Pesquisa da PUC Minas revela que 40% dos haitianos no Brasil têm curso médio e 30% trabalham na construção civil
Bertha Maakaroun
Leonardo Augusto
Publicação: 17/05/2014 06:00 Atualização: 17/05/2014 07:16
Aos 33 anos, viúvo, o imigrante haitiano Marco Comblonini acalenta um sonho: trazer os três filhos de 4, 8 e 11 anos para o Brasil, onde tem emprego formal de pedreiro. Ganha R$ 1,2 mil e todos os meses separa a metade para enviar à irmã que cuida das crianças. Sempre atuando na construção civil desde que desembarcou no Brasil, já desempenhou funções de carpinteiro e de pintor. É assíduo no trabalho, mantém boas relações sociais, respeita hierarquias e teve adaptação tranquila. Pesquisa inédita com a combinação de métodos quantitativo e qualitativo, realizada entre julho e novembro de 2013, que traça o perfil da imigração haitiana ao Brasil, divulgada ontem pelos professores da PUC Minas Duval Fernandes e Maria da Consolação Gomes de Castro e pelo representante da Organização Internacional para as Migrações (OIM) indica que, assim como Marco Comblonini, 30% dos imigrantes haitianos, no Brasil, são absorvidos pela construção civil.
Cerca de 70% dos haitianos que vivem no Brasil estão em idade ativa, entre 18 e 50 anos, são homens, dividem a moradia com outros imigrantes e decidiram migrar por causa do caos e da falta de perspectiva profissional no país caribenho, devastado por um terremoto, de 7 graus na escala Richter, em janeiro de 2010. Pouco mais de 40% dos imigrantes haitianos têm escolaridade de nível médio completo ou incompleto. “A ideia de que a maioria deles seja analfabeta não é verdadeira, sendo muito pequeno o número dos que não têm nenhuma instrução. Estamos ganhando com a presença deles aqui”, afirma Duval.
Segundo o professor Fernandes, a taxa de ocupação dos haitianos é maior do que a dos brasileiros. “Em geral essa é a regra entre imigrantes: fazem trabalhos que ninguém quer. Em Porto Velho (RO), por exemplo, 70% dos empregados de uma empresa de coleta de lixo são haitianos”, assinala o professor. “A maior parte está trabalhando em condições semelhantes à dos brasileiros”, acrescenta o professor. Assim é com Elson Charles, de 32, há seis meses em Belo Horizonte. Ajudante de jardinagem, com um salário de R$ 1 mil, acaba de conquistar no Departamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) sua carteira de motorista. “Vou ser caminhoneiro”, diz o haitiano, que luta para aumentar seu salário e oferecer uma condição de vida melhor para os três filhos e a mulher que continuam no Haiti. “Um dia ainda vamos nos reunir”, espera ele.
Um pouco diferente é a trajetória de Jean Evens, de 33, há dois anos vivendo em Contagem. Ele veio com a mulher e o filho menor de dois anos, deixando com a mãe, no Haiti, as duas filhas, de 3 e 12 anos. Trabalhou por um ano e sete meses em uma empresa de alimentação como carregador noturno: ganhava entre R$ 1,1 mil e R$ 1,3 mil. Mas há poucos meses a empresa reduziu o quadro e Jean ficou desempregado. Está agora trabalhando, em um “bico”, com carga e descarga em uma transportadora. “Quero ficar no Brasil, guardar dinheiro, construir uma casa e trazer as minhas filhas. Aluguel aqui é muito caro”, revela ele, que tem instrução de nível médio e em seu país trabalhava como segurança e pescador do próprio barco.
coiotes Há, no Brasil, cerca de 34 mil haitianos, segundo estimativa Duval Fernandes, que calcula 50 mil até o fim deste ano. No conjunto do fluxo migratório que chega ao país, eles representam 10% do contingente – há quatro anos eles não passavam de duas centenas, mas, no fim de 2011, somavam 4 mil. As estatísticas fazem do Brasil o maior ponto do tráfico de imigrantes haitianos da América do Sul: 75% passam pelo Equador, seguem para o Peru e ingressam no Brasil por Tabatinga e Brasileia, fazendo, na fronteira, o pedido de refúgio. Apenas 5% deles tomam rotas distintas com passagem pela Argentina, Bolívia ou Chile antes de imigrar para o Brasil. Cerca de 20% saem do Haiti com vistos obtidos nos consulados e fazem escala no Panamá, antes de desembarcar nos aeroportos de Belo Horizonte, Brasília ou São Paulo.
“Eles demoram em média 15 dias para chegar ao Brasil e gastam no trajeto cerca de US$ 2,9 mil”, explica o professor Fernandes, considerando ainda que as despesas podem ser mais altas e chegar a mais de US$ 5 mil. “Muitos são coptados por um poderoso esquema, que se vale de coiotes haitianos, que acenam com promessas de altos salários. As casas são hipotecadas em troca de empréstimos em espécie e do serviço burocrático da viagem”, afirma o pesquisador. “É grande a vulnerabilidade desses 80% de imigrantes que entram no país dessa forma, sobretudo pelo Peru”, acrescenta, lembrando que, após o trajeto até a fronteira brasileira, é longo o processo para a regularização da situação migratória: depois de solicitar o refúgio, a abertura do processo leva à emissão de um protocolo que permite ao imigrante a obtenção de carteira de trabalho e CPF provisórios.
