segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Jesuit Refugee Service - JRS 04-02-2013 - Informação e gratidão



 

2013/2/6 SJRLAC Coordinación de Comunicación <comunicacion.coordinacion@sjrlac.org>

A hospitalidade nem sempre tem sido a resposta ao clamor dos migrantes haitianos

No início desse novo ano [2013], de norte ao sul do continente americano, os migrantes forçados haitianos buscam céus menos inclementes do que seu país de origem; continuando sua peregrinação por terra, mar e ar.
No entanto, a hospitalidade nem sempre tem sido a resposta dos Estado de chegada ao seu clamor, ao tocar as portas das terras, das fronteiras ou dos mares onde buscam refúgio.
Alguns Estados fecham suas portas, outros os repatriam ao seu país de origem quando ditos migrantes fogem dele devido ao agravamento da crise humanitária e à estagnação do processo de reconstrução após o terremoto de 12 de janeiro de 2010.
A seguir, um panorama da situação migratória dos migrantes haitianos no continente, no início desse novo ano...
"As repatriações convertem-se em deportações indiscriminadas”
As autoridades de migração da República Dominicana recomeçaram em 2013 as repatriações dos migrantes haitianos sem documentos.
No entanto, as repatriações continuam "vulnerando as leis dominicanas, os acordos e tratados internacionais e violando os direitos humanos das pessoas migrantes”, denunciam o Serviço Jesuíta a Migrantes (SJM) e a Rede Fronteiriça Jano Siksè, em um comunicado de imprensa conjunto, publicado no passado 2 de fevereiro, n República Dominicana.
"Nessa política pouco clara e nada transparente, desrespeitosa dos convênios internacionais assinados pela República Dominicana em matéria de direitos humanos e direitos dos migrantes e de suas famílias, as repatriações convertem-se em expulsões ou deportações indiscriminadas, arbitrárias e direcionais, que vulneram a dignidade e os direitos humanos das 61 pessoas, 58 homens e 3 mulheres que, hoje [4/2/13] foram abandonadas na fronteira de Comendador (Elías Piña)”, ilustram ambas instituições.
A Guarda Costeira dos Estados Unidos intensifica suas patrulhas
No dia 10 de janeiro, a Guarda Costeira estadunidense repatriou ao Haiti 10 migrantes haitianos que foram interceptados a leste de Boyton Beach, segundo uma nota da Guarda Costeira dos Estados Unidos da América.
Além dos migrantes haitianos, dois da Guiana e um da Jamaica foram detidos também na embarcação que se dirigia às costas de Miami.
Durante a semana de 6 a 13 de janeiro, a Guarda Costeira americana havia repatriado a Cabo Haitiano (no norte do Haiti) a 168 haitianos que tentavam ingressas a Miami.
Os haitianos miram cada vez mais para o sul do continente
Ante a intensificação das patrulhas da Guarda Costeira americana no Mar Caribe, os haitianos olham cada vez mais para o sul do continente.
Apesar de que a entrada dos migrantes haitianos se estabilizou em 2012 no Equador e no Chile, duas portas principais de entrada dos cidadãos caribenhos à região, o Brasil continua sendo uma terra de oportunidades para eles.
Ante a onda migratória dos haitianos às fronteiras do Brasil com a Colômbia, com o Peru e a Bolívia durante os dois últimos anos, o governo de Brasília fixou, no dia 12 de janeiro de 2012, uma quota de 200 vistos mensais, que vem outorgando desde então aos haitianos e às suas famílias através de sua Embaixada baseada em Porto Príncipe.
No entanto, as autoridades consulares brasileiras no Haiti anunciaram, em dezembro de 2012, que não poderiam receber novas solicitações de vista em 2013 porque já haviam entrevistado a 1.200 famílias haitianas solicitantes.
Diante da grande demanda das famílias haitianas, o governo brasileiro analisa a possibilidade de aumentar a quota.
Nos dois últimos anos, o Brasil outorgou esse tipo de vistos humanitários a mais de 4.000 migrantes haitianos.
Por outro lado, em 2012 chegaram ao Chile um total de 1.090 migrantes haitianos, em comparação com os 1.389 cidadãos dessa nação caribenha que haviam entrado no Chile em 2011. No Equador, chegaram 2.257 migrantes haitianos em 2012 (jan-nov), em comparação com os 1.681, em 2010 e os 1.257, em 2009.
Vale ressaltar que uma quantidade significativa de migrantes haitianos que chegaram aos respectivos aeroportos internacionais de Quito e de Santiago do Chile foi repatriada ao seu país de origem porque não puderam demonstrar capacidade econômica para permanecer como turistas nesses países.
Tradução: ADITAL
 
Wooldy Edson Louidor
Coordenador Regional  Comunicação– Seviço Jesuíta a Refugiados para América Latina e Caribe (SLR LAC)

Wooldy Edson LOUIDOR
Comunicaciones SJR-LAC
Servicio Jesuita a Refugiados para Latinoamérica y el Caribe (SJR LAC)

