6 de setembro de 2015 - 0h00
Haitianos no Brasil. O SERVIÇO VOLUNTÁRIO PRÓ HAITI foi um projeto desenvolvido pelos jesuítas do Brasil na cidade de Manaus em 2011, 2012, 2013. Atualmente, permanece o blog para consultas, informações e contatos. O Haiti foi devastado em 2010 por um terremoto que vitimou muitas pessoas. "Não há maior dor no mundo que a perda de sua terra Natal" (Eurípedes, 431 a.C.) É muito importante promover e proporcionar trabalho aos haitianos. A SUA ATITUDE FAZ A DIFERENÇA!
terça-feira, 29 de setembro de 2015
terça-feira, 8 de setembro de 2015
Informação 08-09-2015
PUBLICADO EM 08/09/15 - 03h00
RAFAEL ROCHA
ESPECIAL PARA O TEMPO
Com a voz embargada, o desespero estampado no rosto e sem falar português, o haitiano Ifrène Ménéas, 41, não tem a quem recorrer. Sem saída, ele pede socorro durante a entrevista. “Tem como você me ajudar?”, diz. Demitido em julho de uma fábrica de refrigerantes, o imigrante, ao conversar com a reportagem de O TEMPO, havia acabado de ser informado de que a empresa onde trabalhou durante 11 meses na região metropolitana da capital lhe tinha dado um calote e não havia previsão para pagar sua rescisão contratual: o fim de um sonho.
Diante da falta de perspectiva com a crise econômica no Brasil – que elevou o preço do dólar e reduziu a oferta de empregos – a vontade dele, como a de muitos dos cerca de 4.000 haitianos que vivem na região metropolitana de Belo Horizonte, é a de voltar para casa. O problema é que a situação para os imigrantes está tão difícil que muitos nem sequer têm dinheiro para comprar a passagem de volta, em torno de R$ 4.000.
No Brasil há um ano, Ifrène, que só fala crioulo – idioma oficial do Haiti –, não tem ideia de como vai conseguir dinheiro para custear a escola dos filhos de 9 e 15 anos, que estão no país de origem. “Ele não gosta mais do Brasil, pois está difícil arrumar emprego. Como vai pagar o aluguel?”, pergunta Sandy Gaston, 34, primo de Ifrène, que traduz para o português a angústia do familiar.
Quando conversaram com a reportagem de O TEMPO, Sandy e Ifrène estavam no Centro Zanmi, entidade que proporciona atendimento a imigrantes e a refugiados em situação de risco – a maioria haitianos –, no centro da capital. Eles eram orientados por um advogado voluntário da organização que os havia informado sobre o calote trabalhista sofrido por Ifrène. “Estou com saudade demais dos meus filhos”, desabafa Sandy, passando a mão na cabeça com inquietação.
Segundo Sandy, que trabalha como auxiliar de separação, ele também não consegue mais enviar os US$ 100 mensais para alimentar os três filhos de 3, 4 e 7 anos, como fazia antes da disparada da moeda norte-americana, cotada na última sexta-feira a R$ 3,84. Para ele, morar no Brasil não vale mais a pena, ainda que confirme a dura realidade de seu país, em profunda crise política e com poucas oportunidades de emprego. “Lá o governo é ladrão, e as empresas são quebradas. Aqui foi bom nos primeiros seis meses, mas, depois que o dólar aumentou, piorou”, diz.
A sala da entidade de apoio a imigrantes tem ficado movimentada, e a cadeira na mesa da funcionária Dayane Carvalho, 21, responsável pela acolhida, é disputada. Diariamente ela é testemunha das dificuldades encontradas pelos imigrantes, que vivem em sua maioria nas cidades de Contagem e Esmeraldas, e confirma o interesse de grande parte em retornar à pátria. “Alguns brasileiros cobram preços abusivos de aluguel dos haitianos”, afirma.
Saúde. Não bastasse isso, os imigrantes muitas vezes têm dificuldades até de acesso à saúde. “Até remédio para febre e dor de cabeça já negaram”, conta Rony Jerome, 25, que é dono de um comércio. Ele está no Brasil desde 2009.
A situação de Wesnaíder Joseph, 26, é igualmente dramática. Há dois anos no Brasil, ele perdeu o emprego num supermercado em abril e, em vez de mandar dinheiro para a família, agora precisa contar com a ajuda financeira da mãe para se manter no bairro São Pedro, em Esmeraldas. “Minha mãe pensou que eu viria para melhorar de vida, mas agora ela que manda dinheiro pra mim, pois eu não consigo pagar aluguel. Assim fica ruim”.
