Coiotes'
trouxeram 38 mil haitianos ao País em 4 anos
23/05/201509h14
São Paulo e Brasília - Com a promessa de vender facilidades a pelo menos 38
mil haitianos que já cruzaram, sem visto, a fronteira do Brasil pelo Acre, a
rede de coiotes já faturou US$ 60 milhões - o equivalente a mais de R$ 185
milhões - nos últimos quatro anos. Os dados são da Agência Brasileira de
Inteligência (Abin) e foram apresentados na reunião de quinta-feira, no
Planalto, que reuniu diversos ministros e decidiu aumentar os vistos para os
imigrantes daquele país.
Na primeira semana de junho, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo,
inicia um périplo por Equador, Peru e Bolívia. O objetivo da viagem é definir
uma estratégia para barrar a ação dos coiotes na região.
O governo brasileiro quer envolver os países vizinhos no problema, já que
eles funcionam como rota para o transporte dos haitianos, mas não agem para
impedir o avanço do tráfico de pessoas. Paralelamente, o governo brasileiro
tenta montar uma rede para desenvolver uma ação conjunta com Estados e
municípios, a fim de amparar os estrangeiros.
A chegada desordenada de haitianos criou tensão entre os governos federal e
do Acre, assim como do Acre com São Paulo, para onde os imigrantes estavam
sendo transferidos. Desde 2010, o governo acriano cobrava ações do Planalto,
que só agora, depois da reunião de quinta, começaram a ser desenhadas.
O Acre informa esperar que as medidas discutidas sejam colocadas em
prática. Caso os planos não se concretizem até o final de junho, o governador
do Estado, Tião Viana (PT), avisou que vai restringir o abrigo concedido a
haitianos para mães e crianças, não atendendo mais os homens, que deixariam de
ter direito de serem acolhidos. O governo do Acre voltou a fazer pressão em
Brasília diante dos números considerados assustadores de entrada no País, pelo
Estado, nos últimos dias. Em dois dias da semana passada, quase 300 haitianos
chegaram ao Brasil, o que aumentou ainda mais a preocupação das autoridades
brasileiras.
Reunião
Na reunião de quinta-feira, várias medidas foram traçadas para tentar
reduzir a exploração dos imigrantes pelos coiotes que, embora a maioria seja de
haitianos, também envolve pessoas de outros países, principalmente africanos.
Para tentar coibir a entrada ilegal de haitianos no Brasil, a embaixada
brasileira em Porto Príncipe, capital do Haiti, vai desenvolver uma campanha
explicativa, informando aos cidadãos daquele país que eles podem obter vistos,
sem se submeter à ação dos coiotes. O governo brasileiro subirá de 600 para 2
mil o número de vistos mensais para haitianos interessados em viver no Brasil.
Em 2010, eram emitidos cem vistos por mês. Na campanha, o governo
brasileiro vai dizer aos haitianos que eles podem vir por meios legais, sem ter
de se arriscar ou pagar valores exorbitantes aos coiotes.
O Gabinete de Segurança Institucional, a quem a Abin é ligada, não
respondeu ao Estado sobre o relatório divulgado na reunião de quinta.
Os coiotes
A maioria dos haitianos refugiados no Brasil relata demorar, no mínimo, 20
dias entre Porto Príncipe e São Paulo. A viagem é orquestrada por coiotes, que
cobram de US$ 3 mil (cerca de R$ 9.285) a US$ 8 mil (mais de R$ 24 mil) por
pessoa. O trajeto de muitos deles é o mesmo. Viajam de avião da capital
haitiana até Quito (Equador) e, de lá, descem e sobem em pelo menos quatro
diferentes ônibus, até chegar a Rio Branco, no Acre.
Segundo o padre Paolo Parise, diretor do abrigo Missão Paz, em São Paulo, o
momento mais crítico da viagem acontece na fronteira do Equador com o Peru. Os
haitianos, por ordem dos coiotes, desembolsam cerca de US$ 100 como suborno
para policiais peruanos liberarem a passagem dos imigrantes.
Os haitianos contam que atravessam um rio a pé, por baixo de uma ponte,
para entrar no Peru. "Policiais expulsos da corporação peruana formaram
uma quadrilha que hoje gerencia o tráfico de drogas e de pessoas. Muitos
haitianos não têm dinheiro para dar na hora e são mantidos em cárcere privado
até que a família mande remessas", explica o padre. Mulheres são abusadas.
Uma haitiana chegou grávida ao abrigo no ano passado, vítima de estupro por
homens da quadrilha, conta Parise.
Saído do país natal há 17 dias, onde deixou mulher e filho, o haitiano
Ruben é uma das vítimas dos achaques na fronteira. Ele calcula ter desembolsado
US$ 150 para conseguir passar do Equador para o Peru. "As pessoas perdem
roupas, sapatos, o que têm. O trajeto é muito duro", afirmou. Ele, que
trabalha como encanador e eletricista, chegou ao Brasil há três dias. "Não
quero que minha mulher e meu filho venham dessa forma. Estou
traumatizado." Colaborou Juliana Domingos, especial para O Estado. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(documento recebido do e-mail de Alfredo Goncales).
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