Skype: wooldy.edson.louidor

 
La hospitalidad no ha sido siempre la respuesta al clamor de los migrantes haitianos
Bogotá, 4 de febrero de 2012. A comienzos de este nuevo año, del norte al sur del continente americano los migrantes forzados haitianos buscan cielos menos inclementes que su país de origen, continuando su peregrinación por tierra, mar o aire.
Sin embargo, la hospitalidad no ha sido siempre la respuesta de los Estados de llegada a su clamor, al tocar las puertas de las tierras, las fronteras o los mares adonde acuden.
Algunos Estados les cierran la puerta y otros los repatrían a su país de origen, cuando dichos migrantes huyen de él a causa de la agudización de la crisis humanitaria y la estagnación del proceso de reconstrucción tras el terremoto del 12 de enero de 2010.
A continuación un panorama de la situación migratoria de los migrantes haitianos en el continente, a inicios de este nuevo año….
“Las repatriaciones se convierten en deportaciones indiscriminadas”
Las autoridades de migración dominicanas reanudaron en este año 2013 las repatriaciones de los migrantes haitianos indocumentados.
Sin embargo, las repatriaciones siguen “vulnerando las leyes dominicanas, los acuerdos y tratados internacionales y violando los derechos humanos de las personas migrantes”, denuncian el Servicio Jesuita a Migrantes (SJM) y la Red Fronteriza Jano Siksè en un comunicado de prensa conjunto, publicado el pasado 2 de febrero en República Dominicana.
“En esta política poco clara y nada transparente, irrespetuosa de los convenios internacionales suscritos por la República Dominicana en materia de derechos humanos y derechos de los migrantes y sus familias, las repatriaciones se convierten en expulsiones o deportaciones indiscriminadas, arbitrarias y discrecionales que vulneran la dignidad y los derechos humanos de las 61 personas, 58 hombres y 3 mujeres, que hoy fueron abandonadas tras la puerta fronteriza de Comendador (Elías Piña)”, ilustran ambas instituciones. 
La Guardia Costera de los Estados Unidos intensifica sus patrullas
Los Guardacostas estadounidenses repatriaron a Haití, el 10 de enero, a 10 migrantes haitianos que fueron interceptados al este de Boyton Beach, según una nota de la Guardia Costera de los Estados Unidos de América.
Además de los migrantes haitianos, dos guyaneses y un jamaiquino fueron detenidos también en la embarcación que se dirigía a las costas de Miami.
Durante la semana del 6 al 13 de enero, la Guardia Costera americana había repatriado a Cabo Haitiano (norte de Haití) a 168 haitianos que intentaban ingresar a Miami.
Los haitianos miran cada vez más al sur del continente
Ante la intensificación de las patrullas de la Guardia Costera americana en el Mar Caribe, los haitianos miran cada vez más al sur del continente.
Si bien el ingreso de los migrantes haitianos se estabilizó en el año 2012 en Ecuador y Chile, dos principales puertas de entrada de los ciudadanos caribeños a la región, sin embargo Brasil sigue siendo una tierra de oportunidades para ellos.
Ante la ola migratoria de los haitianos a las fronteras de Brasil con Colombia, Perú y Bolivia durante los dos últimos años, el gobierno de Brasilia fijó el 12 de enero de 2012 una cuota de 100 visas mensuales que ha venido otorgando desde entonces a los haitianos (y sus familias) a través de su Embajada basada en Puerto Príncipe.
Sin embargo, las autoridades consulares brasileñas en Haití anunciaron en diciembre del año pasado que no podían recibir nuevas solicitudes de visa para el año 2013 porque ya habían entrevistado a 1200 familias haitianas solicitantes.
Ante la gran demanda de las familias haitianas, el gobierno brasileño analiza la posibilidad de aumentar la cuota.
En los dos últimos años, Brasil otorgó este tipo de visas humanitarias a más de 4000 migrantes haitianos.
Por otro lado, llegaron en 2012 a Chile un total de 1090 migrantes haitianos, en comparación con los 1389 ciudadanos de esta nación caribeña que habían ingresado en 2011 al país suramericano.
Del mismo modo, llegaron a Ecuador 2257 migrantes haitianos en 2012 (de enero hasta noviembre) en comparación con 1681 en 2010 y 1257 en 2009.
Vale subrayar que una cantidad significativa de migrantes haitianos que arribaron a los respectivos aeropuertos internacionales de Quito (Ecuador) y Santiago de Chile fueron retornados a su país de origen porque no pudieron mostrar capacidad económica para quedarse como turistas en el país.
Wooldy Edson Louidor, Coordinador de Comunicación del SJR-LAC

sábado, 2 de fevereiro de 2013

S.O.S - Acre - Fevereiro de 2013

01/02/2013 13h20- Atualizado em 01/02/2013 13h20

Acre recebe até 30 haitianos por dia três anos após terremoto no país

Só em janeiro deste ano, cerca de 800 imigrantes cruzaram a fronteira.
Abrigados em Brasiléia, estrangeiros dependem de doações para viver.

