores cobrados.
Fábrica de móveis contrata migrantes via agência que atua há 21 anos na Serra. Foto: Diego Vara, Agência RBS

O passo seguinte, para o migrante, é conseguir serviço. É aí que entram empresas como a Talentum, agência de empregos que atua há 21 anos na região serrana do Rio Grande do Sul. No ano passado, eles arranjaram serviço para 80 migrantes africanos e caribenhos. Foram trabalhar em indústrias de sucos, de móveis, autopeças e limpeza. O recrutamento e seleção exige que pelo menos um do grupo de migrantes fale português ou espanhol. Ele será o guia dos demais nas negociações de trabalho. E qual o ganho da Talentum?

– Cobramos do empresário que vai dar emprego aos migrantes 50% do primeiro salário de cada um dos novos empregados. É uma taxa padrão – informa Ricardo Soldatelli Borges, proprietário da Talentum, que é psicólogo e ajuda a fazer a triagem. – O valor não é deduzido dos contracheques.
Borges se orgulha dessa atividade e diz que desconhece reclamações quanto à qualidade do serviço prestado pelos migrantes:
– Com a presença dos estrangeiros, diminuíram as queixas quanto a faltas ao serviço e empregados doentes.

domingo, 17 de agosto de 2014

Informacao 17-08-2014

 

Imigrantes haitianos e africanos são explorados em carvoarias e frigoríficos

Estudo recém-divulgado estima que, até o fim deste ano, haverá cerca de 50 mil de cidadãos do Haiti no Brasil

por

O Haitiano Ivon Belisarie na carvoaria: trabalho degradante e quilos a menos - Fernando Donasci / O Globo
CASCAVEL e MARINGÁ (PR) - O suor que escorre pelo rosto se junta à poeira negra do carvão e tinge a face e os braços de Ivon Belisarie. A fuligem avermelha seus olhos. Desde que chegou ao Brasil, há dois anos e meio, de segunda a sábado, das 8h às 17h, o imigrante haitiano corta madeira, abastece fornos que produzem carvão vegetal e ensaca o produto que será enviado a centros urbanos do país, numa carvoaria em Maringá (PR). Ele não se senta um minuto. Emagreceu tanto que está abaixo do peso.
No terremoto de 2010, além de nove parentes, Ivon perdeu o patrão, um empresário haitiano do ramo de arroz para quem trabalhava como motorista havia 15 anos. Percebeu então que a permanência no Haiti ficara inviável. Trocou o conforto do ar-condicionado de veículos esportivos pelo calor, a poeira negra e a insalubridade da carvoaria. E a companhia ruidosa dos filhos pela solidão de sequer ter dinheiro para telefonar para casa.
Dos dez haitianos que vieram com Ivon de Manaus para o Paraná, atraídos pela possibilidade de reconstruir a vida, ele é o único que continua na carvoaria. Em troca, recebe cerca de R$ 950.
— Deixei a mulher chorando, com um bebê no colo e mais duas crianças pelas mãos, e vim buscar dinheiro no Brasil. Tenho responsabilidade com a minha família, não podia ficar sem trabalho — conta o haitiano, que chegou a racionar comida para enviar cerca de US$ 300 aos parentes no Haiti.

Desrespeito a normas do trabalho
A 230 quilômetros da carvoaria, num frigorífico em Cascavel (PR), 380 migrantes haitianos fazem, cada um, cerca de 90 movimentos por minuto para desossar frangos e pendurar galinhas. Por um salário mensal de cerca de R$ 1 mil, suportam a rotina de oito horas e 48 minutos diários sob um frio de nove graus, temperatura abaixo do limite de 12 graus estabelecido pelo Ministério do Trabalho.

Trabalho degradante, insalubre e de baixa remuneração em empresas de setores que, frenquentemente, figuram na lista suja do trabalho escravo têm sido o destino final de haitianos e africanos que enfrentam uma travessia dispendiosa e arriscada, muitas vezes patrocinadas por coiotes, para chegar ao Brasil. E não são poucos. Um estudo recém-divulgado pelo demógrafo Duval Fernandes, da PUC-MG, estima que, até o fim deste ano, haverá cerca de 50 mil haitianos no país. Junto a senegaleses, nigerianos e bengaleses, eles têm se engajado em funções que não requerem qualquer nível educacional, e recusadas por brasileiros.