Destruição
Pobreza. Em 2010, um terremoto atingiu o Haiti e deixou o país em situação calamitosa. Mais de 200 mil pessoas morreram e 1 milhão ficaram desabrigadas. Porto Príncipe, a capital, foi destruída.
Lan house que presta assistência corre risco de falir
Resolver problemas de haitianos tem virado a especialidade de Rony Jerome, 25, dono de uma pequena lan house no bairro São Pedro, em Esmeraldas, na região metropolitana de Belo Horizonte. É ele quem socorre quando seus compatriotas, que não dominam o português, precisam resolver demandas cotidianas, como fazer ligações telefônicas ou ir ao posto médico. Como vários de seus colegas foram demitidos dos empregos, seu negócio pode estar com os dias contados. “Os haitianos pedem para fazer fiado. Como eu vou ajudá-los se eu também estou precisando de ajuda?”, questiona.
Lan house que presta assistência corre risco de falir
Resolver problemas de haitianos tem virado a especialidade de Rony Jerome, 25, dono de uma pequena lan house no bairro São Pedro, em Esmeraldas, na região metropolitana de Belo Horizonte. É ele quem socorre quando seus compatriotas, que não dominam o português, precisam resolver demandas cotidianas, como fazer ligações telefônicas ou ir ao posto médico. Como vários de seus colegas foram demitidos dos empregos, seu negócio pode estar com os dias contados. “Os haitianos pedem para fazer fiado. Como eu vou ajudá-los se eu também estou precisando de ajuda?”, questiona.
Jerome conta que muitos haitianos ainda pensam que vão conseguir melhorar de vida no Brasil. “As pessoas no Haiti não sabem que o Brasil está ruim. Eu mesmo não estou conseguindo pagar minhas contas”, lamenta o comerciante, que, fanático por futebol, diz ter como frustração nunca ter conseguido ir ao Mineirão.
Há um ano e meio no país, o pedagogo Phanel Georges, 29, é outro desapontado. Sem conseguir alunos para dar suas aulas de francês, ele teve que trabalhar em uma fábrica de gavetas para continuar a ajudar a mãe e três irmãs, que moram no Haiti. “Pensávamos que só em nosso país havia pobreza e mendigos. Achei que sair de lá daria para ganhar um pouquinho melhor, mas até agora não deu certo. Até evito conversar com elas para não sentir essa dor.
Informação 07-09-2015
Edição do dia 07/09/2015
07/09/2015 13h48 - Atualizado em 07/09/2015 15h46
Atualmente, o Brasil abriga 50 mil haitianos refugiados.
No Brasil, mais de 50 mil haitianos refugiados vieram por conta do caos que se instalou no Haiti depois dos terremotos de cinco anos atrás. A maioria veio em busca de emprego e agora está sofrendo com a crise. Em Mato Grosso, tem haitiano que já está desempregado há mais de um ano.
Em Cuiabá, que faz a ponte entre empregador e empregado, eles são maioria. Haitianos em busca de trabalho.
"Eles com uma situação que não é estável no país. A gente fica preocupado porque eles precisam ter esse ganho para sobrevivência e eles tem uma preocupação muito grande também que é mandar dinheiro para as famílias no Haiti", fala Marilete Girardi, auditora fiscal do trabalho.
Só em Mato Grosso há cerca de cinco mil haitianos. Um terço deles está sem emprego. Muitos vieram para trabalhar nas obras para a Copa do Mundo de 2014. Com as obras paradas em Cuiabá, o centro da cidade está cheio de haitianos buscando alternativas na informalidade.
No local onde funciona um centro de apoio aos haitianos, eles costumavam ficar em média durante um mês. Neste ano, já tem haitiano ficando três ou quatro meses e não consegue se manter sozinho.
Eles estão dependendo de doações. Uma mulher trabalhou como pedreira nas obras da Arena Pantanal. Há um ano sem trabalho, saiu do abrigo, mas vem todo o dia para comer. "Eu falou com meu filho no Haiti e choro todo dia, porque não consigo mandar dinheiro", diz uma haitiana.
Uma panificadora da cidade tem dado preferência para contratar os haitianos. Já são 32 funcionários. O gerente diz que, além da questão social, a dedicação deles tem feito diferença.
"Merecem essa chance. É um povo sofrido. Um povo que vem com muita vontade de trabalhar", diz Valter Yamagushi, gerente da padaria.
07/09/2015 13h48 - Atualizado em 07/09/2015 15h46
Haitianos enfrentam dificuldades para conseguir emprego no Brasil
Atualmente, o Brasil abriga 50 mil haitianos refugiados.
Em Cuiabá, alguns estão na fila do emprego há mais de um ano.