 
Haitianos recebem orientação para retirada da carteira de trabalho (Foto: Yuri Marcel/G1)Haitianos recebem orientação para retirar a carteira de trabalho (Foto: Yuri Marcel/G1)
Três anos após um terremoto ter devastado o Haiti, o número de habitantes que decidem deixar o país à busca de uma oportunidade no Brasil impressiona. No Acre, cerca de 30 imigrantes cruzam a fronteira todos os dias. Só em janeiro deste ano, 800 haitianos desembarcaram em Brasiléia, segundo dados da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado do Acre.
Abrigados em uma casa no município do interior do Acre, os estrangeiros que chegam e não conseguem um emprego de imediato vivem um dilema. Muitos dependem de doações para se alimentar. Atualmente, 400 dividem um espaço com capacidade para abrigar menos de 30 pessoas.
Com dificuldades para auxiliar os imigrantes, o governo do estado teve de contar com ajuda federal para mantê-los no abrigo. De acordo com o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Nílson Mourão, foram enviados em dezembro, por meio do Fundo da Assistência Social, R$ 270 mil. Quase 1/3 foi utilizado para pagar os seis meses de aluguel atrasado e da alimentação já fornecida (cerca de R$ 83 mil).
A dívida contraída fez com que a empresa contratada no ano passado cortasse o fornecimento das refeições. Hoje, quem vive no abrigo depende exclusivamente de doações. Igrejas, empresários e parte da comunidade têm buscado auxiliar os haitianos. Segundo Mourão, a ideia é que o governo consiga, por meio de uma licitação, fazer um contrato com uma nova empresa já em fevereiro para distribuir os alimentos. Um novo espaço também deve ser destinado aos estrangeiros na próxima semana, afirma.
Procura
Apesar dos problemas enfrentados, a busca por mão de obra haitiana tem sido cada vez maior. Empresas de diversas regiões do país têm se interessado em contratá-los. No Ministério do Trabalho, os atendimentos aos estrangeiros multiplicaram. Em Rio Branco, na sede do órgão, há dias em que os estrangeiros são os únicos a serem atendidos.
Ou a gente sai de lá ou morre, porque não tem trabalho"
Emanuel Jean, ex-professor de idiomas no Haiti
Parte desta mão de obra já foi absorvida para trabalhar nas construções das usinas de Jirau e Santo Antônio, no estado vizinho Rondônia,, onde o setor de construção civil continua aquecido. Empresas do Sul e do Sudeste também têm enviado representantes para firmar os contratos.
O processo de imigração haitiana para o Brasil teve início pouco depois do terremoto, que matou mais de 250 mil pessoas e deixou 1,5 milhão de desabrigados. Por causa das condições precárias dos acampamentos, uma epidemia de cólera obrigou parte da população a buscar refúgio no Brasil. Inicialmente ilegais, os estrangeiros passaram a fazer um périplo para chegar ao país.
Emanuel Jean tenta recomeçar a vida no Brasil (Foto: Yuri Marcel/G1)Emanuel Jean tenta recomeçar a vida no Brasil
(Foto: Yuri Marcel/G1)
Oportunidade
Emanuel Jean, de 39 anos, é um exemplo desta migração desenfreada. Professor de idiomas antes do terremoto, ele deixou os dois filhos com a irmã e saiu do Haiti apenas com a mulher buscando reconstruir a vida em uma empresa brasileira. Para chegar ao Brasil, percorreu um longo caminho, passando por República Dominicana, Equador, Bolívia e Peru até desembarcar em Assis Brasil, município do Acre que faz fronteira com o Peru.
A viagem, segundo ele, dura mais de um mês e apresenta perigos. Há diversos relatos de extorsão e até assédio sexual por parte de policiais de países vizinhos. Para o ex-professor, no entanto, não há outra saída. "É muito difícil deixar a terra onde a gente nasce e a família, mas ou a gente sai de lá ou morre, porque não tem trabalho."
Nesta semana, Jean foi contratado por uma empresa de construção civil de Belo Horizonte (MG). Como ele, quase 50 cidadãos do Haiti foram ao Ministério do Trabalho para retirar a carteira de trabalho e se mudar para o Sudeste.
De acordo com o técnico da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos Aldemir Júnior, isso tem virado rotina. "Os empresários dizem que a mão de obra haitiana, além de qualificada, é 30% mais eficiente que a encontrada na região."
No ano passado, o Conselho Nacional de Imigração, órgão ligado ao Ministério do Trabalho, aprovou a concessão de 1.200 vistos por ano para haitianos que migram para o Brasil. O documento, válido por cinco anos, dá direito de o estrangeiro trabalhar e trazer a família para o país pelo mesmo período.
Haitiano é atendido no Ministério do Trabalho (Foto: Yuri Marcel/G1)Haitiano é atendido no Ministério do Trabalho; há dias em que só os imigrantes são recebidos na sede do órgão (Foto: Yuri Marcel/G1)
Para ler mais notícias do G1 Acre, clique em g1.globo.com/ac.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

27-01-2013


PRO-HAITI E PARA TODOS




A imigração haitiana para o Brasil teve um aumento considerável após o catastrófico terremoto de Janeiro de 2010. Tal assunto colocou em pauta os temas de imigração e refúgio. A diferença básica entre eles é a seguinte: os refugiados saem de seus respectivos territórios motivados a salvar suas vidas, preservar sua liberdade, pois o Estado não garante; enquanto os imigrantes econômicos descoloram-se para melhorar sua perspectiva de vida e da família. Os haitianos são considerados imigrantes econômicos.
A proximidade geográfica entre Brasil e Haiti, a Missão de Paz brasileira no território haitiano, são os apontados como fatores determinantes para esta escolha. A porta de entrada é o Estado de Manaus, onde dirigem-se para as cidades de Tabatinga e Brasiléia, visto que lá existem postos da Polícia Federal. Devido à falta de preparo do Estado em termos de políticas públicas para refugiados, observa-se a mobilização de grupos ligados à Igrejas que auxiliam os haitianos que fugiram para o Brasil.
Nesse âmbito, destaca-se o Projeto Pró-Haiti na cidade de Manaus. Muitos haitianos saiam de Tabatinga para Manaus, onde procuravam ajuda na Igreja de São Geraldo, lá a Pastoral da Migrante da Arquidiocese de Manaus se mobilizou a fim de ajudar os haitianos. Eles contaram com ajuda de outras congregações, o povo amazonense, Polícia Federal e o Ministério do Trabalho. O principal objetivo do projeto é mobilizar diferentes forças e prestar um trabalho profissional e específico, fornecendo assistência jurídica e orientação sobre programas de saúde, educação, emprego e Justiça. E na maioria dos casos há atendimento psicológico e aulas de português dadas por professores voluntários. O Pró-Haiti atende cerca de 200 pessoas por semana, e todos os serviços prestados são gratuitos.
O projeto recebe apoio financeiro da Igreja de Manaus através da Caritas Diocesana e dos jesuítas do sul do Brasil, o superior geral dos Jesuítas, sediado em Roma, também proporcionou ajuda financeira. Além de contarem com doadores espontâneos de outros lugares do país que sensibilizaram-se com o projeto, como um grupo de italianos que fizeram uma campanha de roupas e enviaram alguns valores.
Após conseguirem documentação a maioria sai de Manaus, porque receberam oferta de emprego em outros lugares, como São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. E neste último Estado, graças aos meios de comunicação, encontra-se haitianos em quase todas as cidades. Diante de tal demanda, foi o governo do Estado criou o Fórum Permanente de Mobilidade Urbana no final do ano passado, que envolve sociedade civil e governo e abrange migrantes, refugiados, tráfico de pessoas, apátridas e marítimos.
Em entrevista concedida ao IHU On-Line, o missionário jesuíta e membro do Projeto Pró-Haiti, Paulo Welter, disse que é difícil cumprir a legislação internacional quando o assunto é refugiados e reapatriados, apesar da legislação internacional ser bem clara quanto ao que deve ser feito, as nações que recebem os refugiados costumam colocar impecilhos para o cumprimento dos acordos. Certamente influenciado pelo estágio de globalização em que vivemos, onde somente o humano não é globalizado.
Ruana Corrêa