— O trabalho em frigorífico é extremamente penoso. Em três meses, o trabalhador já começa a adoecer porque não há ser humano que suporte tanto movimento repetitivo em temperatura tão baixa. Esse trabalho não interessa mais aos brasileiros. Há uma analogia entre a situação desses migrantes aqui e a dos hispânicos que lotam frigoríficos nos Estados Unidos. Só que aqui a exploração é maior — afirma o procurador do trabalho Heiler Natali, responsável pela vistoria dos frigoríficos.
Estrangeiros trabalhando no corte de frango na Coopavel, frigorifico da região que contratou 380 haitianos para auxiliar de produção. - Fernando Donasci
A história que os imigrantes contam é de promessas não cumpridas sobre salários e alojamentos.
— A coisa mais usual é que ele achem que vão ganhar US$ 2 mil por mês. São enganados e também não entendem a lógica dos impostos sobre o salário — afirma Fernandes.

O haitiano Marcelin Geffrard diz ter sido enganado por um supermercado que o levou do Acre a Cascavel:
— Me prometeram quase R$ 900. Quando cheguei ao Paraná, o salário era menor. Com os descontos, dava só R$ 600. Isso não dava para comida e aluguel, e ainda tinha que mandar dinheiro para a minha filha, no Haiti. O alojamento era sujo, camas quebraram, e a gente tinha que dormir no chão.

Em dois meses, dez quilos mais magro
Em dois anos, Geffrard, pedagogo, com curso de arquiteto inacabado e domínio de cinco idiomas, mudou de emprego cinco vezes. Hoje, trabalha como cobrador de ônibus. Aos fins de semana, faz bicos em uma pizzaria para complementar a renda. Afirma que, apesar da longa jornada de trabalho, está muito melhor hoje do que em outras ocupações:
— O pior lugar em que trabalhei foi o frigorífico. Ali aguentei só 45 dias. Fazia horas extras, mas nunca recebi por elas. Em menos de dois meses, perdi dez quilos. Muitos colegas ficaram doentes, mas os frigoríficos não aceitam atestado e descontam o dia, se você vai ao médico. Então, os haitianos preferem cair no chão doentes no meio da fábrica a ir a um hospital.

A reclamação não é isolada. No começo do ano, haitianos participaram de uma greve em um frigorífico de Maringá. Exigiam aumento, pagamento de horas extras e fim da jornada aos sábados. Suas reivindicações acabaram atendidas pelo empresário, diante da ameaça de pedidos de demissão em massa. Haitianos e africanos se tornaram hoje peças fundamentais para a produção avícola do país.

— Sem eles, eu estaria com 20% da indústria parada — afirma Aguinel Marcondes, gerente de recursos humanos da Coopavel, indústria que produz 195 mil frangos por dia e cujo faturamento em 2013 foi de R$ 1,6 bilhão.

Marcondes prossegue:
— Hoje a oferta de trabalho está grande, e não há mão de obra para suprir as necessidades dos empresários. O próprio governo sentiu isso e abriu as portas para esses imigrantes. Sem eles, o país não cresceria o que deveria.

Haitiano custa menos do que chinês
A dificuldade para preencher vagas nessas indústrias com brasileiros não é a única vantagem na contratação de quem chega de fora. Os empresários têm enxergado neles, sobretudo nos haitianos, uma oportunidade para reduzir seu custo de produção. Uma pesquisa feita pelo economista britânico Paul Collier, para a Organização das Nações Unidas (ONU), mostrou que, em 2009, o Haiti tinha um grande excedente de mão de obra qualificada. Segundo o estudo, o trabalhador haitiano custava mais barato do que o chinês. Após o terremoto que atingiu o país, em 2010, o excedente de mão de obra aumentou. E esses trabalhadores começaram a desembarcar no Brasil.

Além de frigoríficos e carvoarias, eles começaram a ser empregados em massa na construção civil. A situação chamou a atenção do Ministério Público do Trabalho do Paraná, que investiga denúncias dos sindicatos locais de que empreiteiras têm sido constituídas apenas para contratar esses imigrantes. Elas preenchem as folhas da carteira de trabalho, mas jamais registram o trabalhador efetivamente.
Haitianos e africanos descobrem a fraude meses depois, quando o contrato termina, e eles não têm direito à rescisão e ao seguro-desemprego, ou quando sofrem acidentes e não contam com cobertura do INSS. Eles também receberiam menos do que o piso da categoria e cumpririam jornadas de trabalho superiores ao limite estabelecido pela legislação.

