sábado, 2 de fevereiro de 2013

S.O.S - Acre - Fevereiro de 2013

01/02/2013 13h20- Atualizado em 01/02/2013 13h20

Acre recebe até 30 haitianos por dia três anos após terremoto no país

Só em janeiro deste ano, cerca de 800 imigrantes cruzaram a fronteira.
Abrigados em Brasiléia, estrangeiros dependem de doações para viver.

 
Haitianos recebem orientação para retirada da carteira de trabalho (Foto: Yuri Marcel/G1)Haitianos recebem orientação para retirar a carteira de trabalho (Foto: Yuri Marcel/G1)
Três anos após um terremoto ter devastado o Haiti, o número de habitantes que decidem deixar o país à busca de uma oportunidade no Brasil impressiona. No Acre, cerca de 30 imigrantes cruzam a fronteira todos os dias. Só em janeiro deste ano, 800 haitianos desembarcaram em Brasiléia, segundo dados da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado do Acre.
Abrigados em uma casa no município do interior do Acre, os estrangeiros que chegam e não conseguem um emprego de imediato vivem um dilema. Muitos dependem de doações para se alimentar. Atualmente, 400 dividem um espaço com capacidade para abrigar menos de 30 pessoas.
Com dificuldades para auxiliar os imigrantes, o governo do estado teve de contar com ajuda federal para mantê-los no abrigo. De acordo com o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Nílson Mourão, foram enviados em dezembro, por meio do Fundo da Assistência Social, R$ 270 mil. Quase 1/3 foi utilizado para pagar os seis meses de aluguel atrasado e da alimentação já fornecida (cerca de R$ 83 mil).
A dívida contraída fez com que a empresa contratada no ano passado cortasse o fornecimento das refeições. Hoje, quem vive no abrigo depende exclusivamente de doações. Igrejas, empresários e parte da comunidade têm buscado auxiliar os haitianos. Segundo Mourão, a ideia é que o governo consiga, por meio de uma licitação, fazer um contrato com uma nova empresa já em fevereiro para distribuir os alimentos. Um novo espaço também deve ser destinado aos estrangeiros na próxima semana, afirma.
Procura
Apesar dos problemas enfrentados, a busca por mão de obra haitiana tem sido cada vez maior. Empresas de diversas regiões do país têm se interessado em contratá-los. No Ministério do Trabalho, os atendimentos aos estrangeiros multiplicaram. Em Rio Branco, na sede do órgão, há dias em que os estrangeiros são os únicos a serem atendidos.
Ou a gente sai de lá ou morre, porque não tem trabalho"
Emanuel Jean, ex-professor de idiomas no Haiti
Parte desta mão de obra já foi absorvida para trabalhar nas construções das usinas de Jirau e Santo Antônio, no estado vizinho Rondônia,, onde o setor de construção civil continua aquecido. Empresas do Sul e do Sudeste também têm enviado representantes para firmar os contratos.
O processo de imigração haitiana para o Brasil teve início pouco depois do terremoto, que matou mais de 250 mil pessoas e deixou 1,5 milhão de desabrigados. Por causa das condições precárias dos acampamentos, uma epidemia de cólera obrigou parte da população a buscar refúgio no Brasil. Inicialmente ilegais, os estrangeiros passaram a fazer um périplo para chegar ao país.
Emanuel Jean tenta recomeçar a vida no Brasil (Foto: Yuri Marcel/G1)Emanuel Jean tenta recomeçar a vida no Brasil
(Foto: Yuri Marcel/G1)
Oportunidade
Emanuel Jean, de 39 anos, é um exemplo desta migração desenfreada. Professor de idiomas antes do terremoto, ele deixou os dois filhos com a irmã e saiu do Haiti apenas com a mulher buscando reconstruir a vida em uma empresa brasileira. Para chegar ao Brasil, percorreu um longo caminho, passando por República Dominicana, Equador, Bolívia e Peru até desembarcar em Assis Brasil, município do Acre que faz fronteira com o Peru.
A viagem, segundo ele, dura mais de um mês e apresenta perigos. Há diversos relatos de extorsão e até assédio sexual por parte de policiais de países vizinhos. Para o ex-professor, no entanto, não há outra saída. "É muito difícil deixar a terra onde a gente nasce e a família, mas ou a gente sai de lá ou morre, porque não tem trabalho."
Nesta semana, Jean foi contratado por uma empresa de construção civil de Belo Horizonte (MG). Como ele, quase 50 cidadãos do Haiti foram ao Ministério do Trabalho para retirar a carteira de trabalho e se mudar para o Sudeste.
De acordo com o técnico da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos Aldemir Júnior, isso tem virado rotina. "Os empresários dizem que a mão de obra haitiana, além de qualificada, é 30% mais eficiente que a encontrada na região."
No ano passado, o Conselho Nacional de Imigração, órgão ligado ao Ministério do Trabalho, aprovou a concessão de 1.200 vistos por ano para haitianos que migram para o Brasil. O documento, válido por cinco anos, dá direito de o estrangeiro trabalhar e trazer a família para o país pelo mesmo período.
Haitiano é atendido no Ministério do Trabalho (Foto: Yuri Marcel/G1)Haitiano é atendido no Ministério do Trabalho; há dias em que só os imigrantes são recebidos na sede do órgão (Foto: Yuri Marcel/G1)
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