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Testemunho


TESTEMUNHO DE DOM ODILO
Haiti ainda exige atenção especialMissaoBelem
Data e horário: terça-feira, 15 Janeiro 2013 - 15:15
Créditos: Redação com jornal O SÃO PAULO
Encontro-me no Haiti desde o dia 8 de janeiro. Vim para cá com o padre Gianpietro Carraro e alguns outros missionários e voluntários da Missão Belém. Fomos acolhidos e hospedados num centro missionário dos padres carlistas, que ficou em pé depois do terremoto; ali também estão abrigadas as religiosas da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), que vieram para trabalhar no Haiti, além da comunidade do Seminário Maior Diocesano do Haiti, com mais de 200 seminaristas.
Fizemos visita ao arcebispo de Porto Príncipe, que estava reunido com vários sacerdotes, em retiro. Contou-nos um pouco sobre a situação da Igreja neste tempo posterior ao terremoto. Ainda falta reconstruir muitas igrejas, as missas continuam a ser celebradas debaixo de tendas, a construção do seminário ainda não começou. A visita à catedral, em ruínas, é desoladora. No entanto, andando pelas ruas, já não se veem mais tantos sinais do terremoto; os materiais foram removidos e a maioria das casas recuperáveis parece ter sido reparada. Contudo, edifícios públicos, de governo, continuam em ruínas.
Ainda se observam grandes campos de tendas, onde as pessoas continuam a viver e a esperar uma casa para morar; muita gente também foi para as periferias da cidade e constituiu novas favelas, ocupando áreas disponíveis; outros foram para as montanhas, perto de Porto Príncipe, onde o ar é melhor; também essas estão à espera de receber uma casinha. De fato, a poluição do ar é grande, além da poeira, pois é seco neste período.
Na visita ao núncio apostólico, pudemos ouvir uma nova explicação sobre a situação do país e sobre o fluxo das ajudas internacionais para a reconstrução do país. Uma breve visita aos capelães do Brasil e do Paraguai, das Forças de Paz da ONU, também foi proveitosa para compreender o papel dessas forças internacionais, que continuam no Haiti, cuidando da segurança, mas em grau já diverso do início de sua presença; hoje já existe uma polícia haitiana, que começa a ter significado sempre maior para cuidar da ordem.
Passei a maior parte do tempo com os sete missionários da Missão Belém, que estão estavelmente no Haiti. Eles vieram para cá há cerca de dois anos e já estão fazendo um trabalho de grande significado e valor em Warf Jeremie, um bairro distante do centro de Porto Príncipe; trata-se de uma favela formada sobre um lixão imenso, onde as pessoas vivem em barracos paupérrimos, em condições degradantes para a dignidade humana, sobre o lixo, junto com um canal de esgoto a céu aberto, com porcos por todo lado e um mau cheiro insuportável. Dizem que seriam mais de 200 mil pessoas! Por toda parte, muitas crianças! Não há ruas, nem luz, nem água encanada. Não há trabalho e as pessoas procuram “fazer bicos” para sobreviver.
Nesse bairro, já existem vários trabalhos sociais, de diversas organizações. Foi ali também que a Missão Belém iniciou, com o apoio de benfeitores de São Paulo e da Itália, um centro de acolhida para crianças; foram construídas várias casinhas simples, mas decentes, com salas para acolher crianças; funciona como uma escolinha, que já acolhe cerca de 450 crianças, desde seis meses até oito anos; a maioria delas são bem pequenas e isso requer a ajuda de voluntários e assalariados. A manutenção é assegurada por apadrinhamentos à distância e pela Providência de Deus...
A visita às salas foi comovente; as crianças estão limpinhas, bem nutridas, os olhinhos brilhando... Passam o dia inteiro ali e recebem alimentação três vezes ao dia. À tarde, voltam para suas mães. Se não estivessem ali, provavelmente estariam brincando sobre o lixo, em meio ao esgoto, passando fome... Com as crianças, os pais, sobretudo as mães, também são envolvidas na escolinha e aprendem a fazer muitas coisas úteis. Uma vez por semana, uma das religiosas da CRB, que é enfermeira, vai lá e dá alguma assistência à saúde.
Os missionários visitam as casas, promovem várias ações de evangelização com o povo e já falam o creolo fluentemente... Vi que são bem aceitos e bem quistos pelo povo. Eles mesmos também vivem numa choupana precária e muito pobre, como são as do povo, para compartilhar concretamente a vida daquela população.
Fizemos uma via sacra no meio da favela, esgueirando-nos entre os barracos, onde não existem ruas... Foi uma experiência chocante ver de perto onde e como vivem aquelas pessoas. A ideia de Jesus, que continua a carregar a cruz nas dores e sofrimentos da humanidade, foi muito forte.
Hoje, 12 de janeiro, transcorre o terceiro aniversário do terrível terremoto, no qual perderam a vida mais de 300 mil pessoas; entre elas, também doutora Zilda Arns, que tinha vindo para cá fundar a Pastoral da Criança. Rezarei uma missa num santuário, lembrando de todas as vítimas. Já tive contatos com as religiosas da CRB, que estão empenhadas em várias frentes de trabalho para ajudar a população a retomar a vida; há várias congregações, de diversos países, bem como grupos de voluntários, fazendo o mesmo.
O Haiti continua sendo um país muito pobre e devastado; mas tem muitas possibilidades e, com muitos pequenos “milagres”, motivados pela solidariedade e a caridade fraterna, certamente conseguirá superar a situação atual.
artigo publicado no site www.arquidiocesedesaopaulo.org.br
  
Minha fé é política porque ela não suporta separação entre o corpo de Jesus e o corpo de um irmão.
Minha fé é política porque crê que a economia pode mudar um dia e ser toda solidária
Minha fé é política porque acredito na juventude, na sua força e inquietude, no seu poder de diferença.

Pastoral Fé e Política
Arquidiocese de São Paulo
A partir de Jesus Cristo em busca

sábado, 19 de janeiro de 2013

Brasiléia - Acre - 18-01-2013

AC: mais de 600 haitianos buscam abrigo e trabalho em Brasiléia


Haitianos continuam chegando ao município de Brasiléia, a 235 quilômetros de Rio Branco (AC), na fronteira com a Bolívia, em busca de abrigo e trabalho. Já existem mais de 600 haitianos na cidade, abrigados precariamente numa casa sem energia elétrica.

