terça-feira, 9 de julho de 2013

03 de Julho de 2013

Haitianos adeptos do vodu buscam no candomblé alternativa a igrejas


Atualizado em  3 de julho, 2013 - 14:27 (Brasília) 17:27 GMT
 
Foto Joao Fellet/BBC Brasil
Haitianos (à esq.) acompanharam cerimônia de candomblé em Porto Velho
Enquanto grande parte dos cerca de 3 mil imigrantes haitianos em Porto Velho recorre a igrejas evangélicas para satisfazer suas demandas espirituais, alguns começam a buscar alternativas entre as tradições religiosas que africanos legaram tanto a seu país quanto ao Brasil.
A BBC Brasil acompanhou a primeira visita de três haitianos a um terreiro de candomblé na capital de Rondônia. O encontro foi organizado a pedido deles pela estudante de história da Universidade Federal de Rondônia Jéssica Caroline, que realiza uma pesquisa sobre os imigrantes.
 
 
Adeptos do vodu, Jorby Beaubrun, de 24 anos, Obenson Experience, 26, e Wilbert Derancier, 42, chegaram ao Brasil no início do ano. Em conversa com Caroline, eles disseram sentir falta dos rituais no país natal e se surpreenderam ao saber que Porto Velho também abrigava templos de religiões de matriz africana.

Segundo a base de dados da CIA (órgão de inteligência dos EUA), metade da população haitiana pratica o vodu, embora 96% se digam cristãos. O culto, levado ao país por africanos escravizados, tem parentesco com as principais linhagens do candomblé do Brasil.

Ao chegar ao terreiro antes de uma cerimônia numa noite de sexta-feira, os haitianos receberam abraços do babalorixá Pai Silvano, o sacerdote da casa.

Por três horas, eles acompanharam os trabalhos sentados, enquanto iniciados dançavam numa roda ao centro, ao som de tambores e cantos em coro.

Naquele terreiro, pratica-se o candomblé ketu, linhagem predominante no Brasil. O culto foi trazido ao país por africanos de etnia iorubá (também chamada de nagô), oriundos da atual Nigéria e alguns países vizinhos.
"Sem vodu não existe vida para nós, o vodu é a nossa vida."
Jorby Beaubrun, haitiano
 
Os haitianos se animavam quando as batidas aceleravam e não reagiam quando alguns sacerdotes passaram a incorporar orixás (divindades), alterando discretamente seus semblantes. O trio só estranhou a ausência de animais no terreiro naquela noite. "No vodu no Haiti, sempre matam cabras, galinhas e porcos em homenagem às divindades", explicou Beaubrun.

Mesmo assim, ele disse ter gostado da experiência. "Vou falar com outros haitianos para que também venham. Porque sem vodu não existe vida para nós, o vodu é a nossa vida."

Candomblé jeje

Caso tivessem visitado um terreiro de candomblé jeje, os três provavelmente se identificariam ainda mais com as práticas.

Minoritária no candomblé praticado no Brasil, essa linhagem foi trazida ao país principalmente por africanos do antigo reino de Daomé (hoje território do Benim), também na costa ocidental da África.
O humbono mejitó (sacerdote jeje) Pai Dansy, de Santo André (SP), diz que o candomblé jeje e o vodu haitiano são "praticamente o mesmo culto".

Segundo ele, as maiores diferenças entre eles são os nomes das divindades – que, no Haiti, se alteraram por influência da principal língua local, o creole.

No candomblé jeje, aliás, as divindades se chamam voduns, e não orixás.
Foto Joao Fellet/BBC Brasil
Visita foi organizada por estudante de história da Universidade Federal de Rondônia
Ele afirmou que, nos próximos meses, pretende visitar Porto Velho para procurar sacerdotes voduístas haitianos e convidá-los a uma grande cerimônia em setembro no kwe (terreiro) de Santo André. "Eles vão se sentir em casa", diz.
Caso os laços entre haitianos e adeptos de religiões afrobrasileiras se estreitem, o historiador da Universidade Federal de Rondônia (Unir) Marco Teixeira diz que os terreiros podem recuperar um papel histórico.

O pesquisador diz que, durante a escravidão, as religiões de matrizes africanas cumpriam o papel hoje exercido no Brasil pelas igrejas evangélicas. "Elas eram o único ponto de referência positivo que essa população recebia ao desembarcar no Brasil. O terreiro oferecia lar, família, cuidado, tratamento e referência ao escravo."