Alex Barbosa Cuiabá, MT
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No Brasil, mais de 50 mil haitianos refugiados vieram por conta do caos que se instalou no Haiti depois dos terremotos de cinco anos atrás. A maioria veio em busca de emprego e agora está sofrendo com a crise. Em Mato Grosso, tem haitiano que já está desempregado há mais de um ano.
Em Cuiabá, que faz a ponte entre empregador e empregado, eles são maioria. Haitianos em busca de trabalho.
"Eles com uma situação que não é estável no país. A gente fica preocupado porque eles precisam ter esse ganho para sobrevivência e eles tem uma preocupação muito grande também que é mandar dinheiro para as famílias no Haiti", fala Marilete Girardi, auditora fiscal do trabalho.
Só em Mato Grosso há cerca de cinco mil haitianos. Um terço deles está sem emprego. Muitos vieram para trabalhar nas obras para a Copa do Mundo de 2014. Com as obras paradas em Cuiabá, o centro da cidade está cheio de haitianos buscando alternativas na informalidade.
No local onde funciona um centro de apoio aos haitianos, eles costumavam ficar em média durante um mês. Neste ano, já tem haitiano ficando três ou quatro meses e não consegue se manter sozinho.
Eles estão dependendo de doações. Uma mulher trabalhou como pedreira nas obras da Arena Pantanal. Há um ano sem trabalho, saiu do abrigo, mas vem todo o dia para comer. "Eu falou com meu filho no Haiti e choro todo dia, porque não consigo mandar dinheiro", diz uma haitiana.
Uma panificadora da cidade tem dado preferência para contratar os haitianos. Já são 32 funcionários. O gerente diz que, além da questão social, a dedicação deles tem feito diferença.
"Merecem essa chance. É um povo sofrido. Um povo que vem com muita vontade de trabalhar", diz Valter Yamagushi, gerente da padaria.
terça-feira, 4 de agosto de 2015
Noticia 03-08-2015
Brasil aumenta emissão de vistos e deve continuar a receber os haitianos
Anderson Vieira | 03/08/2015, 15h32 - ATUALIZADO EM 04/08/2015, 09h18Geraldo Magela/Agência Senado
Evitar que os haitianos caiam nas mãos de traficantes e coiotes é uma das maiores preocupações do Ministério das Relações Exteriores. Por isso, o Brasil iniciou um processo para acelerar a emissão de vistos na Embaixada brasileira em Porto Príncipe. A situação dos imigrantes foi tratada em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) nesta segunda-feira (3).
Segundo o embaixador Carlos Alberto Simas Magalhães, subsecretário-geral das Comunidades Brasileiras no Exterior, a emissão de visto permanente de caráter humanitário em Porto Príncipe saltou de 600 para 1.800 por mês desde o início de junho.
— É preciso que a população se convença de que a rota legal é a melhor alternativa. Desde 8 de junho, são 470 vistos por semana. É preferível esperar um ou dois meses e conseguir visto no consulado brasileiro do que cair nas mãos de coiotes — alertou o embaixador.
O representante do Itamaraty garantiu ainda que o Brasil não vai mudar sua política de acolhimento aos imigrantes e disse que o fluxo migratório não deve assustar o país.
— O Itamaraty continuará prestando essa assistência, continuará concedendo os vistos enquanto prevalecer a atual política de caráter humanitário, que não tem perspectiva de terminar, a curto prazo — assegurou o embaixador, para quem existem hoje no Brasil entre 60 mil a 70 mil haitianos, mais do que os 50 mil oficialmente estimados.
Violações
Embora tenham reconhecido o acolhimento humanitário do Brasil a seus conterrâneos, os haitianos Alix Georges e Fedo Bacourt reivindicaram melhores condições nos abrigos, mais atenção dos governos estaduais e das prefeituras, além de denunciarem o desrespeito de muitas empresas à legislação trabalhista.
Eles reclamaram também de violações de direitos humanos da força militar internacional presente no Haiti e defenderam a retirada dos militares do país.
— Não precisamos de 9 mil estrangeiros. O Haiti não é um país violento e não tem guerra civil que mereça a presença de militares — reclamou Alix Georges.
O coordenador-geral do CSP-Conlutas, José Maria de Almeida, disse que é crescente o número de casos de haitianos sendo submetidos a condições de escravidão em empresas brasileiras.
— Temos muitos picaretas que, na tentativa de aumentarem seus lucros, se aproveitam da vulnerabilidade dos estrangeiros e os obriga a trabalhar em condições inaceitáveis para um trabalhador brasileiro — lamentou.
José Maria de Almeida sugeriu que o dinheiro gasto pelo governo brasileiro para manter militares no Haiti seja empregado, por exemplo, na melhoria dos abrigos.