Foi o que aconteceu em Conceição do Mato Dentro (MG), onde cem haitianos trabalhavam na construção de um mineroduto da empresa Anglo American. O fiscal do trabalho que atuou no caso relatou que o alojamento deles lembrava uma senzala. A comida fornecida era de baixa qualidade, o que teria provocado hemorragias estomacais.

Para tentar se defender, em Cascavel, onde há pelo menos 1,5 mil haitianos, eles criaram há dois meses a Associação de Defesa dos Direitos dos Imigrantes Haitianos. A entidade já ganhou uma ação contra um frigorífico que demitiu uma haitiana grávida e obteve acordo com uma empreiteira que não havia pago verbas rescisórias.


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sábado, 16 de agosto de 2014

Jornal Zero Hora - RS - 16 de agosto de 2014.

Um lugar ao sol, no Sul

Novos imigrantes mudam o cenário do Rio Grande do Sul

Nova migração é um movimento recente, mas suficientemente forte para causar modificações econômicas, étnicas e culturais

16/08/2014 | 13h02
Novos imigrantes mudam o cenário do Rio Grande do Sul Mauro Vieira/Agencia RBS
No Brasil, imigrantes podem ganhar até seis vezes mais Foto: Mauro Vieira / Agencia RBS
Um novo processo migratório, formado sobretudo por africanos e caribenhos, começa a vingar no Rio Grande do Sul – onde imigrantes italianos, alemães e poloneses se instalaram aos milhares no século 19. Muitas daquelas famílias europeias se fixaram em matagais despovoados na Serra, no Vale do Taquari e no Norte, dando início às principais colonizações do Estado.
As regiões cresceram, cidades como Caxias do Sul, Lajeado e Passo Fundo se tornaram pujantes polos industriais e hoje são ponta de lança do ciclo encabeçado por 11,5 mil estrangeiros negros – vindos não de zonas rurais, como seus antecessores, mas do meio urbano, e com pelo menos o Ensino Médio no currículo escolar.

Fogem da pobreza: no Brasil, podem ganhar até seis vezes mais do que no seu país de origem. O território gaúcho é um dos principais destinos de senegaleses e haitianos, principalmente o Interior, pois em Porto Alegre o custo de vida é mais alto, e a demanda por essa mão de obra, menor. Nas pequenas cidades, eles mudam o retrato da massa trabalhadora. Em Encantado, fundada por italianos, os migrantes negros já representam 2% da população – e 30% dos funcionários de um frigorífico da Dália Alimentos.
O sonho de todos é o mesmo dos colonos que chegaram há quase 200 anos: conseguir um lugar ao sol. Produzir. Vencer no Brasil.

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François Petit Compere, 27 anos, já se considera um vencedor. Saiu do Haiti de avião há três nos e cinco meses, rumo a Manaus. Passou horrores na jornada, dormiu ao relento, migrou para Bento Gonçalves, conseguiu emprego e hoje se diz “rico” para os padrões de seu país. Recebe R$ 1,2 mil de salário na metalúrgica Zen e, por trabalhar com polimento, mais 40% de insalubridade. Gasta R$ 300 com aluguel, almoça no bandejão da empresa e a maior parte do dinheiro restante manda para Porto Príncipe, onde sustenta o filho pequeno e a ex-mulher.

— A cada dois meses recebo, praticamente, o que levava um ano para conseguir no Haiti, como cabeleireiro — comemora François, que já trouxe a nova mulher, haitiana, para morar na Serra.

 
François ganha seis vezes mais do que recebia no Haiti
FOTO: DIEGO VARA

Alcançar o status de haitianos como François é o anseio dos ganeses, que começam a chegar em caravanas ao Brasil. Vincent Iaboa , 24 anos, partiu no início de julho de Kumane, no interior de Gana, onde atuava como vendedor ambulante. Juntou dinheiro seu e de um irmão para pagar a viagem, via Marrocos, até São Paulo. Pernoitou na rodoviária paulistana durante 15 dias. Quatro amigos que vieram com ele não aguentaram o barulho dos ônibus e desistiram, voltando. Iaboa era universitário, estudante de Administração de Empresas, mas aqui está disposto a fazer qualquer coisa para sobreviver. Dorme num colchonete dentro do Seminário Nossa Senhora Aparecida, em Caxias do Sul, alimentado pela caridade alheia.

ZH visitou as principais cidades gaúchas onde se concentram os novos imigrantes: Caxias, Bento Gonçalves, Lajeado, Encantado, Marau, Passo Fundo, Erechim e Gravataí. Autores do livro O Novo Rosto das Imigrações no Brasil: O Caso dos Haitianos no RS (a ser lançado em setembro), o pesquisador Jurandir Zamberlam e o padre João Marcos Cimadon, coordenador de Mobilidade Humana da Regional Sul da CNBB, estimam que 11,5 mil africanos, caribenhos e asiáticos se fixaram no Estado.