Para ele, porém, os terreiros não têm desempenhado essa função em relação aos haitianos.
No que depender de Pai Silvano, o cenário vai mudar. "Podemos fazer um intercâmbio com eles. É um orgulho para nós que eles interajam com a gente no terreiro, trazendo sua experiência, seus conhecimentos e passando alguma coisa para nós", afirma.

"A porta está aberta para todos."

8 de julho de 2013

Acre recebe diariamente cerca de 50 haitianos e despesa com alimentação chega a R$9 mil por dia


A entrada de imigrantes haitianos pela fronteira do Brasil com o Peru e Bolívia continua sendo uma grande preocupação. O governo federal tem gastado nove mil reais com alimentação todos os dias para garantir quatro mil refeições diárias entre café da manhã, almoço, lanche e jantar.
Segundo o governo do Acre, todos os dias, cerca de 50 novos imigrantes chegam em Brasileia e ficam alojados em caráter temporário no abrigo público.

Damião Borges de Melo, coordenador do abrigo, afirma que a chegada dos imigrantes ainda é muito grande e agora eles contam com a ajuda financeira dos que já estão trabalhando no Brasil. “Muitos deles vem pra cá porque os familiares já estão trabalhando e conseguem mandar dinheiro. A vinda dessas pessoas pesa muito para os cofres do Estado, mesmo assim, encaramos esse desafio como um compromisso humanitário”, afirmou.

A procura das empresas por trabalhadores imigrantes diminuiu consideravelmente. Em 2011, eram em média cinco visitas por semana, hoje são duas por mês. A procura teve esse decréscimo em função do grande número de haitianos que abandonou os postos de trabalho entre os três primeiros meses.

Bruna Lopes é representante de uma empresa catarinense que atua no ramo metalúrgico, ela veio ao Acre selecionar 15 homens que devem atuar na linha de produção da empresa. “Vamos fazer um teste, ver como eles se adaptam ao trabalho e ao clima de Santa Catarina, nossa intenção é levar também mulheres, pois o trabalho não exige força física. Estamos oferecendo um salário de 990 reais e moradia por conta da empresa até dezembro para que eles possam se estabilizar”, declarou.

Da redação ac24horas
Com informações da Agência de Notícias do Acre

sábado, 6 de julho de 2013

Noticias

Igrejas evangélicas disputam imigrantes haitianos em Rondônia



Atualizado em  3 de julho, 2013 - 12:58 (Brasília) 15:58 GMT
Foto Joao Fellet/BBC Brasil
Igreja Adventista do Sétimo Dia de Porto Velho oferece cestas básicas a haitianos recém-chegados
Num templo da Assembleia de Deus no centro de Porto Velho, ao menos cem fiéis cantam em coro, ouvem pregações e oram em conjunto. Ao longo das três horas de cerimônia, não se ouve uma única palavra em português. Todos ali são haitianos.
Atraídos por empregos nas hidrelétricas do rio Madeira, desde 2011 ao menos 3 mil imigrantes do país caribenho se mudaram para a capital de Rondônia, segundo o governo local. E no Estado com o maior percentual de evangélicos do país (33,8%, ante 22,2% da média brasileira), algumas igrejas travam uma disputa por suas "almas".
 
A Assembleia de Deus foi a primeira na cidade a erguer um templo só para o grupo. A maioria dos fiéis passou a frequentá-la após se mudar para Porto Velho, seduzida pelos cultos em creole, a língua mais falada do Haiti.
Quem conduz as cerimônias é o haitiano Pierrelus Pierre. Antes de migrar para o Brasil, ele já era pastor da Assembleia de Deus na República Dominicana. "Vim para o Brasil para trabalhar, só que quando cheguei aqui a história mudou", ele diz à BBC Brasil.
Poucas semanas após mudar-se para Porto Velho, Pierre conheceu o líder da Assembleia de Deus na cidade, o pastor Joel Holden. O pastor o convidou, então, a assumir a pregação a seus compatriotas na igreja que viria a ser erguida para o grupo.
"Aqui na igreja haitiana a gente se sente em casa"
Gildrin Denis, operário haitiano
A estratégia surtiu efeito: desde a inauguração do edifício, há dois anos, os cultos estão sempre cheios.
"Já fui a igrejas brasileiras que são muito legais, muito bacanas. Mas aqui na igreja haitiana a gente se sente em casa", diz o operário Gildrin Denis, de 25 anos.
Denis afirma que, no Haiti, frequentava uma igreja pentecostal que não existe no Brasil e que se converteu à Assembleia de Deus "para manter o padrão". "Tenho dezenas e dezenas de amigos haitianos em Porto Velho e todos eu vejo aqui na igreja, fizemos amizade aqui."
Supervisor da Congregação Haitiana da Assembleia de Deus na cidade, o pastor brasileiro Evanildo Ferreira da Silva diz que a igreja já converteu ao menos cem imigrantes. Ao serem batizados, eles recebem uma carteirinha com foto e dados pessoais.