— Um país das dimensões do Brasil não pode assegurar um abrigo minimamente decente em São Paulo? Não temos dinheiro para isso nesse país? — indagou.
Reconhecimento
O senador Jorge Viana (PT-AC) disse que, apesar de todas as dificuldades, o governo do Acre tem feito um “trabalho extraordinário” com os haitianos que chegam ao estado, oferecendo alojamento, atendimento médico, comida e assistência social. Apesar disso, segundo ele, o feito não é reconhecido pela imprensa.
— Acho um desrespeito, pois a imprensa noticia apenas como se o Acre estivesse importando imigrantes e os distribuindo para Sul e Sudeste para incomodar prefeitos e governadores. Na verdade, o trabalho humanitário feito pelo governo é extraordinário — afirmou.
O parlamentar disse ainda que só quem conhece ou esteve no Acre tem a dimensão da dificuldade que é receber tanta gente necessitada de ajuda num curto espaço de tempo:
— Estamos lidando com um problema que é de todos. Que estado está preparado para receber 40 mil imigrantes em três anos? O Acre recebeu e não houve nenhum elogio, pelo contrário, só críticas — lamentou.
Conforme o secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, se não tiver problema com a documentação, cada hatiano fica no Acre, em média, por 15 dias.
Segundo ele, o número de haitianos que chegam de forma irregular está diminuindo, mas o governo ainda tem desafios, como assegurar dinheiro para melhorar a estrutura física do abrigo e melhorar a inserção social do imigrante e até a comunicação, visto que não há sequer um profissional para fazer a tradução.
O abrigo pode atender 150 pessoas, hoje são 300, mas já chegou a ter mais de 1.100 imigrantes.
A audiência desta segunda-feira da CDH foi presidida pelo senador Paulo Paim (PT-RS). Também participaram o secretário Nacional de Justiça, Beto Vasconcelos; o secretário nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Roberto Martins Maldos; o coordenador do Conselho Nacional de Imigração do Ministério do Trabalho e Emprego, Luiz Alberto Matos dos Santos; e a irmã Rosita Milesi, da Arquidiocese de Campinas e diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
quinta-feira, 23 de julho de 2015
Informação: 19-07-2015
Edição do
dia 19/07/2015
19/07/2015
22h33 - Atualizado em 19/07/2015 22h33
Imigrante diz que muitos
brasileiros consideram haitianos como escravos
Professor de matemática no Haiti só conseguiu
emprego de operário. Fantástico entrevista imigrantes para saber o que eles
esperam do futuro.
Nesta
semana, uma cena chamou a atenção do mundo para o drama de meninos e meninas
que vivem como refugiados. Aconteceu durante um encontro da chefe de governo
alemã Angela Merkel com jovens estudantes.
Uma das
meninas contou que vive há quatro anos na Alemanha como refugiada palestina. Ela
sonha em estudar em uma universidade, mas agora a família dela enfrenta uma
possível deportação porque não consegue visto de residência
permanente.
Angela
Merkel respondeu que o processo para decidir os vistos é demorado. Mas disse
também que a Alemanha não pode receber todos os refugiados, e alguns terão que
retornar a seus países. De repente, Angela Merkel percebeu que suas palavras
tinham feito a menina chorar. Ela foi até lá e tentou consolar a pequena
imigrante, a menina que não pode sonhar.
E no
Brasil? Com o que que sonham os pequenos imigrantes? O que podem esperar, por
exemplo, milhares de meninos e meninas de famílias que fugiram do Haiti e vivem
agora em nosso país?
Os filhos
a tiracolo, a mala na cabeça e, sobre as costas, o peso imenso de uma tragédia.
“Eu posso ficar e passar o dia inteiro sem comer, mas ver meu filho sofrendo,
ver minha mãe sofrer. Era muito duro pra mim quando eu vi essas pessoas
sofrendo”, conta o técnico em refrigeração Cris Philome.
Depois do terremoto de 2010, que matou 230 mil pessoas e deixou 1,5 milhão de desabrigados, 56 mil haitianos já emigraram para o Brasil, segundo o Ministério da Justiça. A maioria entra no país pelo Acre e segue de ônibus para os estados do Sul e do Sudeste.
Depois do terremoto de 2010, que matou 230 mil pessoas e deixou 1,5 milhão de desabrigados, 56 mil haitianos já emigraram para o Brasil, segundo o Ministério da Justiça. A maioria entra no país pelo Acre e segue de ônibus para os estados do Sul e do Sudeste.