Porto Alegre é só ponto de passagem, diz Zamberlam, por conta de três fatores: o custo de vida, puxado pelo aluguel, é muito alto; estão no Interior as empresas de abate de animais e construção civil que mais precisam de mão de obra; e, lá, eles não são “invisíveis” como na Capital.

Os haitianos, dominicanos, senegaleses, ganeses, gambianos e bengaleses (habitantes de Bangladesh) e indianos que vieram para cá são de uma certa classe média urbana. Muitos têm Ensino Médio, Superior incompleto ou mesmo completo. Mulheres, como a senegalesa Adama Sall , 35 anos, funcionária do frigorífico Aurora, de Erechim.

Parte significativa é poliglota. No caso do Haiti, há pesquisadores que já classificam o fenômeno como uma “fuga de cérebros” do país. Nesse ponto, se diferenciam dos alemães e italianos vindos no século 19, na maioria agricultores com baixa instrução. Somente em grupos mais recentes vieram haitianos de menor escolaridade e mais pobres, ligados ao êxodo rural.
— As imigrações do século 19 foram fomentadas pelos governos. Havia uma política de trazer esses europeus para cumprir três objetivos básicos: povoar o Sul do Brasil, produzir alimentos em pequenas propriedades de terra e, em menor escala, promover um branqueamento da população em função da escravidão — diz o historiador René Gertz, professor da PUCRS.

A maioria dos novos imigrantes vem por conta própria, ingressando de forma ilegal. Depois fazem o pedido de refúgio, instrumento legal para um estrangeiro permanecer no Brasil, alegando perseguições políticas (caso de Bangladesh e de Gâmbia) ou questões
humanitárias (caso do Haiti, empobrecido mesmo antes do terremoto que o devastou, em janeiro de 2010). Mas o maior motivo das migrações é econômico, sobretudo em relação a Gana, Senegal e República Dominicana: seus habitantes querem é fugir da falta de trabalho e de dinheiro.

Após a solicitação, o migrante ganha direito de tirar a carteira de trabalho e, assim, ficar temporariamente no país. Em 2013, o número de pedidos quadruplicou, de 4,2 mil para 17,9 mil.

— Eu não chamaria isso de nova onda migratória. Onda pressupõe que, em algum momento, vai acabar. Diria que é um fluxo migratório que passa a incluir o Brasil – pontua Gabriela Mezzanotti, coordenadora do curso de Relações Internacionais da Unisinos.

— Esses fluxos sempre aconteceram, mas o Brasil era exportador, e não destino. Os brasileiros iam aos EUA. Agora estamos fazendo parte desses países que têm algo a oferecer aos migrantes.

Enquanto América do Norte e Europa, premiadas por altas taxas de desemprego, fecham suas fronteiras, o Brasil vem se tornando referência internacional na acolhida. Não existe um programa oficial de incentivo do governo, mas a permanência é facilitada porque o mercado tem interesse na mão de obra.
— Há uma flexibilização da justificativa para o refúgio — diz diz Mariana Dalana Corbellini, subcoordenadora do curso de Relações Internacionais da Universidade de Santa Cruz do Sul.

— O Brasil considera um dever estabelecer cooperação em termos diplomáticos, fazendo intercâmbio com países em desenvolvimento. São brasileiras algumas das grandes construtoras que atuam na África e América Central, por exemplo. No caso haitiano, o Brasil envia milhares de vacinas ao ano pela Fundação Oswaldo Cruz, oferece cursos pelo Senai e Senac e é líder da Missão de Paz da ONU naquele território, o que lhe confere ainda mais responsabilidade frente aos cidadãos.

Ao mesmo tempo em que dá atenção especial a investimentos no Caribe e na África, o Brasil, com a força de sua indústria, acaba se tornando atrativo para os estrangeiros. O pesquisador Zamberlam exemplifica:

— Hoje, o Brasil é o maior exportador de frango para o mundo muçulmano, com 1,8 bilhão de habitantes atendidos por 300 empresas, a maioria delas da Região Sul. E os muçulmanos só admitem receber o produto se o abate for dentro do rito halal (nos preceitos da religião). Isso contribuiu para que milhares de africanos viessem trabalhar aqui.