Embora estejam em 286 cidades brasileiras, 75% dos haitianos estão concentrados em São Paulo, em torno de 10% em Manaus e 7% – cerca de 3 mil – em Minas Gerais, sobretudo em Belo Horizonte e Esmeraldas e Contagem, ambas na Grande BH. “O Brasil não é mais o país de imigração do início do século nem o país da emigração dos anos 1980. Somos hoje um país de imigração, emigração e trânsito, além dos brasileiros que retornam depois de viver muitos anos no exterior. A questão migratória é atualmente muito maior do que foi no passado”, considera Duval Fernandes. Segundo ele, considerando a redução da taxa de natalidade no país, em 2030, a população brasileira começará a encolher, e mais da metade das aposentadorias serão bancadas pela contribuição dos imigrantes.
Cerca de 70% dos haitianos que vivem no Brasil estão em idade ativa, entre 18 e 50 anos, são homens, dividem a moradia com outros imigrantes e decidiram migrar por causa do caos e da falta de perspectiva profissional no país caribenho, devastado por um terremoto, de 7 graus na escala Richter, em janeiro de 2010. Pouco mais de 40% dos imigrantes haitianos têm escolaridade de nível médio completo ou incompleto. “A ideia de que a maioria deles seja analfabeta não é verdadeira, sendo muito pequeno o número dos que não têm nenhuma instrução. Estamos ganhando com a presença deles aqui”, afirma Duval.
Segundo o professor Fernandes, a taxa de ocupação dos haitianos é maior do que a dos brasileiros. “Em geral essa é a regra entre imigrantes: fazem trabalhos que ninguém quer. Em Porto Velho (RO), por exemplo, 70% dos empregados de uma empresa de coleta de lixo são haitianos”, assinala o professor. “A maior parte está trabalhando em condições semelhantes à dos brasileiros”, acrescenta o professor. Assim é com Elson Charles, de 32, há seis meses em Belo Horizonte. Ajudante de jardinagem, com um salário de R$ 1 mil, acaba de conquistar no Departamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) sua carteira de motorista. “Vou ser caminhoneiro”, diz o haitiano, que luta para aumentar seu salário e oferecer uma condição de vida melhor para os três filhos e a mulher que continuam no Haiti. “Um dia ainda vamos nos reunir”, espera ele.
Um pouco diferente é a trajetória de Jean Evens, de 33, há dois anos vivendo em Contagem. Ele veio com a mulher e o filho menor de dois anos, deixando com a mãe, no Haiti, as duas filhas, de 3 e 12 anos. Trabalhou por um ano e sete meses em uma empresa de alimentação como carregador noturno: ganhava entre R$ 1,1 mil e R$ 1,3 mil. Mas há poucos meses a empresa reduziu o quadro e Jean ficou desempregado. Está agora trabalhando, em um “bico”, com carga e descarga em uma transportadora. “Quero ficar no Brasil, guardar dinheiro, construir uma casa e trazer as minhas filhas. Aluguel aqui é muito caro”, revela ele, que tem instrução de nível médio e em seu país trabalhava como segurança e pescador do próprio barco.
coiotes Há, no Brasil, cerca de 34 mil haitianos, segundo estimativa Duval Fernandes, que calcula 50 mil até o fim deste ano. No conjunto do fluxo migratório que chega ao país, eles representam 10% do contingente – há quatro anos eles não passavam de duas centenas, mas, no fim de 2011, somavam 4 mil. As estatísticas fazem do Brasil o maior ponto do tráfico de imigrantes haitianos da América do Sul: 75% passam pelo Equador, seguem para o Peru e ingressam no Brasil por Tabatinga e Brasileia, fazendo, na fronteira, o pedido de refúgio. Apenas 5% deles tomam rotas distintas com passagem pela Argentina, Bolívia ou Chile antes de imigrar para o Brasil. Cerca de 20% saem do Haiti com vistos obtidos nos consulados e fazem escala no Panamá, antes de desembarcar nos aeroportos de Belo Horizonte, Brasília ou São Paulo.
“Eles demoram em média 15 dias para chegar ao Brasil e gastam no trajeto cerca de US$ 2,9 mil”, explica o professor Fernandes, considerando ainda que as despesas podem ser mais altas e chegar a mais de US$ 5 mil. “Muitos são coptados por um poderoso esquema, que se vale de coiotes haitianos, que acenam com promessas de altos salários. As casas são hipotecadas em troca de empréstimos em espécie e do serviço burocrático da viagem”, afirma o pesquisador. “É grande a vulnerabilidade desses 80% de imigrantes que entram no país dessa forma, sobretudo pelo Peru”, acrescenta, lembrando que, após o trajeto até a fronteira brasileira, é longo o processo para a regularização da situação migratória: depois de solicitar o refúgio, a abertura do processo leva à emissão de um protocolo que permite ao imigrante a obtenção de carteira de trabalho e CPF provisórios.
Embora estejam em 286 cidades brasileiras, 75% dos haitianos estão concentrados em São Paulo, em torno de 10% em Manaus e 7% – cerca de 3 mil – em Minas Gerais, sobretudo em Belo Horizonte e Esmeraldas e Contagem, ambas na Grande BH. “O Brasil não é mais o país de imigração do início do século nem o país da emigração dos anos 1980. Somos hoje um país de imigração, emigração e trânsito, além dos brasileiros que retornam depois de viver muitos anos no exterior. A questão migratória é atualmente muito maior do que foi no passado”, considera Duval Fernandes. Segundo ele, considerando a redução da taxa de natalidade no país, em 2030, a população brasileira começará a encolher, e mais da metade das aposentadorias serão bancadas pela contribuição dos imigrantes.