Cris foi
dos primeiros a chegar, em 2010. Trouxe a mãe com ele, mas não deu tempo de
salvá-la das sequelas da fome. “Quando ela morreu, eu senti muita dor. Aí eu
nem conseguia trabalhar naquela época”, relembra.
Buscou
ajuda na missão paz, em São Paulo, por onde passam mais de 20% dos
haitianos que entram no Brasil. A instituição tenta ajudar os imigrantes que
chegam em número cada vez maior. “Em 2010, aqui na missão paz, chegaram os
primeiros 28. Em 2011, chegaram já 70. Em 2012, passaram para 800. Em 2013,
foram 2, 4 mil. Em 2014, 4.680. Este ano, estamos aproximadamente ao redor de
1, 6 mil”, conta o padre Paolo Parise.
Stessy e
o marido tiveram uma filha assim que chegaram. Ela não fala direito o
português. A língua é a grande barreira de adaptação. Os filhos aprendem o
português muito antes dos pais. “A criança que tem esta facilidade, realmente,
para aprender o idioma e se inculturar, ela faz a ponte entre a nova realidade
e o lugar de origem”, explica Parise.
Robert
tem quatro filhas. Professor de matemática no Haiti, em São Paulo, ele conseguiu emprego de operário,
mas não gostou do que viu. “ Encontro muitas injustiças. Muitos brasileiros ou
brasileiras consideram os haitianos, nas empresas, como escravos”, afirma.
A mulher
dele trabalhou seis meses em uma fábrica e foi demitida sem ganhar um tostão.
“Até agora, a empresa não pagou nada a ela”, diz Robert. Sem falar nossa
língua, ela nem sequer conseguiu reclamar com o patrão que a explorou.
Quem
teria o melhor português da família? Elshanaelle tem 7 anos. Foi ela quem
ensinou o pai a falar português.
Robert: Me conta muitas histórias. Sabe
muitas histórias em português.
Fantástico: Ah, é? Você sabe histórias? Você conta para o seu pai?
Elshanaelle: Sim.
Fantástico: Ah, é? Você sabe histórias? Você conta para o seu pai?
Elshanaelle: Sim.
Embora se
sinta discriminado no Brasil, Robert diz que as duas filhas pequenas foram
acolhidas na escola sem problema algum. “Não sabem nada de discriminação. Não
sabem o que é discriminação”, afirma.
Elshanaelle
e a irmã Endesheis, de 10 anos, estudam em uma escola estadual em Guaianazes,
na zona leste de São Paulo. Outros dois meninos haitianos estudam com elas.
Keverns tem 7 anos. O futebol fascina o garoto. No Haiti, a imaginação
inventava a bola que ele não tinha. “Tem pedra em todo chão. Então pega a pedra
no chão e é só chutar. Aí, quando doer, não sei o que fazer. Aqui dá para jogar
com bola”, afirma o menino.
Mas, se
há aprendizado, há também retribuição. “Eu vou ensinar ‘oi’: ‘Salut’”, diz
Elshanaelle.
Mil e
cinco estudantes haitianos já estão matriculados em escolas públicas
brasileiras, 262 só em Santa Catarina. Boa parte deles, na região que
prosperou com a imigração. Blumenau foi fundada por imigrantes
alemães. A escola municipal Lauro Müller tem o nome de um político descendente
de alemães. Quase todas as crianças que estudam vêm de famílias que, no
passado, viveram as privações e dificuldades da adaptação a um país estranho. A
experiência radical do encontro de culturas diferentes está de volta a
Blumenau.
As
colegas que vieram de longe são as estrelas da aula de geografia. De viajar,
Gine entende. Saiu de Les Cayes para a capital, Porto Príncipe. Dali, para o Panamá. Depois, Venezuela. Entrou no Brasil por Manaus. Foi a Brasília e São Paulo, até chegar a
Blumenau, onde encontrou uma escola diferente da que conhecia.
Gine
Saint Louis (10 anos): Aqui faz mais prática.
Fantástico: Mais prática? Você gosta mais?
Gine: sim.
Fantástico: E os coleguinhas? Você fez muitos amigos aqui?
Gine: Sim.
Fantástico: Mais prática? Você gosta mais?
Gine: sim.
Fantástico: E os coleguinhas? Você fez muitos amigos aqui?
Gine: Sim.
Hadassa
Peters, de 11 anos, achou demais ter uma colega poliglota!
Hadassa: Eu pedi para Gine me ensinar a
falar espanhol, porque eu acho incrível. Assim, muito legal.
Fantástico: Ela fala espanhol, fala francês e ainda fala português!
Hadassa: Que é difícil, né?
Fantástico: É difícil. Francês, então!
Fantástico: Ela fala espanhol, fala francês e ainda fala português!
