Da esquerda para a direita, Guirlaine que está grávida, Nanine, Manaoucheka e Misiana exibem as certidões de nascimento de seus bebês brasileiros (Foto: Ivanete Damasceno/G1)
Cerca de 1,2 mil haitianos vive atualmente em Rondônia, segundo levantamento feito em outubro pela Secretaria Estadual de Assistência Social do estado. A maioria mora em
Porto Velho, onde estão 563 imigrantes. E a cidade foi o local de nascimento de 35 crianças de pais haitianos nos últimos 19 meses. Segundo o governo, mais 16 bebês estão a caminho.
Uma dessas crianças é o filho de Guirlaine Petiote, de 27 anos, que está grávida de quatro meses. Guirlaine sonha que o filho seja jogador de futebol. “Futebol paga bem no Brasil e haitiano gosta de jogador brasileiro. Meu filho vai crescer e entrar na escolinha de futebol e ser jogador profissional”, torce Guirlaine.
De acordo com a secretária de Assistência Social Cláudia Moura, o fato de as haitianas terem filhos brasileiros não influencia a permanência delas no país, porque todas elas já têm visto de permanência.
Mailene Reges, de 25 anos, está em Porto Velho há um ano com o marido, que trabalha como ajudante de pedreiro. O casal tem um menino, que mora com a avó no
Haiti e agora planeja ter outro filho. O casal quer ter uma menina brasileira.
Mailene, assim como as outras haitianas ouvidas pelo
G1, garante que não quer ter filho brasileiro para garantir segurança e permanência no Brasil. “Haitiano gosta de ter muitos filhos. Se você não tem filho, você é triste todo dia. Filho é alegria. Quando você chega em casa a criança vem correndo gritando papai, mamãe. Se falta criança em casa, é uma casa triste”, diz Mailene.
Mailene e o marido dividem uma casa com mais três famílias. O aluguel custa R$ 1,3 mil e o marido de Mailene recebe R$ 800 por mês. Na casa tem um fogão, algumas cadeiras e colchões que foram doados por brasileiros. Todos na casa são amigos. "O salário é pouco, mas mesmo assim temos mais oportunidades que no Haiti", afirma Mailene.
Haitiano gosta de ter muitos filhos. Se você não tem filho, você é triste todo dia. Filho é alegria"
Mailene Reges, imigrante haitiana
As imigrantes haitianas têm histórias parecidas. Todas enfrentam uma viagem que dura mais de uma semana. Saem de avião do Haiti até o
Equador e de ônibus viajam até o
Peru. Elas contam que no Peru souberam que na fronteira da
Bolívia com o Brasil os imigrantes estavam sendo legalizados. Pegaram carona, chegaram até a fronteira do Brasil com a Bolívia. No lado brasileiro, no município de Epitaciolândia, AC, conseguiram visto para entrar no Brasil.
Questionadas sobre o motivo de virem sozinhas, as haitianas conversam entre si no dialeto crioulo e respondem apenas que saíram do Haiti em busca de oportunidade e de vida segura no Brasil.
Nanine Joseph, de 35 anos,
há um ano deixou o marido e quatro filhos, a mais velha com 15 anos. As duas moram na mesma casa e contam com a ajuda de amigos brasileiros. Nanine veio grávida do Haiti e há cinco meses deu à luz Samuel. Ela espera ansiosamente para a família se reunir. “Meu marido não tem como vir. Quero trazer meus filhos para morar aqui. No Brasil temos mais oportunidades, emprego é mais fácil, gosto daqui”, diz Nanine.
Manoucheka Datilus, de 24 anos, assim como Nanine, saiu do Haiti sozinha, veio para o Brasil e ficou à espera do marido. Jean Luc Desilus, marido de Manoucheka, chegou ao país e conseguiu emprego. Manoucheka também trabalha e faz planos para a vida nova com a família, que agora tem um brasileiro, Leonardo, de seis meses. “Meu marido e eu queremos que ele seja engenheiro brasileiro. Queremos colocar numa escola para ele estudar e ter uma vida melhor”, diz Manoucheka.
Quem também tem como meta fincar raízes no Brasil é Misiana Saguese, de 32 anos. Ela chegou ao Brasil há dois anos, o marido veio em seguida e há um ano nasceu o primeiro filho do casal, Maycon Jackson, que é porto-velhense. “Quero arrumar emprego, colocar a criança na escola e morar sempre no Brasil”, afirma Misiana.
Sunda, que fala somente francês e crioulo, exibe a certidão de nascimento de Emanuel, de 5 meses (Foto: Ivanete Damasceno/G1)
Mas nem todas haitianas têm essa expectativa de futuro. Sunda Alexis, de 33 anos, chegou ao Brasil há um ano pelo
Acre. Ela ficou quatro meses em Epitaciolândia e seguiu para Porto Velho, onde está desde fevereiro. “Ainda não penso no futuro”, diz em francês.
Sunda deixou no Haiti o marido e uma filha. Chegou grávida ao Brasil e há cinco meses deu à luz Emanuel. Ela ainda não trabalha e divide uma casa de um cômodo com os primos. Os dois ajudam a prima e o bebê comprando comida, roupas, fraldas e até cartão telefônico para Sunda falar com a família no país de origem. Sunda conta os dias para que o marido consiga dinheiro para vir se juntar a ela. “Lá é muito difícil conseguir trabalho. Ele não tem como vir agora porque não tem dinheiro’, explica.
População haitiana em Porto VelhoSegundo o governo de
Rondônia, atualmente, 416 homens e 147 mulheres haitianas vivem em Porto Velho. A secretária de Assistência Social, Cláudia Moura, afirma que as haitianas recebem toda a assistência durante a gravidez.
Assim como toda cidadã, o estado presta a assistência básica, é feito todo um acompanhamento do pré-natal e da criança recém-nascida"
Cláudia Moura, secretária de Assistência Social
"Assim como toda cidadã, o estado presta a assistência básica, é feito todo um acompanhamento do pré-natal e da criança recém-nascida, porque elas têm o direito a esse acesso ao sistema de saúde, assim como a cidadã rondoniense", esclarece a secretária de Assistência Social.
Como já nascem no país, estes bebês são naturalmente brasileirinhos, que podem ser registrados como qualquer cidadão no cartório do município onde nasceram.
Jakelyne Silva Miranda é escrevente em um cartório de Porto Velho e recorda que fez três registros de filhos de haitianos. "O procedimento é o mesmo. A única diferença é que os pais precisam trazer ou o passaporte ou a carteira de identidade estrangeira permanente, que é expedida pela Polícia Federal (PF)", explica.
Segundo Jakelyne, o idioma não é um empecilho na hora de fazer a certidão de nascimento. "Eles sempre falam bem devagar para nós entendermos o que estão pedindo e nós também, e a maioria está bem habituada ao nosso idioma. Quando a vinda para o país é bem recente eles trazem alguém da casa de apoio onde estão hospedados para interpretar", diz Jakelyne.
Nanine, Misiana e Manoucheka esperam um futuro promissor para os filhos brasileiros (Foto: Ivanete Damasceno/G1)
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