Foto Joao Fellet/BBC Brasil
Pierrelus Pierre veio ao Brasil para trabalhar, mas semanas depois virou pastor
Silva acompanha os cultos em silêncio, sentado no palco. Ele só se levanta para as músicas, que ocupam boa parte da cerimônia e são comandadas por baterista, baixista e guitarrista haitianos.
Um assistente, também brasileiro, é encarregado de coletar o dízimo. O pastor diz, no entanto, que os haitianos "estão com dificuldade de fazer essa parte aí". "Estamos tentando adaptá-los a essa cultura nossa, de contribuição, até porque a igreja precisa pagar luz, telefone, ar-condicionado."
Paralelamente, afirma Silva, há um trabalho para fazê-los abandonar as tradições do vodu, culto levado ao Haiti por africanos escravizados. "Eles chegam com uma cultura africana, de candomblé, mas na igreja são doutrinados a abandonar essas práticas."

Devagarinho
Melodias haitianas embalam cultos em Porto Velho
Em Rondônia, igrejas evangélicas tentam conquistar imigrantes do país caribenho.
 
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Segundo a base de dados da CIA, órgão de inteligência dos EUA, embora 80% dos haitianos sejam católicos e 16%, evangélicos, metade da população do país pratica o vodu.
Silva diz que a igreja tem lidado com as diferenças culturais com "muita prudência, devagarinho, senão de repente eles podem até espalhar."
Muitos, de fato, já buscam outros ares. Dois fiéis que assistiam ao culto da Assembleia de Deus num domingo de junho carregavam o livro Nada a Perder, de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus.
"Estamos tentando adaptá-los a essa cultura nossa, de contribuição, até porque a igreja precisa pagar luz, telefone, ar-condicionado"
Pastor Evanildo Ferreira da Silva, da Assembleia de Deus
Eles haviam ganhado a obra na semana anterior ao participar, com centenas de haitianos, de um culto da Universal em Porto Velho. Só naquele dia, a igreja de Edir Macedo converteu seis haitianos.
Nem todos, porém, pretendem voltar. Um dos primeiros haitianos a se mudar para Rondônia, o tradutor Jean Onal, de 38 anos, diz que aceitou o convite para o culto da Universal por curiosidade, mas que o tom da cerimônia o desagradou. "Tinha mais de cinco pessoas possuídas, achei muito exagerado.''

Onal, que diz ser adventista, afirma que as igrejas em Porto Velho têm duas estratégias para atrair os imigrantes: enviam-lhes convites impressos ou pedem a haitianos que já as frequentam que levem conhecidos aos cultos.

Ele calcula que ao menos cinco denominações evangélicas na cidade tenham haitianos como crentes. Já a Igreja Católica raramente atrai estrangeiros às suas missas, embora sua pastoral do migrante lecione português a grupos de imigrantes.
Coordenadora das atividades da pastoral, a irmã Orila Travessini diz que a igreja não faz proselitismo com as turmas. Ela nota, porém, que entre os haitianos "há uma grande carência do sobrenatural, de algo que preencha isso".
"Não é um trabalho feito gratuita e desinteressadamente. Há um interesse de conversão em marcha. É uma disputa, um verdadeiro mercado de almas, que pode ser ampliado para um mercado de dízimos."
Marco Teixeira, professor da Universidade Federal de Rondônia
Para Onal, a religiosidade de seus compatriotas reflete as condições sociais adversas que enfrentam. "O Haiti tem muita pobreza, muito desemprego, então as pessoas têm bastante tempo para orar a Deus."