Hadassa: Que é difícil, né?
Fantástico: É difícil. Francês, então!
Sem
contar as novas brincadeiras importadas do Haiti que Eveline ensinou.
Hadassa: Ah, ela é uma menina muito legal,
ela é muito esperta, muito bagunceira.
Fantástico: Bagunceira? Sério?
Hadessa: É sapeca.
Fantástico: Bagunceira? Sério?
Hadessa: É sapeca.
Ótimas
alunas, elas dominaram o português em poucas semanas.
Fantástico: Aprendeu rápido? Sua família
aprendeu também? Seu pai?
Eveline Delvirme, de 11 anos: meu pai aprendeu, minha mãe não conseguiu.
Fantástico: Não conseguiu?
Eveline: Não.
Eveline Delvirme, de 11 anos: meu pai aprendeu, minha mãe não conseguiu.
Fantástico: Não conseguiu?
Eveline: Não.
Eveline,
o irmão mais velho e a caçula moram com os pais na periferia de Blumenau.
Dioufort veio para cá em 2010, logo depois do terremoto. Só pensa agora no
futuro dos filhos.
Dioufort
Delvirme (operário): Eu
trabalho aqui, mas eu ganho pouquinho.
Fantástico: Pouquinho?
Dioufort: Eu vou ver se ela vai ganhar mais.
Fantástico: Estudar para ganhar mais no futuro, né? Se formar na faculdade?
Dioufort: Se formar na faculdade.
Fantástico: Pouquinho?
Dioufort: Eu vou ver se ela vai ganhar mais.
Fantástico: Estudar para ganhar mais no futuro, né? Se formar na faculdade?
Dioufort: Se formar na faculdade.
Ao
contrário do que lhe disseram, Dioufort não encontrou um pingo de resistência
na colônia alemã. “Se tem discriminação, eu não sei”, afirma.
Que o
digam os filhos dele, que já participam da fanfarra alemã, dançando com os
‘fritz’ e as ‘fridas’ da banda. “Nós temos no Brasil essa multiculturalidade,
esse multiculturalismo, que pode ser somado e que pode contribuir muito mais.
Nós não precisamos nos fechar”, afirma a professora Mariana Gonzales.
Nada mais
brasileiro do que abrir-se à mistura e ao que os outros povos podem nos trazer
de bom. “A identidade cultural é dinâmica, feita através de encontros, trocas.
Esse povo, acho que traz o orgulho de se ter libertado da escravidão. Aquele
olhar otimista. Ele sempre vê uma solução. Sempre aposta no futuro”, diz o
padre Paolo Parise.
quinta-feira, 2 de julho de 2015
Uma bela iniciativa. Desejamos sucesso!
Cultura e Lazer
Cultura e Lazer | 2:13 | 22/06/2014
Haitianos montam banda de música em Curitiba
Proposta do grupo Recif é mostrar a cultura haitiana por meio do compas, ritmo mais tradicional do país.terça-feira, 30 de junho de 2015
Informação de SC e ACRE = junho de 2015
Audiência discute situação de imigrantes haitianos e africanos em SC
Audiência foi promovida pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia. FOTO: Miriam Zomer/Agência AL
Falta de documentação e dificuldades com o idioma foram algumas das dificuldades apontadas pelos participantes da audiência pública que discutiu a situação dos imigrantes de países africanos e americanos, em especial do Haiti, que vivem em Santa Catarina, realizada na noite desta quarta-feira (24), na Assembleia Legislativa. O encontro foi promovido pela Comissão dos Direitos Humanos do Parlamento catarinense. Entre as conclusões da audiência, a necessidade de políticas públicas que atendam os imigrantes, a revisão da Lei do Estrangeiro e o melhor planejamento das ações voltadas à recepção dos imigrantes por parte do poder público.
“Nosso objetivo com essa audiência é apontar caminhos para garantir que os imigrantes tenham acesso a direitos básicos, como trabalho, moradia, saúde, educação, e que também não sejam vítimas de discriminação que alguns setores querem passar”, explicou o presidente da comissão e proponente da audiência, deputado Dirceu Dresch (PT).
Grupos e associações de imigrantes do Haiti e de países africanos, como o Senegal, acompanharam a audiência. Entre os principais pedidos, a disponibilização de documentação para que os imigrantes possam regularizar sua situação no Brasil, a promoção da cultura haitiana e a convalidação de diplomas estrangeiros. “O Brasil é um país acolhedor e tem várias possibilidades para um estrangeiro. Nosso objetivo é contribuir com o progresso dessa grande pátria, com respeito e paz”, afirmou o presidente da Associação de Haitianos de Florianópolis (Kay Pa Nou), Chery Clarens.