- Empresários estão chegando e vão levar 50 ou mais nos próximos dias ao sul do Brasil. Eles querem contratar haitianos porque não encontram brasileiros que queiram trabalhar – disse o pesquisador professor Foster Brown, membro do MAP -de Madre de Dios (Peru), Acre (Brasil) e Pando (Bolívia)- uma iniciativa de de direitos humanos.

Cerca de 90 a 100 dos 600 haitianos são mulheres, que continuam enfrentando dificuldades para encontrar emprego no Brasil.

Em média cerca de 20 haitianos chegam por dia em Brasileia. O custo de transporte, incluindo subornos, é de cerca de US$ 500, de Puerto Maldonado (Peru) até Brasileia.

No momento, os 600 haitianos estão na mesma casa (sem luz) que há dois meses estava superlotada com 200. Na próxima semana, Damião Borges, funcionário do governo estadual, pretende mudar os haitianos para uma nova casa.

- Nesta sexta já enviamos 53 para a região sul do país. Na próxima semana, mais haitianos serão levados para o Rio Grande do Sul (72), Rio de Janeiro (8), Santa Catarina (30), Mato Grosso (30) e Piaui (30). Os empresários não param de ligar para contratá-los. Esperamos que, até quarta-feira, mais de 200 haitianos terão saído de Brasiléia – disse Borges.

Por: Altino Machado
Fonte: Terra Magazine / Blog da Amazônia 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Entrevista 18-01-2013


Refugiados e imigrantes: um desafio humanitário. Entrevista especial com Paulo Welter

“O refúgio já é muito antigo e vem acompanhado com sentimento de dor. Pois, quando uma pessoa é forçada a deixar a sua pátria ela carrega consigo o sentimento de dor e o desejo de regressar”, aponta o irmão jesuíta.

Confira a entrevista.

“No mundo globalizado jamais será possível entender a existência de pessoas refugiadas. Falta globalizar o ser humano. Mas isso será muito difícil, uma vez que, nesse processo de globalização, faltam valores éticos necessários no relacionamento de respeito entre as pessoas”. A declaração é do missionário e irmão jesuíta, Paulo Welter, que durante seis anos atuou no Serviço Jesuíta aos Refugiados, em Angola.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, Welter relata sua experiência juntos dos refugiados africanos e dos imigrantes haitianos, no Brasil. Após retornar de Angola, o irmão jesuíta participou do projeto Pró-Haiti, uma iniciativa dos jesuítas brasileiros para dar apoio aos haitianos que chegam ao país. Ao avaliar essas iniciativas, ele é enfático: “A vida é feita de desafios e buscas de melhores condições para se viver. Para os imigrantes e refugiados, estes desafios sempre são urgentes e quase imediatos, pois a vida está em perigo e precisam encontrar uma solução. As organizações internacionais e nacionais apontam como desafio a possibilidade de proporcionar soluções duradouras e projetos que ofereçam oportunidades aos migrantes e refugiados. Dar comida é algo imediato e, em muitos casos, é disso o que mais necessitam tais pessoas. Mas não se pode dar comida por muito tempo, especialmente quando a demanda é grande. Encontrar atividades e projetos com soluções duradoras é, portanto, o grande desafio”.

Paulo Welter
é graduado em Ciências Jurídicas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, assessor do projeto Pró-Haiti e de 2008 a 2011 foi diretor nacional do Serviço Jesuita aos Refugiados - SJR -, em Angola.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como define a questão dos refugiados no mundo?

Paulo Welter
– Foi a partir do início do século XX que os refugiados no mundo receberam atenção da comunidade internacional e, por questões humanitárias, o mundo inteiro resolveu prestar assistência e proteção. De acordo com a legislação, os refugiados são classificados segundo a sua origem, nacionalidade e ficaram desprovidos de proteção por parte de seu país.

O mundo está cada vez mais globalizado e as pessoas circulam com mais facilidade de um país para outro, ou seja, as fronteiras quase perderam o seu sentido em relação a uma sociedade globalizada e quando pensamos como seres humanos com os mesmos direitos em todo o mundo. Com certeza os refugiados provocam muitas inquietudes diante da legislação em vigor em certos países que se “protegem” impedindo e ou negando a dignidade de vida ao seu irmão e semelhante. Pois estas pessoas apenas têm uma opção: proteger suas vidas em outro país uma vez que o seu não mais garante a mínima proteção e os direitos básicos de vida. Em outras palavras, o refúgio já é muito antigo e vem acompanhado do sentimento de dor. Isso porque, quando uma pessoa é forçada a deixar a sua pátria, ela carrega consigo o sentimento de dor e o desejo de regressar. Muito bem foi definido por Eurípedes, 431 a.C.: “Não tem maior dor no mundo que a perda da sua terra natal”.

IHU On-Line – Quais são as principais causas que fazem as pessoas abandonarem seus países de origem?

Paulo Welter
– As principais causas são provenientes quando o Estado não dá ou já não consegue mais dar proteção ao seu povo. Geralmente, originados nos países por conflitos internos, tais como guerra, perseguição política, racial, de gênero, fome e por desastre da natureza.

IHU On-Line – Trata-se de um problema político internacional?

Paulo Welter
– Nem sempre podemos dizer se tratar de um problema político internacional, pois os países ricos e influentes no mundo restringem a entrada de refugiados e tratam as pessoas como não globalizadas. Eles apenas têm interesse nos lucros e nos negócios internacionais. Normalmente, os países que “produzem” refugiados são proprietários de riquezas naturais, tendo um governo politicamente sem capacidade de gerir suas riquezas, seu povo, além de serem pouco democráticos. Nesse contexto, os países influentes no mundo conseguem dominar e explorar as riquezas dos países subdesenvolvidos ou mesmo miseráveis. A comunidade internacional, através da ONU e de outras organizações, vem há muitos anos desenvolvendo projetos de ajuda humanitária. Graças a Deus que existem tais organizações.

IHU On-Line – É possível estimar a atual população de refugiados no mundo? Em quais países eles mais se concentram?