Por vezes, as próprias empresas atraem a mão de obra estrangeira. A operação costuma se dar dentro da legalidade. Os refugiados têm carteira assinada e recebem as mesmas remunerações e benefícios dos brasileiros. Mas existem relatos de exploração. Alguns precisam quitar as dívidas contraídas com a viagem, o que os expõem a uma condição de fragilidade e análoga à escravidão: servidão por dívida, jornadas exaustivas, trabalho forçado e meios degradantes.

Em junho de 2013, em Cuiabá (MT), fiscais do Ministério Público do Trabalho (MPT)encontraram, em obras do programa Minha Casa Minha Vida, 21 haitianos alojados em situação precária. Em novembro do mesmo ano, em uma mineradora de Conceição do Mato Dentro (MG), havia, segundo definição do MPT, 100 haitianos “abrigados em local
similar a uma senzala
”.

A primeira coisa que os estrangeiros fazem, após conseguir serviço, é mandar dinheiro aos que ficaram no seu país. É por isso que as remessas dos imigrantes superam as exportações haitianas, informa Letícia Mamed, doutoranda em Sociologia pela Universidade
Estadual de Campinas e professora da Universidade Federal do Acre, que integra um grupo de estudo de migrações. Mais de um terço da população adulta do Haiti recebe repasses monetários regulares de parentes radicados no Exterior. Foram US$ 1,5 bilhão em 2010 e US$ 2,1 bilhões em 2011.

A escassez de força de trabalho nas indústrias do interior gaúcho foi determinante para que empresários buscassem migrantes. Sem eles, as linhas de produção corriam o risco de parar, efeito do desinteresse da população local – focada em melhores empregos – em  desempenhar atividades pesadas e menos rentáveis.

— Enfrentávamos uma carência enorme de mão de obra. Ficamos sabendo que a Massas Romena (em Gravataí) havia contratado haitianos. Fomos até Brasileia (no Acre) e trouxemos 50 haitianos em outubro de 2012 — conta Sandra Simonis Lucca, supervisora
de Pessoal da Dália Alimentos, em Encantado.

—  Em fevereiro de 2013, voltamos a Brasileia e trouxemos mais 75 haitianos e alguns dominicanos. A partir daí, eles começaram a fazer contatos com outros compatriotas, que foram se candidatando a vagas de emprego. Atualmente, a empresa conta com 321 estrangeiros no frigorífico de Encantado — 30% do total de funcionários.

Após a chegada de milhares de estrangeiros, as vagas de emprego no interior diminuíram. O indiano Prem Abhilash Kapil, 55 anos, sentiu na pele o efeito. Ele veio ao Brasil por indicação de amigos, mas passou cinco meses desempregado. Depois de muita insistência, há pouco mais de 30 dias foi admitido em uma obra da construtora Zagonel, em Lajeado, onde vive em uma casa com outros três compatriotas. Está mais aliviado.

— O Brasil é bom para ganhar dinheiro. Estou feliz, meu único problema é a língua — diz Kapil, que tenta, muitas vezes em vão, se comunicar em inglês com a população do Vale do Taquari.

Com a desaceleração da indústria, a expectativa dos setores produtivos é de que, em breve, os estrangeiros estarão trabalhado nas colheitas da maçã, do fumo e da uva. São setores em que a mão de obra também é escassa. Sem as alternativas de colocação no emprego, o risco é criar uma disputa entre brasileiros e imigrantes, o que já mostrou efeitos nefastos em outros países, como as escaladas de xenofobia na Europa.

A nova migração é um movimento recente, mas suficientemente forte para causar modificações econômicas, étnicas e culturais no interior gaúcho. Em Encantado, os 400 estrangeiros representam cerca de 2% dos 20 mil habitantes locais. O município já comemora, em maio, o Dia da Bandeira Haitiana.



SENEGALESES REZAM A MAOMÉ EM FÁBRICA DE MÓVEIS
O ritual se repete cinco vezes ao dia na fábrica de móveis Saccaro, em Caxias. Um por vez, os senegaleses se dirigem ao banheiro e começam a lavar mãos e pés, nas pias. É a purificação antes do encontro com os ensinamentos do Profeta, como chamam Maomé. Então, em fila, se ajoelham sobre um tapete verde (que eles chamam de “a July”) ornamentado com a figura de uma mesquita e começam a rezar. Baixinho, em wolof, principal idioma dos países da África Ocidental.

— Alahu Akbar (Alá seja Louvado)  — recitam, misturando o árabe ao dialeto senegalês.