A antropóloga Tanajara da Silva, da Pastoral do Imigrante, apresentou os resultados de um estudo sobre os imigrantes em Santa Catarina. Só neste ano, no estado, foram emitidas mais de 2 mil carteiras de trabalho para haitianos. “Nós temos necessidade inadiável de criar um conselho estadual de apoio ao imigrante, de inseri-los no ambiente escolar, de convalidar seus diplomas”, afirmou Tanajara, que apontou várias outras ações, entre elas a revisão da Lei da Imigração, elaborada ainda durante o regime militar.
A representante da Cáritas Brasileira, Fabiana Gonçalves, também defendeu mudanças na legislação sobre os estrangeiros. “Foi uma lei que estava preocupada com a segurança nacional, e não com o bem-estar das pessoas que vêm pra cá em busca de melhores oportunidades, que deixam seus países de origem não porque querem, mas porque precisam sobreviver”, destacou.
Mais imigrantes
A secretária de Estado da Assistência Social, Trabalho e Habitação, Angela Albino, revelou que mais imigrantes devem chegar ao estado nos próximos dias. “São 43 ônibus que estão vindo do Acre”, comentou. “Boa parte deles já chega com referência familiar ou de amigos ou com oportunidade de emprego, mas alguns não têm onde ficar”, completou.
A secretária de Estado da Assistência Social, Trabalho e Habitação, Angela Albino, revelou que mais imigrantes devem chegar ao estado nos próximos dias. “São 43 ônibus que estão vindo do Acre”, comentou. “Boa parte deles já chega com referência familiar ou de amigos ou com oportunidade de emprego, mas alguns não têm onde ficar”, completou.
Angela afirmou que a secretaria vai receber os haitianos que chegarem a Florianópolis no ginásio de esportes Capoeirão, a exemplo do que ocorreu no final de maio, quando os primeiros imigrantes do país caribenho chegaram ao estado. A secretária também defendeu a revisão da Lei do Imigrante e a criação de uma política de acolhimento, que atue de forma preventiva.
A deputada Luciane Carminatti (PT) também defendeu a criação de políticas de acolhimento aos imigrantes. “Chama a atenção a dificuldade de humanizar essa relação, de acolhimento, de respeito, de se entender que são seres humanos, independente da cor da pele e da condição social, que estão em busca de melhores condições de vida”, disse.
Luciane citou como exemplo o projeto desenvolvido pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) em Chapecó que oferece vagas em cursos superiores para os haitianos que trabalham na região. A professora Sandra Farias Bordignon, responsável pelo projeto, afirmou que o objetivo é dar visibilidade ao tema e inserir os haitianos no meio acadêmico. “O idioma é a nossa maior barreira”, considerou.
Luciane citou como exemplo o projeto desenvolvido pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) em Chapecó que oferece vagas em cursos superiores para os haitianos que trabalham na região. A professora Sandra Farias Bordignon, responsável pelo projeto, afirmou que o objetivo é dar visibilidade ao tema e inserir os haitianos no meio acadêmico. “O idioma é a nossa maior barreira”, considerou.
Marcelo Espinoza
AGÊNCIA AL
AGÊNCIA AL
Fonte: http://agenciaal.alesc.sc.gov.br/index.php/noticia_single/audiencia-discute-situacaeo-de-imigrantes-haitianos-e-africanos-em-sc
quarta-feira, 24 de junho de 2015
Novos grupos de imigrantes são esperados para o sul do Brasil
Abrigo no Acre está com 400 pessoas, quando capacidade é de 110
Diego Mandarino/ Rádio Gaúcha Serra
Mais imigrantes que chegaram ao Brasil pelo Acre poderão se deslocar ao sul do Brasil. Conforme o coordenador do abrigo de acolhimento mantido pelo governo estadual na capital Rio Branco, Antonio Crispim, o espaço está sendo ocupado por 400 pessoas e a capacidade é de 110. Quarenta pessoas chegam ao local por dia, ou 1.200 pessoas por mês, vindo de ônibus pela cidade de Assis Brasil, na fronteira com Peru e Bolívia:
— Há pouco, um ônibus com 44 pessoas estava chegando — informa.
Grande parte dos imigrantes está dormindo no chão. Segundo Crispim, um novo encaminhamento está sendo feito pelo estado do Acre junto ao Governo Federal para financiar o deslocamento dos imigrantes ao sul do Brasil. Eles são haitianos, dominicanos, senegaleses, ganeses e de Bangladesh. Há uma criança filha de haitianos que nasceu no Equador, durante a viagem. As tratativas do governo acriano ocorrem junto ao Ministério da Justiça.