Paulo Welter
– Talvez seja necessário fazer uma pesquisa sobre a população atual de refugiados no mundo. África é o continente com mais refugiados e deslocados internos. Depois vem a região da Síria e Ásia.

Normalmente, deslocados internos também são tratados como refugiados, o que eleva este número. No aspecto legal e jurídico, apenas pode ser chamado refugiado aquele que é beneficiário do Estatuto de Refugiado. Isso porque um requerente de asilo é uma pessoa com expectativa de se beneficiar deste documento e, certamente, é o requerente de asilo quem mais sofre. Isso acontece devido ao fato de que ele está chegando a um novo país e lhe falta tudo: alimentação, moradia, dignidade. Necessita se adaptar a uma nova cultura, língua e legislação de outro país, sem acesso à saúde e à educação dos seus filhos. Além do mais, vivendo momentos difíceis de adaptação e muitas vezes sendo vítimas dos abusos e desrespeito da sua dignidade. Em outras palavras, precisa ser um herói para sobreviver.

Uma vez beneficiário do Estatuto de Refugiado, a vida começa a melhorar por serem portadores de documentos, podendo iniciar uma vida nova. Psicologicamente, sentem-se melhores acolhidos e, assim, se integram no país de acolhimento. Contudo, os refugiados historicamente, e ainda hoje, continuam sendo vistos como uma massa sobrante de pessoas em qualquer parte do mundo. É uma verdade e uma realidade que não podemos esconder e sim trabalhar cada vez mais para que todas as classes sociais da sociedade tomem conhecimento, e que um dia um novo horizonte venha a despontar na vida das pessoas refugiadas. Esperamos que um dia tudo isso seja passageiro, mantendo viva sempre a chama do retorno ao seu país, ou então a integração definitiva no país de acolhimento.

IHU On-Line – Como é desenvolvido o Serviço Jesuíta aos Refugiados no mundo?

Paulo Welter
– O Serviço Jesuíta aos Refugiados – (JRS, a sigla em inglês) é desenvolvido através de seu Escritório Internacional com sede em Roma, e mais 10 Escritórios Regionais (África = 5; Ásia = 2; Europa = 1; América = 2) e com Escritórios Nacionais em 50 países.

O JRS foi fundado em novembro de 1980 pelo superior Geral dos Jesuítas, Pe. Pedro Arrupe, como sendo uma organização internacional da Igreja Católica. Tem como missão acompanhar, servir e defender as pessoas deslocadas internamente, em particular os refugiados. Segue os princípios da missão dos jesuítas no mundo de promover a justiça, o diálogo com outras culturas e religiões.

IHU On-Line – Qual o papel das Igrejas para com os refugiados, repatriados e deslocados?

Paulo Welter
– As Igrejas vêm, ao longo de muitos anos, auxiliando no acolhimento dos refugiados e imigrantes, pois uma das maiores dificuldades que estas pessoas enfrentam é o acolhimento, e, logo em seguida, dificuldades de fazer os encaminhamentos junto às autoridades do governo para conseguir seus documentos. Devido ao medo e à insegurança, sem conhecer primeiramente ninguém, são nas Igrejas que tais pesssoas estabelecem o primeiro vínculo de confiança.

Em suas trajetórias de fuga, alguns chegaram ao seu destino e encontram em Deus a força e a segurança para continuar acreditar em dias melhores. Por mais que alguém se diga ateu, na hora do perigo, se lembra de um ser superior chamado Deus. Também as Igrejas dão muita credibilidade, e com mais facilidade é possível promover campanhas de ajuda. As Igrejas têm boas lideranças que se colocam à disposição para ajudar nos serviços de acolhimento. Por parte do governo, esse processo sempre é mais demorado, e são as Igrejas que iniciam e promovem a rede de solidariedade.

IHU On-Line – Como o tema é abordado pela comunidade internacional? Em que países a situação dos refugiados é mais complicada?

Paulo Welter
– A comunidade internacional, através da ONU e especialmente pelo Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados – ACNUR, trata estes temas com muita seriedade, pois afetam a segurança mundial. Ela procura manter o controle sobre as crises humanitárias no mundo.

Os países mais complicados no momento me parecem ser os do Oriente Médio, como a Síria, e na África, o leste da República Democrática do Congo, na região do Kivu Norte.

IHU On-Line – Como podemos perceber o “rótulo” de refugiado em tempos de globalização?

Paulo Welter
– No mundo globalizado jamais será possível entender a existência de pessoas refugiadas. Falta globalizar o ser humano. Mas isso será muito difícil, uma vez que, nesse processo de globalização, faltam valores éticos necessários no relacionamento de respeito entre as pessoas. Parece-me ser muito difícil a globalização sem valores humanos e sem união entre as pessoas. Assim sendo, o “rótulo” continuará nas pessoas refugiadas, muitas vezes vistas e reconhecidas como sem valor, como a massa sobrante da sociedade. Devemos nos preocupar em mudar este tratamento e proporcionar aos refugiados dignidade como pessoas com valores. Certamente eles têm muito para contribuir com seus conhecimentos e cultura no país de acolhida. Tudo isso é um processo que deverá constantemente ser tratado por parte das autoridades, agentes e pessoas que se dedicam à causa dos refugiados no sentido de fazer com que a sociedade mude o seu procedimento ou o comportamento em relação aos refugiados, atribuindo-lhes valores. Se um dia isso acontecer, poderíamos dizer que a humanidade e os povos estão globalizados.

IHU On-Line – Como foi sua experiência no Serviço Jesuíta aos Refugiados em Angola?

Paulo Welter
– O trabalho em Angola e com o JRS foi muito marcante na minha vida; com ele aprendi a ser mais solidário e a partilhar a vida. Encontrei pessoas boas, próximas e amigas. Sempre fui bem tratado por todos e pelas autoridades do governo de Angola. Em poucas palavras, posso afirmar que foram seis anos especiais em minha. Conheci um pouco do continente africano, sua cultura e seu povo. Guardo com muito carinho todas as pessoas com quem partilhei a vida. Apenas sei que Angola e África marcaram a minha vida e sou grato por esta oportunidade que tive.

IHU On-Line – Qual a atual situação dos refugiados na Angola?