Os murmúrios vão crescendo, deixando escorrer entre os dedos as contas da masbaha, equivalente muçulmano a um rosário católico. Pedem perdão pelos pecados, sob olhar curioso — e respeitoso — dos colegas brasileiros.

Mesmo os não fundamentalistas rezam cinco vezes ao dia. E respeitam o Ramadã, mês no qual só podem se alimentar à noite. No primeiro dia de agosto, quebraram o jejum com um farto “Almoço da Família”: carne de gado com batata e arroz, tudo apimentado.

Tirando a falta que sentem da família, os senegaleses são só elogios ao Brasil. Há recíproca.

— Eles têm muita facilidade para o trabalho, são honestos, disciplinados e não reclamam. Aprendem rápido, inclusive o idioma — diz a gerente de Relações Humanas da Saccaro, Ana Paula De Zorzi Caon.

São 15 na fábrica, todos homens: dois costureiros, um contador, um pintor e os demais,
marceneiros. Yakhia Ba, o líder, costuma usar vestes tribais ou o fez (gorro muçulmano). Alguns faziam, no Senegal, faculdade na área de exatas, mas agora têm de lutar para sobreviver. Ganham bem, para o padrão africano.

Modu Kurabu era comerciante em Dakar, com os pais. Nunca vendia o suficiente para sustentar mulher e dois filhos. Agora recebe R$ 1,3 mil, gasta R$ 500 e manda o resto para
casa. Vários nem conhecem os filhos: as mulheres estavam grávidas quando eles migraram
para o Brasil. Matam saudade via skype: todos têm computadores conectados à África.


Wakhou está há um ano e meio trabalhando na Saccaro
FOTO: DIEGO VARA

CARIBENHOS SÃO PROTEGIDOS POR IGREJA
Passaram-se quase 150 anos, mas a história, ainda que com distinções e peculiaridades, se repete. Em 1882, chegaram a Encantado, distante 149 quilômetros de Porto Alegre, os primeiros imigrantes italianos. Os descendentes desses viajantes formaram famílias, se
espalharam pelo território e, hoje, são absoluta maioria na cidade, com domínio sobre a cultura, a política e a economia.

A primeira criança gerada pelos italianos em Encantado foi Maria Bratti. Já falecida, ela é avó de Ivonete Teixeira, 61 anos, que hoje dedica sua vida ao Centro de Evangelização João Batista Scalabrini, ligado à Paróquia São Pedro, responsável por acolher as centenas de haitianos, dominicanos e senegaleses que desembarcaram na cidade nos últimos três anos, com frio, sem emprego ou lugar para dormir.

No vácuo do Estado, a Igreja assumiu a vanguarda solidária. A história da congregação scalabriniana, assim como a da família de Ivonete, traça um paralelo entre passado e presente. Era 1887 quando o padre italiano João Batista Scalabrini, preocupado com os viajantes do país que partiam rumo a outras regiões do mundo sem dinheiro, emprego e teto, além do desconhecimento da língua local, resolveu fundar a congregação com o objetivo de prestar caridade aos imigrantes.

No linguajar religioso, esse é o “carisma” da entidade. A congregação chegou a Encantado em abril de 1896, com a inauguração da Paróquia São Pedro, a primeira igreja scalabriniana do Rio Grande do Sul. E até hoje permanece atuante no município, sendo a única de Encantado. Depois de amparar os italianos, os scalabrinianos atravessaram mais
de cem anos de espera para acolher os imigrantes negros da África e da América Central. Um paralelo histórico que suscita temas como o racismo e a xenofobia.

— No início, tínhamos preocupação com a receptividade porque o italiano, em geral, é racista. Mas quase não tivemos problemas. Usamos o histórico a nosso favor. Dissemos que somos uma comunidade que nasceu da imigração. Por isso, entendemos que o mais justo
era receber bem esses novos imigrantes — conta Ivonete, voluntária scalabriniana.


Ivonete virou “mãe” dos imigrantes, a quem defendeu de discursos xenófobos
FOTO: DIEGO VARA

GANESES ACAMPAM EM SEMINÁRIO

Para quem ficou dormindo em banco duro de rodoviária, atordoado pelo ruído dos veículos, passando frio e fome, o seminário Nossa Senhora Aparecida, em Caxias do Sul, lembra um paraíso. O prédio em pedra, envolto por flores e pomares, abrigava até 10 dias atrás 90 ganeses que migraram para o Sul durante a Copa do Mundo, sem passagem de volta nem ingresso para os jogos. São parte de uma leva de 380 que escolheu a Serra gaúcha como ponto de partida na busca de emprego.