A maioria quer se deslocar a São Paulo. Outros perguntam onde há emprego. Uma parte passa apenas uma noite no abrigo e no dia seguinte tira o CPF nos Correios, compra passagem e se desloca para outra cidade do país. Outros, no entanto, que não têm dinheiro, ficam até dois meses, afirma o coordenador. Crispim explica que um questionário será feito com os imigrantes que estão no abrigo para que eles informem se há amigos ou conhecidos que já estão no país afim de buscar o melhor destino — isso até 12 horas antes da viagem, para que o poder público possa intermediar a compra de passagens via recursos federais.
Mas o governo do Acre ainda não sabe quando esse convênio vai se concretizar, pois depende de resposta formal do Governo. Nesse caso, haverá articulação com estados e municípios para organizar a recepção dos grupos, garante o coordenador.
A irmã Maria do Carmo dos Santos Gonçalves, do Centro de Atendimento ao Migrante (CAM) de Caxias do Sul, aponta outra situação, confirmada por Crispim: muitos imigrantes compram passagens de ônibus com recursos próprios, escolhendo destinos onde terão trabalho ou uma rede de parentes ou amigos. Como a comunidade de imigrantes já é significativa em Caxias do Sul, e essa rede pode acolher novas pessoas, a procura também é contínua e novos imigrantes chegam diariamente.
Com a situação econômica e menos vagas de emprego na cidade serrana, os novos imigrantes têm mais dificuldade e passam mais tempo sem emprego. No início deste mês, quase 200 imigrantes buscavam emprego na cidade.
Mas Maria do Carmo diz que, apesar da demora, não há falta de trabalho.
— Semana passada duas empresas nos procuraram buscando mão de obra migrante.
Segundo a irmã, trata-se de empresas de cidades menores da Serra onde já não há mais mão de obra. Cerca de 3 mil senegaleses moram em Caxias do Sul e outros grupos significativos vieram à cidade principalmente do Haiti e de Gana.
— Há pouco, um ônibus com 44 pessoas estava chegando — informa.
Grande parte dos imigrantes está dormindo no chão. Segundo Crispim, um novo encaminhamento está sendo feito pelo estado do Acre junto ao Governo Federal para financiar o deslocamento dos imigrantes ao sul do Brasil. Eles são haitianos, dominicanos, senegaleses, ganeses e de Bangladesh. Há uma criança filha de haitianos que nasceu no Equador, durante a viagem. As tratativas do governo acriano ocorrem junto ao Ministério da Justiça.
A maioria quer se deslocar a São Paulo. Outros perguntam onde há emprego. Uma parte passa apenas uma noite no abrigo e no dia seguinte tira o CPF nos Correios, compra passagem e se desloca para outra cidade do país. Outros, no entanto, que não têm dinheiro, ficam até dois meses, afirma o coordenador. Crispim explica que um questionário será feito com os imigrantes que estão no abrigo para que eles informem se há amigos ou conhecidos que já estão no país afim de buscar o melhor destino — isso até 12 horas antes da viagem, para que o poder público possa intermediar a compra de passagens via recursos federais.
Mas o governo do Acre ainda não sabe quando esse convênio vai se concretizar, pois depende de resposta formal do Governo. Nesse caso, haverá articulação com estados e municípios para organizar a recepção dos grupos, garante o coordenador.
A irmã Maria do Carmo dos Santos Gonçalves, do Centro de Atendimento ao Migrante (CAM) de Caxias do Sul, aponta outra situação, confirmada por Crispim: muitos imigrantes compram passagens de ônibus com recursos próprios, escolhendo destinos onde terão trabalho ou uma rede de parentes ou amigos. Como a comunidade de imigrantes já é significativa em Caxias do Sul, e essa rede pode acolher novas pessoas, a procura também é contínua e novos imigrantes chegam diariamente.
Com a situação econômica e menos vagas de emprego na cidade serrana, os novos imigrantes têm mais dificuldade e passam mais tempo sem emprego. No início deste mês, quase 200 imigrantes buscavam emprego na cidade.
Mas Maria do Carmo diz que, apesar da demora, não há falta de trabalho.
— Semana passada duas empresas nos procuraram buscando mão de obra migrante.
Segundo a irmã, trata-se de empresas de cidades menores da Serra onde já não há mais mão de obra. Cerca de 3 mil senegaleses moram em Caxias do Sul e outros grupos significativos vieram à cidade principalmente do Haiti e de Gana.
Fonte: http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/geral/cidades/noticia/2015/06/novos-grupos-de-imigrantes-sao-esperados-para-o-sul-do-brasil-4788062.html
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