Paulo Welter
– Angola tem uma história muito interessante em relação aos refugiados. Em primeiro lugar, mesmo durante os anos de guerra civil, proporcionou acolhimento e refúgio para inúmeros africanos de outros países, como do Congo, Ruanda, Costa do Marfim, Serra Leoa e outros.
Outro fator positivo é que em Angola os refugiados não foram colocados em campos de refugiados, e sim foram integrados na sociedade angolana. Em alguns casos foram criadas comunidades de refugiados, mas livres e abertas, sem controle, o que ocorre nos campos de refugiados. Isso dá mais dignidade a eles e ajuda na integração no novo país.

Brasil e Angola


Com a vinda da paz definitiva em 2002, Angola está avançado muito na questão de legislação e documentação para os refugiados, buscando integrar os que escolhem seu território como local para refúgio. Ele tem proporcionado acesso à saúde, à escola, à documentação. Dentro das suas possibilidades, oferece vida digna. Em Angola a língua oficial é o português e seu povo pode ser considerado “primo” dos brasileiros. Brasil e Angola mantêm constante troca de experiências sobre como melhorar a legislação e o tratamento dos refugiados. Ele é um exemplo para muitos países africanos referente ao acolhimento e refúgio, e vem se destacando como um país de refência em relaçãos aos refugiados no continente africano.

O Serviço Jesuíta aos Refugiados – JRS continua a sua missão em Angola e oferece diversas atividades de formação, educação, microcrédito, atividades contra a violência, assessoria jurídica etc. Todas elas são desenvolvidas em parceria com o ACNUR, com outras ONGs e com o governo local. O JRS é considerado uma referência muito importante para os requerentes de asilo, refugiados e autoridades.

IHU On-Line – Com seu retorno ao Brasil, como surgiu a ideia de criar o Projeto Pró-Haiti?

Paulo Welter
– A criação do Projeto Pró-Haiti surgiu a partir do grande número de imigrantes haitianos que vinha chegado a cada semana de Tabatinga para Manaus, na Igreja São Geraldo. Esta migração se deu logo após o terremoto em 2010, e a Pastoral do Migrante da Arquidiocese de Manaus, sob a coordenação das irmãs scalabrinianas e dos padres scalabrinianos da Igreja São Geraldo – auxiliados por outras congregações religiosas e o povo amazonense –, prestou os primeiros atendimentos de acolhimento, o que incluía principalmente alimentação e moradia. Quero ressaltar o importante trabalho das autoridades do governo que proporcionaram a documentação, como o CPF e a Carteira de Trabalho. Destacaram-se a Polícia Federal e o Ministério do Trabalho. Logo que os haitianos tinham sua documentação, muitas empresas contrataram de imediato esta mão de obra, principalmente na construção civil na cidade de Manaus. Em seguida despertou o interesse de muitos empregadores de São Paulo e do sul do Brasil, que contrataram trabalhadores haitianos.

Pró-Haiti

Como a demanda era muito grande e a Igreja São Geraldo não conseguia vencer todos os atendimentos, os jesuítas resolveram somar forças e criaram o projeto Pró-Haiti em fevereiro de 2012. Até esta data os jesuítas na região amazônica não tinham quase nenhuma participação concreta. Eu pessoalmente participava das reuniões da Pastoral do Migrante e pouco poderia fazer de concreto por parte dos jesuítas, uma vez que falta definir o que e como integraríamos a “rede de solidariedade em favor dos imigrantes haitianos” na região amazônica e Brasil.

Após uma reunião, ficou estabelecido que o Pró Haiti auxiliaria não no acolhimento, mas sim na área profissional e no encaminhamento da documentação junto às autoridades, oferecendo aulas de português, assessoria jurídica, artesanato, banda de música, tradução de crioulo para português. Este último era particularmente necessário porque poucos haitianos falavam ou entendiam português.

Portanto, foi assim que surgiu o projeto Pró Haiti: para somar forças e prestar um trabalho profissional e específico. A equipe é integrada com pessoas qualificadas em atender às necessidades dos haitianos, e se tornou um espaço de encontro e partilha dos seus sofrimentos e anseios de vencer na vida.

IHU On-Line – Como tem sido a aceitação do projeto por parte da Igreja e que tipo de apoio tem recebido dela?

Paulo Welter
– O projeto Pró-Haiti, por parte da Igreja Católica e outras Igrejas, foi e continua sendo um projeto de respeito por conduzir de forma profissional, ética e transparente as suas atividades e missão. Para isso, é fundamental ter uma equipe com a devida qualificação e que faça o trabalho com amor e compaixão, ou seja, sempre se colocando nos sapatos do haitiano que está longe de sua terra natal e necessita de pessoas que realmente orientem de acordo com a legislação brasileira. A Igreja Católica, através da Caritas, dos scalabrinianos, dos capuchinhos e de outras congregações de freiras, demostrou o melhor carinho por este projeto.

A Igreja de Manaus proporciou apoio financeiro através da Caritas Diocesana e dos jesuítas do sul do Brasil. O superior geral dos Jesuítas, sediado em Roma, também proporcionou ajuda financeira. Igualmente recebemos mais apoio de um doador espontâneo, de São Paulo, e um de um grupo de italianos, que fizeram campanhas de roupas e enviaram alguns valores.

IHU On-Line – Qual o significado desse trabalho para os imigrantes, que muitas vezes chegam aqui no Brasil sem perspectivas e sofrem muita discriminação?

Paulo Welter
– Esta pergunta deveria ser respondida por algum haitiano. Mas sei o que os haitianos partilharam no Escritório do Pró-Haiti. Vinham e agradeciam pela assistência recebida e afirmaram inúmeras vezes que não saberiam como seria a vida deles se não tivessem recebido o apoio jurídico e o auxílio para o encaminhamento de seus documentos. O Pró-Haiti se tornou um segundo lar para eles. Um lugar para partilhar a vida e resolver os problemas de forma profissional nas mais diversas áreas. Encontram sempre no Pró-Haiti um ombro amigo e seguro.

IHU On-Line – Três anos depois do terremoto que atingiu o Haiti, como o senhor vê a postura do Brasil em relação aos imigrantes?