Permaneceram no Brasil 1.132 ganeses dos 2.529 que vieram com visto de turista para a Copa. Os primeiros conseguiram emprego rápido. Os retardatários aguardam ofertas. A rede de solidariedade católica garantiu a eles hospedagem em Caxias, comida e busca por colocação no mercado de trabalho. Daqueles 90, uns 20 são cristãos e os demais, muçulmanos. Passavam o dia atormentados pelo frio serrano, usando blusões recém-doados pelos fiéis da paróquia, sequiosos pelos raios de sol que iluminam o pátio interno do seminário. Lavavam as próprias roupas, cozinhavam basicamente, frango com arroz, muito condimentado — e comiam bergamotas nos intervalos. Dormiam junto ao refeitório, em colchões.

— São tão honestos e tímidos que tenho de insistir para que peguem frutas no pomar, façam
suco. Delimitamos um perímetro para usarem e eles não ultrapassam. E vêm com uma habilidade a mais em relação aos brasileiros: falam o idioma inglês — descreveu o administrador do seminário, padre Edmundo Marcon.

Em cadeiras dispostas em círculos ao ar livre, os ganeses recebiam lições de português de duas voluntárias, a estudante de Relações Internacionais Juliana Camelo e a publicitária Márcia Pessoa. As duas aproveitaram para praticar o inglês com os africanos.

— Também tomei conhecimento da culinária e da música deles. Muito legal, quero um intercâmbio para conhecer o país deles — entusiasmou-se Juliana.

Há semanas, emissários do frigorífico Nicolini, de Nova Araçá, vieram buscar 30 ganeses no seminário e perguntaram como fariam para levar os pertences dos migrantes. De imediato, todos embrulharam as roupas em sacolas e estavam prontos: possuem apenas algumas roupas, celulares e nada mais.

Mustafah Ibraim é um deles. Ex-jogador de futebol, sofreu um acidente de carro e ficou impossibilitado de jogar. Passou fome na procura por emprego em Gana. Decidiu migrar. Com ajuda dos pais, juntou dinheiro, voou até o Marrocos e veio parar em Caxias, viajando de cidade em cidade, acampando. Não tem dúvidas de que o Brasil “é o melhor país do mundo”.

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Imigração haitiana no Brasil

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Haiti Hatianos no Brasil Brasil
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Imigrantes haitianos abrigados em alojamento improvisado em Brasileia, no Acre, em 2014. Foto: Luciano Pontes / Secom - Fotos Públicas
População total
Acima de 15.000
Regiões com população significativa
Epitaciolândia
Brasiléia
Manaus
São Paulo[1]
Línguas
Português, Crioulo Haitiano, Francês e Espanhol
Religiões
Cristianismo (predominantemente Catolicismo Romano)
A imigração haitiana ao Brasil é um fenômeno migratório que ganhou grande dimensão após o terremoto que abalou o país caribenho em 13 de janeiro de 2010 que provocou a morte de mais de 300 mil pessoas e deixou cerca de 300 mil deslocados internos.
A presença de haitianos no Brasil era inexpressiva antes da instabilidade política que afetou o país em 2003-2004. Desde então, com a presença dos militares da força de paz da ONU (em sua maioria brasileiros), os haitianos passaram a ver no Brasil um ponto de referência. Após o terremoto de 2010, que desencadeou uma grande onda de emigração no Haiti, o Brasil passou a ser um dos destinos preferenciais dos migrantes..