E quando emigram, diz, algumas práticas pregadas por religiões evangélicas – como a proibição ao consumo de álcool – facilitam que encontrem emprego e se adaptem ao novo país, segundo ele.
"Um país que não é pobre sempre tem uma festa no fim de semana para as pessoas gastarem dinheiro. Os haitianos, não: eles se preocupam mais com trabalho e com a igreja, é difícil encontrar alguém com cigarro na mão ou bebendo."

Na Igreja Adventista do Sétimo Dia de Porto Velho, que conta com cerca de 30 fiéis haitianos, a relação entre religião e prosperidade é ainda mais direta. A igreja dá aos haitianos recém-chegados cestas básicas, paga seus aluguéis e os encaminha para entrevistas de emprego com empresários fiéis da igreja.

"Todos os haitianos conosco estão trabalhando, têm celular, bicicleta. O nível financeiro deles têm aumentado", diz o pastor Paulo Praxedes. "O objetivo deles não é serem sustentados ou mantidos por outros, é serem sustentados pelo próprio trabalho deles".
Foto Joao Fellet/BBC Brasil
A Assembleia de Deus foi a primeira na cidade a erguer um templo só para o grupo
Até agosto, a igreja também deve inaugurar uma unidade só para os haitianos. Por ora, o grupo frequenta os cultos regulares da igreja junto ao dos fiéis brasileiros e, numa sala aos fundos, celebra uma cerimônia em creole. A igreja também pretende formar, em breve, um pastor haitiano.
Para Marco Teixeira, professor do departamento de história da Universidade Federal de Rondônia (Unir), que coordena um grupo de estudo sobre os haitianos em Porto Velho, as igrejas evangélicas da cidade "viram nos haitianos um alvo".

Embora avalie como positivo o papel que elas exercem ao recebê-los, dando-lhes segurança, ele diz que as igrejas promovem uma "despersonalização" dos imigrantes.
"Não é um trabalho feito gratuita e desinteressadamente. Há um interesse de conversão em marcha. É uma disputa, um verdadeiro mercado de almas, que pode ser ampliado para um mercado de dízimos."
O pastor Adventista do Sétimo Dia Paulo Praxedes nega, porém, que sua igreja participe de qualquer disputa. "Não somos uma concorrência, nosso interesse é ajudá-los. Muitas vezes esses haitianos chegam ao nosso centro cultural e nem sabemos de que religião eles são".
O pastor Evanildo Silva, da Assembleia de Deus, tampouco endossa a visão de que as igrejas estão competindo pelos imigrantes. Mas afirma que, mesmo que outras denominações venham a assediar os fiéis da Assembleia de Deus, o grupo não vai diminuir.

"Tem muitos haitianos aqui, então tem para todo mundo."

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Solidariedade com os pequenos em necessidade e que serao o futuro do amanha.

 




Uma Família para quem não tem família

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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Noticia 28-06-2013.

RIO BRANCO, ACRE - Sexta - Feira, 28 de Junho de 2013

Abrigo de imigrantes em Brasileia recebe nova infraestrutura

Desde que a força-tarefa do governo federal, com apoio do governo do Estado, iniciou a intervenção no abrigo de Brasileia, que está recebendo os imigrantes vindos do Haiti e de países da África, o acolhimento aos imigrantes melhorou.

O acolhimento aos imigrantes melhorou com a ajuda da força tarefa do governo federal (Foto: Sérgio Vale/Secom)
O acolhimento aos imigrantes melhorou com a ajuda da força-tarefa do governo federal (Foto: Sérgio Vale/Secom)
 
Nas últimas semanas um mutirão foi promovido para a limpeza e construção de banheiros – são 15 novos banheiros com chuveiros. Também foram colocadas tendas e adequada uma área para ser refeitório dos abrigados. O local ainda recebeu um trailer, que faz o cadastro de acolhimento dos imigrantes que vão chegando ao local. Em apenas um dia foram cadastrados 50 novos imigrantes no abrigo, que até o último sábado, 27, registava 900 imigrantes.

Na entrada os imigrantes registram nome, sobrenome e país de origem. Os passaportes dos haitianos são separados dos demais, tendo em vista que o Brasil tem um acordo com o Haiti e por isso há acolhimento desses imigrantes no país.