Paulo Welter
– O Brasil, como mais alguns países, tem uma postura positiva e inovadora em relação aos imigrantes haitianos, vítimas do terremoto. O Brasil foi obrigado a atender uma demanda de imigrantes haitianos sem a devida legislação. Os haitianos simplesmente resolveram migrar para Brasil de diversas formas, em busca de melhores condições de vida. Tabantinga e Manaus foram as cidades que mais receberam haitianos no país, seguidas de Brasileia, no Acre.

O Ministério da Justiça, através do Conare, da Polícia Federal e do Ministério do Trabalho e Emprego, encontrou uma solução importante no sentido de proporcionar a documentação necessária para que os haitianos vivessem e trabalhassem legalmente no Brasil; isso se deu mediante o visto humanitário. Está decisão possibilitou a contratação de muitos imigrantes, gerando oportunidade para eles e para as empresas.

IHU On-Line – O senhor trabalhou com os haitianos que chegaram ao país nos últimos dois anos, através do projeto Pró-Haiti. Como ocorreu o ingresso deles no Brasil e o que relatam sobre a atual situação do seu país de origem?

Paulo Welter
– Inicialmente, o ingresso dos imigrantes haitianos no Brasil foi quase todo feito de forma ilegal. Mas eles se apresentaram às autoridades solicitando o refúgio. Num primeiro momento, as autoridades brasileiras não estavam preparadas e tampouco havia uma legislação que orientasse a Polícia Federal como proceder. A grande dúvida era se classificavam os haitianos como refugiados ou imigrantes.

Em janeiro de 2012, o Ministério da Justiça resolveu legalizar todos os haitianos que estavam no Brasil, na intenção de impedir o tráfico de pessoas através de redes organizadas internacionalmente. Mesmo assim, continuaram entrando haitianos em Brasileia, no Acre, e Tabatinga, no Amazonas. O Brasil novamente cedeu, em virtude da ajuda humanitária, e legalizou estes imigrantes haitianos. Os vistos aos haitianos que desejam migrar para o Brasil são concedidos somente pela Embaixada do Brasil no Haiti, com um limite de 100 vistos por mês. No momento, esta regra também já não é mais considerada, e os vistos podem ser superiores a 100 por mês e tais adaptações se fazem necessários na legislação.

IHU On-Line – Muitos haitianos, após chegarem ao Amazonas e Acre, imigraram para outros estados, entre eles o Rio Grande do Sul. Qual a situação deles no estado e em que regiões estão localizados?

Paulo Welter
– Os haitianos, após terem sua documentação para trabalhar, migraram para outras regiões do Brasil. Entre estas se destacam São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

No Rio Grande do Sul, podemos encontrar haitianos quase em todas as cidades, graças à divulgação dos meios de comunicação, que despertaram a sensibilidade e o interesse de empresas do sul. No estado, os haitianos moram em Estrela, Lajeado, Encantado, Marau, Paraí. Há um bom número de imigrantes trabalhando em diversas outras cidades da serra gaúcha, como também em Sarandi, Igrejinha e Gravataí. É importante destacar ainda que o Rio Grande do Sul deu um passo importante através do governo, no sentido de criar o Fórum Permanente no final do ano de 2012, que envolve a sociedade civil e o governo.

IHU On-Line – Quais os desafios para pensar a questão dos imigrantes e dos refugiados nos dias de hoje?

Paulo Welter
– A vida é feita de desafios e buscas de melhores condições para se viver. Para os imigrantes e refugiados estes desafios sempre são urgentes e quase imediatos, pois a vida está em perigo e precisam encontrar uma solução. As organizações internacionais e nacionais apontam como desafio a possibilidade de proporcionar soluções duradouras e projetos que ofereçam oportunidades aos migrantes e refugiados. Dar comida é algo imediato e, em muitos casos, é disso o que mais necessitam tais pessoas. Mas não se pode dar comida por muito tempo, especialmente quando a demanda é grande. Encontrar atividades e projetos com soluções duradoras é, portanto, o grande desafio.

IHU On-Line – Qual a relação entre direitos humanos e refugiados? O que diz a legislação internacional para com as populações de refugiados e repatriados?

Paulo Welter
– Os direitos humanos e refugiados têm uma relação muito próxima, pois a vida de seres humanos, no caso os refugiados, tem seus princípios fundamentais violados ou ameaçados.

A legislação internacional é clara em relação aos refugiados e repatriados. Podemos afirmar que ela foi bem elaborada. Porém, difícil é cumprir esta legislação. Sempre se depende de muitos outros fatores não previstos nela, tais como o afeto à sua família e à pátria, imprevistos e novos conflitos, a questão financeira, o acesso à terra, ao trabalho, à documentação etc. Por isso os envolvidos que trabalham diretamente com uma população refugiada precisam ter qualificação para trabalhar de maneira criativa, atendendo às necessidades dos refugiados e repatriados.

IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?

Paulo Welter
– Com o expressivo número de haitianos no sul do Brasil, e a necessidade constante de renovação de seus passaportes, eles precisam de orientações concretas sobre encaminhamentos de documentos via consulado e ou Embaixada. É preciso defender seus direitos e proporcionar uma vida mais digna e segura.

Na cidade de Feliz foi atropelado um haitiano que morreu na hora ao ser atingido por um motorista brasileiro bêbado. Ele foi enterrado em Feliz, mas quem acompanha seus dois filhos no Haiti e o processo de crime no Brasil? Como fica tudo isso? A maioria dos haitianos homens que está no Brasil deixou sua esposa e filhos no país de origem, e agora desejam fazer a unificação familiar, direito previsto aos haitianos na legislação. Todavia, não há assistência e os encaminhamentos são feitos em São Paulo ou Brasília. Por isso, proponho que, urgentemente, seja instalado no Rio Grande do Sul um subescritório consular do Haiti para atender à demanda dos imigrantes que vivem aqui.

Por último, foi e continua sendo muito bom poder ajudar os imigrantes haitianos no Brasil, e gostaria de agradecer a todas as pessoas e empresas que ajudam, formando assim uma grande rede de solidariedade e proporcionando dignidade ao povo haitiano.

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