Imigração

Segundo o governo do Acre, desde dezembro de 2010, cerca de 130 mil haitianos entraram pela fronteira do Peru com o Estado e se instalaram de forma precária nos estados do Paraná,Acre,Amazonas,Mato Grosso e Mato Grosso do sul.De acordo com o delegado Carlos Frederico Portella Santos Ribeiro, da Polícia Federal (PF), entre janeiro e setembro do ano de 2011, foram 6 mil e, em 2012, foram 2.318 haitianos que entraram ilegalmente no Brasil.
Os haitianos chegam a Brasileia, no Acre, de ônibus e são orientados a procurar a delegacia da PF solicitando refúgio, preenchendo um questionário no próprio idioma e sendo entrevistados por policiais. A PF expede um protocolo preliminar que os torna "solicitantes de refúgio", obtendo os mesmos direitos que cidadãos brasileiros, como saúde e ensino. Eles também podem tirar carteira de trabalho, passaporte e CPF, sendo registrados oficialmente no país.
Após o registro na PF, a documentação segue para o Comitê Nacional de Refugiados (Conare) e para o Conselho Nacional de Imigração (Cnig), que abrem um processo para avaliar a concessão de residência permanente em caráter humanitário, com validade de até 5 anos.
Os haitianos não são considerados refugiados no Brasil. Segundo a lei brasileira, o refúgio só pode ser concedido a quem provar estar sofrendo perseguição em seu país, por motivos étnicos, religiosos ou políticas. Porém, em razão da crise humanitária provocada pela catástrofe de 2010, o governo brasileiro abriu uma exceção, concedendo-lhes um visto diferenciado.[2]
Em abril de 2013, o governo do Acre decretou situação de emergência social nos municípios de Epitaciolândia e Brasileia em consequência da chegada descontrolada de imigrantes nestes locais, em sua maioria haitianos.[3] [4] [5] Durante meses, um abrigo emergencial para imigrantes funcionou em Brasileia. No mês de abril de 2014, em razão das enchentes do rio Madeira, esse abrigo, já então superlotado, teve que ser fechado, deixando desabrigados não apenas os haitianos mas também migrantes originários de outros países, como Senegal, Nigéria, República Dominicana e Bangladesh.
A situação de ilegalidade dos migrantes é, em grande parte, consequência de exigências burocráticas impostas pelo Ministério das Relações Exteriores para a entrada de estrangeiros no país. A abertura diplomática de diálogo com os governos de Peru e Equador acerca da exigência de visto aos imigrantes resolveria 90% do problema da imigração ilegal. [carece de fontes?] Além dos haitianos, migrantes de outros países começaram a utilizar a fronteira entre Assis Brasil e a cidade peruana de Iñapari como porta de entrada para o Brasil.
Em consequência do fechamento do abrigo de Brasileia, o governo do Acre despachou os migrantes para Rio Branco, de onde seguiram viagem para outros estados. Desde os dias 8 e 9 de abril de 2014, a chegada massiva de haitianos à cidade de São Paulo sem aviso prévio, em ônibus fretados pelo governo do Acre chamou a atenção da imprensa, da sociedade civil e de diversas organizações humanitárias. Ao chegar à capital paulista, muitos deles procuram da Missão Paz, uma ONG ligada à Pastoral dos Migrantes. Fundada por religiosos scalabrinianos, a Missão Paz funciona na paróquia de Nossa Senhora da Paz, no bairro do Glicério. Desde 1939 em atividade, a Missão acolhe diariamente 110 imigrantes e de 60 a 70 nacionalidades por ano. [6] 650 haitianos passaram pela Missão Paz entre 7 de abril e 11 de maio de 2014. A entidade atende migrantes (internos e externos) e refugiados de todo o mundo desde sua fundação, em 1939. O padre Paolo Parise, coordenador da Missão, destaca a necessidade de que o Brasil disponha de uma lei de migração humanista e clara, em substituição à Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980 (Estatuto do Estrangeiro), uma "herança do tempo da ditadura". Segundo ele, o país carece de uma política de migração de fato, e o Estado - não as organizações da sociedade civil - é que deve ser o protagonista nas ações em favor dos migrantes.[7]
Os haitianos deixam seu país e suas famílias principalmente em busca de trabalho. "Não acreditamos que haja oportunidades na ilha. No Brasil, tudo é mais fácil e é o único local que está recebendo os haitianos com humanidade. Em outros países, é um inferno. Se um haitiano disser que não trabalha por aqui é porque ele não quer", assegura Kenny Michaud, que está há cinco meses em São Paulo. Em geral, eles trabalham para se manter e também precisam enviar dinheiro para suas famílias, no Haiti.[6] Em 2012, os haitianos emigrados enviaram para seus parentes o correspondente a 22% do Produto Interno Bruto (PIB) do Haiti, segundo dados da CIA. Antes do terremoto de 2010, que destruiu a infraestrutura do país e provocou a onda de emigração, o impacto das remessas no PIB não chegava a 16%. De acordo com o Banco Mundial, o valor das remessas internacionais para o Haiti alcançou US$ 1,82 bilhões, em 2012 (antes do tremor, era inferior a US$ 1,3 bilhão). O Banco Central do Brasil diz não ter informação sobre o valor remetido por pessoas físicas ou jurídicas para lá desde 2010, mas os haitianos que trabalham no Brasil afirmam que mandam, em média, R$ 500 por mês para os familiares. [8]

Referências