Entre um dos voluntários na comunicação entre imigrantes e trabalhadores do abrigo está o haitiano Emmanuel Baptiste (Foto: Sérgio Vale/Secom)
Entre um dos voluntários na comunicação entre imigrantes e trabalhadores do abrigo está o haitiano Emmanuel Baptiste (Foto: Sérgio Vale/Secom)
 
Embora o número de imigrantes ultrapasse a capacidade máxima do abrigo, o secretário de Desenvolvimento Social do Estado, Antônio Torres, esclarece que todos têm seus colchões e recebem alimentação e água. Ele frisa também que a maior parte não vem para o Acre com intenção de fixar residência no estado. “Há quem já tenha familiares aqui no Brasil e esperam apenas pelo dinheiro que os parentes enviam para poder ir embora. Outros têm planos de ir para São Paulo e outras capitais”, esclarece.

Antônio Torres explicou que há duas semanas o governo do Estado mantém no município um secretário de Estado para auxiliar no trabalho de acolhimento dos imigrantes. A mobilização envolve a Secretaria de Segurança, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social.
“A contribuição do governo federal tem sido muito importante. O Estado já estava com esse trabalho e agora todos trabalham muito mais seguros. As secretarias do Estado estão dando total apoio”, disse Torres.

Voluntariado em meio a uma “Torre de Babel” de línguas
A comunicação entre os imigrantes e os brasileiros que trabalham no abrigo ainda é um desafio. Alguns imigrantes falam inglês, francês e crioulo (dialeto haitiano) e outros falam espanhol. Mas o voluntariado que parte dos próprios imigrantes faz toda diferença. Entre um dos voluntários na comunicação entre imigrantes e trabalhadores do abrigo está o haitiano Emmanuel Baptiste.

Até o último sábado, 27, eram 900 imigrantes em Brasileia (Foto: Sérgio Vale/Secom)
 
Até o último sábado, 27, eram 900 imigrantes em Brasileia (Foto: Sérgio Vale/Secom)
Ele chegou ao trailer instalado no abrigo para escrever placas de aviso em crioulo. “São placas para que as pessoas entendam que não podem colocar a mão na água”, diz ele em ‘portunhol’.
De fato, outro desafio para as equipes que atuam no abrigo é a higiene. Em virtude disso, a força-tarefa promoveu no último fim de semana palestras sobre higiene coletiva e pessoal. “Para essas palestras também vamos contar com o voluntariado de uma haitiana que fala espanhol e entende o português. Ela vai traduzir o que o palestrante vai dizer”, contou a psicóloga Lucíola Pedroza.

A psicóloga que veio participar da força-tarefa é natural de Alagoas e relata que já atuou em diversas ações de apoio a tragédias. “Mas nunca tinha feito um trabalho parecido com este. Deixo o Acre com uma sensação muito boa, espero poder voltar aqui. Fiquei feliz por poder ajudar essas pessoas que estão chegando em busca de uma vida melhor”, completou.

(Por Nayanne Santana/Agência de Notícias do Acre)

terça-feira, 25 de junho de 2013

Curitiba - Parana

domingo, 23 de junho de 2013

Os haitianos são: educados, trabalhadores e qualificados. Estão aqui atentos por oportunidades.

fonte: Gazeta do Povo
Daniel Castellano/ Gazeta do Povo / Desimond – em Pinhais, à espera de sua Elisabeth e dos filhos
Cerca de 500 haitianos se espalham pela periferia de Curitiba e região. Eles recolhem os enganados pelos “coiotes” e juntam os tostões para trazer suas famílias

Charles Vallon, 30 anos, é economista; Emanuel Giraut, 25, estudante de Direito; Jean Robert, 46, professor do ensino básico; Wilgens Seneus, 26, faz design de joias. Nenhum dos quatro atua na área. Quando lhes perguntam em que gostariam de trabalhar, respondem que “procuram serviço na construção civil”, área de atuação que melhor paga os imigrantes haitianos que fizeram de Curitiba e Região Metropolitana seu porto a partir de janeiro de 2012.


Haiti é aqui

Fragmentos de um país em Pinhais e no Butiatuvinha

• Repúblicas

Uma casa haitiana, com certeza, é habitada por até uma dezena de pessoas, todas debaixo de regras – camas sempre arrumadas, turma da cozinha a postos e rateamento das despesas. Há necessidade de ser aceito pelos vizinhos, daí a observação do silêncio e dos modos. Em Pinhais, na Rua Alzira Rodrigues da Silva, duas casas geminadas abrigam novos paranaenses como Exumo, Ebelson, Damisson, Edmont, Altidor e Demostherne – este um líder da pequena comunidade. Metade dos moradores está sem emprego e sai todo dia atrás de vagas. Para quem não fala português,as oportunidades são pequenas. A família sabe pouco do que se passa aqui. Uma ligação de cinco minutos para o Haiti custa R$ 13 – proibitivo para os recém-chegados.


• Ocupações

A vila Três Pinheiros, no Butiatuvinha, já é conhecida na região de Santa Felicidade como o pequeno Haiti. Há pelos menos cinco comunidades na ocupação, pelo menos duas delas recém-formadas. Uma é só de moças – empregadas em redes de farmácia. A dona de um pequeno mercado garante que entende tudo o que os novos vizinhos falam, mas a mímica ainda impera. Uma das urgências para a nova comunidade são as aulas de português e a integração ao sistema de ensino.

Bon soir

Salão ao lado de igreja, em Santa Felicidade, é único território haitiano em Curitiba

• Em francês

A Pastoral do Migrante atende a pessoas de qualquer país, mas, de um ano para cá, o espaço está ocupado pelos haitianos. Diferente de nacionalidades como a paraguaia ou a boliviana, eles não dispõem de um espaço comum. Resta-lhes o salão ao lado da Paróquia São José, em Santa Felicidade. Naqueles aproximados 80 metros quadrados, a língua extraoficial é o francês e o crioulo. Bon soir, dizem os haitianos quando chegam diante da assistente social Elizete Sant’Anna.A falta de emprego e a dificuldade de adaptação faz com que muitos cheguem ali em busca de ajuda.


• Na fila

Vindos de uma economia informal, muitos haitianos estranham as leis trabalhistas brasileiras. Há 9 mil deles no país. Sofrem com os horários. Discordam de tantos descontos. O trabalho noturno é pouco tolerado pelas mulheres. Não faltam denúncias de exploração e calotes. Há quem veja na vulnerabilidade haitiana motivos para lhes pedir préstimos para os quais não foram contratados.

• Vodu

A maior parte dos haitianos se declara católico, embora também entre eles seja crescente o número de evangélicos. Do vodu, culto afro predominante no Haiti, fala-se pouco, talvez por medo do preconceito.







Os dados não são absolutos. De acordo com a Polícia Federal, 247 haitianos vivem em Curitiba. Para a Pastoral do Migrante – serviço da Igreja Católica envolvido com a acolhida dos viajantes –, seriam pouco mais de 500. Em média, 12 por dia recorrem à pastoral, que funciona na Avenida Manoel Ribas, em Santa Felicidade. Procuram ocupação profissional nas 20 empresas voluntárias, roupas, alimentos, orientação da assistente social Elizete Sant’Anna e do padre Gustot Lucien, 40, haitiano com uma década de Brasil, convertido em autoridade no assunto.

Os recém-chegados têm em comum não só a memória do terremoto de 2010 – é raro algum que não tenha pelo menos um parente morto ou mutilado na tragédia. Eles são jovens e jovens adultos – entre 24 e 44 anos –, homens na maioria, têm estudo fundamental, são casados ou comprometidos, falam francês e creole. Não fosse a língua, estariam em condições melhores do que a maioria dos brasileiros médios.

Enfrentaram longa viagem até aqui, com passagens atribuladas pelo Acre e Mato Grosso. Querem fazer a vida no Paraná, apesar do frio nunca antes experimentado e dos vizinhos, que ainda os olham com desconfiança. Acreditam que devem começar pelo serviço de pedreiro, função mais adequada para quem aprende português “na marra”. Para as mulheres, a cozinha, desde que não precisem voltar de madrugada, algo quase proibitivo para uma haitiana.

Não é tudo. A construção civil paga entre R$ 1,2 mil e R$ 2 mil, com benefícios, garantia de que um haitiano empregado poderá realizar o maior de todos os desejos: trazer mulher e filhos para o Brasil, deixando-­os perto de um final feliz. A reportagem da Gazeta do Povo conversou com cerca de 30 imigrantes da ilha caribenha. Com exceção de um, que perguntou qual o segredo para namorar uma brasileira, todos os outros contaram juntar os tostões para trazer a família. Uma viagem dessa não sai por menos de R$ 2,5 mil. Poucos, por enquanto, conseguiram arcar com as despesas.

Saudade

Os haitianos encontram dificuldades de emprego, de moradia, de adaptação e o olho vesgo da população. Mas nenhum problema é maior do que o sentimental. A maioria está há mais de um ano longe da mulher e dos filhos, vivendo em alojamento, num país de hábitos e idioma estranhos. Tímidos, há quem pergunte se, por acaso, o governo brasileiro – que facilitou os vistos de entrada – não pensa em trazer o resto das famílias. “Cada noite sinto mais saudade”, admite Dieunel Saintilus, 27, operário do Shopping Pátio Batel, ao lado de outros oito conterrâneos ali empregados.

Os haitianos têm fama de resistentes à pobreza e às adversidades. E de alegres – uma meia verdade. “Não é tudo tão bonito como parece”, comenta Elizete, sobre o grupo que chama atenção pelo asseio e educação principesca. Muitos foram enganados por coiotes, que lhes venderam a ilusão do Paraná rico e cobraram caro por isso – até US$ 2,5 mil. Houve quem deixou profissão e segurança. É comum relatos sobre médicos e poliglotas entre os refugiados. “Temo quando começam a se deprimir”, confessa padre Gustot, ao contar de uma jovem que acaba de ajudar a voltar ao país. Tudo indica que um período de retorno de muitos outros deva se seguir.

A conta para os haitianos, afinal, é mais complicada do que parece. Eles vivem em repúblicas espalhadas por bairros como Boa Vista e Butiatuvinha; em cidades como Colombo, Pinhais e São José dos Pinhais. Como não conseguem fiadores, alugam casebres em ocupações irregulares, o que não lhes sai barato. Um quarto e sala numa favela pode custar R$ 500 ao mês. Dividem todas as despesas de cama e mesa. Solidários, acolhem os colegas sem-teto, o que faz com que numa casa haja sempre uma parcela desempregada. “Encontrei dois na Rodoviária. Trouxe-os comigo”, conta Garnet Castin, 31, sobre haitianos passados para trás pelos “coiotes” e abandonados ao chegar.

Um dos maiores orgulhos da comunidade é dizer que não há nenhum haitiano mendigo. Dentro das casas, chama atenção a ordem e a limpeza, contrastando muitas vezes com as vilas em que estão. A mendicância, aliás, é uma das muitas coisas do Brasil que não entendem. “Deve ser destino”, arrisca o ex-comerciante e candidato “à obra” Luiz Vicente, 30 anos. Ele divide uma pensão da Rua do Rosário, Centro de Curitiba, com outros 30 compatriotas. Em três meses, vira-se bem no português, uma exceção à regra. Não leva o menor jeito para erguer paredes – mas promete levantar muitas até trazer sua noiva para o Mundo Novo. É seu sonho. O segundo, trabalhar numa loja. “Por que não? Sou bom nisso”, garante. Recado dado.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Igreja Noticia

    Home > Igreja > 2013-06-20 12:41:01
   


Dia Mundial do Refugiado: os sonhos dos haitianos no Brasil. Ouça



Cidade do Vaticano (RV) – No Dia Mundial do Refugiado, celebrado esta quinta-feira, 20 de junho, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) não tem motivos para comemorar.

Num relatório apresentado nesta quarta, o Acnur divulgou que guerras, perseguições e violência provocaram 7,6 milhões novos deslocados no somente no ano passado - o maior número em um ano desde 1999.

No total, são 35 milhões e 800 mil pessoas, ou seja, a população dos Estados do Rio de Janeiro e da Bahia juntos.

Segundo a Convenção de Genebra, de 1951, refugiado é "toda pessoa que, devido a fundados temores de ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, pertença a determinado grupo social ou opiniões políticas, se encontre fora do país de sua nacionalidade”.

Mas de acordo com a legislação brasileira, é também considerada refugiada "a pessoa que, devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigada e deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país".

O termo "refugiado" vem sendo também associado a pessoas ou grupos que, embora não necessariamente "perseguidos", são forçados a deixar seu país, por desastres naturais, mudanças climáticas, fome, desemprego, como é o caso dos haitianos que se estabeleceram no Brasil.

Muitos estão na capital de Mato Grosso, que todavia já não tem mais estrutura para acolher os haitianos, como nos relata o Pe. Olmes Milani, que administra o Centro de Pastoral de Cuiabá: RealAudioMP3
(BF)



Texto proveniente da página http://pt.radiovaticana.va/news/2013/06/20/dia_mundial_do_refugiado:_os_sonhos_dos_haitianos_no_brasil._ou%C3%A7a/bra-703242
do site da Rádio Vaticano